O texto sobre o movimento antidepilação “bombou” hoje, e despertou um interessante debate sobre o que querem as feministas modernas e mais radicais, também conhecidas como “feminazis”. Nunca as vemos lutando, por exemplo, pela igualdade de ter alistamento obrigatório no serviço militar.
Lutar pelo “direito” de não se depilar é moleza, e resta saber quem lhes usurpou tal direito em primeiro lugar. Até a última vez que chequei, nada havia no código legal impedindo pernas cabeludas e buço à lá Sarney.
O que elas parecem não aceitar bem é o direito dos outros de julgar pernas femininas cabeludas um horror, e se expressar de acordo. Se você se mantém irresoluto em sua opinião de que aquilo é medonho, então você é um “preconceituoso”, “machista”, “reacionário” e “neandertal” (e pensei que esses é que talvez apreciassem um pelo em excesso, por falta de alternativa). Como são tolerantes essas feministas…
Mas divago. O assunto me trouxe à memória uma crônica deliciosa de João Pereira Coutinho de 2006, a que abre seu livro de coletâneas Avenida Paulista, que recomendo. É um agradecimento bem-humorado que o gajo faz às mulheres brasileiras, por terem exportado a beleza para Portugal. Seguem alguns trechos:
Digo mais: as mulheres brasileiras fizeram mais por Portugal do que séculos e séculos de permutas acadêmicas, literárias, culturais. O auditório feminista não gosta de ouvir. E confunde uma observação objetiva com segundas intenções. Não existem segundas intenções. Apenas as primeiras. As que ficam. E então acrescento: tempos houve em que “beleza” e “mulher portuguesa” não rimavam na mesma frase.
[...] Atendendo à escassez da espécie, a visão de uma mulher bonita tinha o impacto de um marciano que subitamente aterrava no fundo do quintal. Era um acontecimento. Era um choque. Era um meteorito cruzando os céus, deixando um rastro de fogo nas nossas imaginações carentes e lunares. A “Mulher Bonita” era um ser de contornos mitológicos. Como as fadas. Os duendes. Os esquerdistas inteligentes. O resto era desolador. Rostos fechados. Pernas também. E o clássico bigode, que crescia por desleixo. Como as ervas daninhas de um jardim abandonado.
Tudo mudou. Milhares de brasileiros cruzaram o Atlântico. Milhares de brasileiras também. As ruas de Lisboa e do Porto foram inundadas por um certo calor tropical que deixou os homens assustados e maravilhados em partes iguais. Foi a nossa passagem do cinema mudo para o sonoro. Do preto e branco para a cor genuína. Adultos choravam nas esquinas das cidades, como pobres famintos a quem é oferecido um manjar celestial.
[...] E o produto foi melhorado pela “mão invisível” da competição hormonal. As portuguesas, dispostas a não perder a sua quota de mercado, deixaram que o jardineiro entrasse lá em casa, com tesoura de poda, pronto para cortar a relva florestal. Subiram-se saias. Desceram-se decotes. Os portugueses descobriram, atônitos, que as suas mulheres também tinham formas de mulheres. Conheço casos de amigos que, de um dia para o outro, concluíam que o irmão, afinal, era uma irmã.
[...] Obrigado, Brasil. Um dia alguém irá escrever esta história: a história de como as mulheres brasileiras, cinco séculos depois de Cabral, descobriram, finalmente, Portugal. E de como os portugueses descobriram também as mulheres indígenas que tinham em casa. Sim, essas mulheres. Sim, as nossas mulheres: injustamente perdidas e escondidas na floresta amazônica da frigidez secular.
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