Os 4% de intenções de voto do Pastor Everaldo representam, em um universo de 142 milhões de eleitores, uns seis milhões de votos. Se for confirmado nas urnas esse montante, será um crescimento de onze vezes em relação ao alcançado pelo discurso mais de direita 20 anos atrás. Seria um claro alerta de que a direita avança, segundo o jornalista José Casado em sua coluna de hoje no GLOBO. Eis como ele começa o texto:
Está em ascensão uma tendência política tradicionalista em questões morais e sociais, defensora da liberdade individual e do livre mercado. Pode emergir das urnas em outubro sob a bandeira da renovação da democracia cristã, hoje dispersa na geleia partidária brasileira.
Desde o início da disputa presidencial as pesquisas destacam uma organização gestada na harmonia ecumênica entre protestantes e católicos, o Partido Social Cristão. Ele conseguiu escavar e preservar uma trincheira no instável terreno da centro-direita.
Ainda é cedo para saber se o candidato do PSC ficará nessa faixa dos 4% mesmo, ou se vai crescer ainda mais. Também não é possível identificar quanto exatamente tem ligação direta com a fé religiosa. Mas uma coisa é inegável: seu discurso tem sido claro em defesa da redução do estado e do livre mercado, adotando um viés conservador do ponto de vista moral. É a primeira vez em décadas que tal narrativa será testada nas urnas.
Pode não ser pelo melhor representante do conservadorismo, já que o histórico de Everaldo é de apoio ao governo Lula e sua influência foi Leonel Brizola. Talvez isso prejudique a aceitação por parte dos eleitores conservadores. Talvez pareça oportunismo eleitoral, uma oferta criada para preencher uma lacuna na demanda, um nicho não atendido. Mas não deixa de ser um termômetro interessante. Como diz Casado:
A despeito de indivíduos e interesses obscurantistas no jogo eleitoral, o que as pesquisas mostram é a receptividade de parte do eleitorado ao projeto liberal-conservador. Refletem a fermentação em torno de ideias afinadas com o liberalismo econômico e o conservadorismo clássico, mesmo com mofo residual da Guerra Fria.
É saudável para a democracia. E, talvez por isso, a centro-direita tenha virado atração nas livrarias. Editoras nacionais contabilizam recordes sucessivos na impressão de autores locais,com vendas de até cem mil exemplares por título.
A direita precisa mostrar sua cara. Aliás, os partidos em geral precisam assumir de forma mais clara seus programas, pois as diretrizes que enviam ao TSE são recheadas de termos ambíguos que nada dizem, como “sustentabilidade” e “justiça social”. Falta, no Brasil, uma clareza maior de qual linha ideológica o candidato representa. Todos são “pragmáticos” demais.
Por décadas, a política nacional teve uma hegemonia do discurso de esquerda. Há claros ventos de mudança no ar. Mesmo o PSDB, um partido social-democrata de centro-esquerda, tem em Aécio Neves um representante mais à direita, com um discurso mais liberal na economia. Uma democracia saudável precisa ter pluralidade de fato. Onde está nossa Thatcher?
Em minha opinião, são dois os discursos ausentes até aqui: um de viés mais conservador, como o que o Pastor Everaldo agora adota, mas
sem
convencer a todos de sua sinceridade; e outro mais liberal mesmo, tanto na economia como nas questões sociais. No Reino Unido, conservadores e liberais governam em uma coalizão, com a esquerda social-democrata trabalhista e os verdes na oposição.
Vem aí o Partido Novo, com uma mensagem mais liberal, preencher esse vácuo existente hoje no Brasil. O amadurecimento de nossa democracia deveria levar, naturalmente, a uma concentração maior de partidos, acabando com as legendas de aluguel e com essa geleia ideológica sem sentido.
O ideal, do meu ponto de vista, seria ter um partido representando a esquerda social-democrata civilizada, outro representando a opção mais ecológica (sem os xiitas do ecoterrorismo), outro dando voz aos conservadores, e outro falando em nome dos liberais.
A esquerda raivosa e autoritária, como o PSOL e boa parte do PT, seria eliminada pelos próprioseleitores, tornaria-se insignificante por representar um atraso inadmissível em pleno século 21. Que vá defender o socialismo em Cuba!
Para chegarmos lá ainda precisamos avançar muito, amadurecer muito. É sonhar demais? Ora, se tantos sonham com a vitória brasileira sobre a Alemanha hoje, mesmo sem o Neymar…
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