terça-feira, 29 de julho de 2014

Liberdade e responsabilidade são inseparáveis (João Luiz Mauad)


Uma das facetas mais deletérias do coletivismo é a morte da responsabilidade pessoal.  Em sociedades coletivistas, ninguém é responsável pelos seus atos e os erros humanos são vistos não como resultado de escolhas livres e conscientes, cujas conseqüências devem ser suportadas pelo agente, mas como imposição de alguém mais poderoso, quando não da sociedade inteira.
Infelizmente, a coletivização está em andamento até mesmo nas sociedades tidas como mais individualistas e liberais.  Um tribunal da Flórida, nos Estados Unidos, sentenciou recentemente a empresa RJ Reynolds, fabricante de cigarros, a pagar uma indenização superior a 23 bilhões de dólares (sim leitor, você leu certo, são mesmo bilhões de dólares) à viúva de um ex-fumante, morto em 1996, depois de uma longa batalha contra um câncer de pulmão.  Segundo a sentença – que deverá ser recorrida e provavelmente revista, pelo menos em relação aos valores absurdos -, a empresa teria sido negligente em relação à informação de que o fumo causa câncer de pulmão e a nicotina causa dependência.
Não tardará o dia em que as indústrias de bebidas serão responsabilizadas pelo alcoolismo e eventuais cânceres de fígado e estômago.  Por outro lado, as indústrias alimentícias, principalmente as de açúcares, serão responsabilizadas por mortes decorrentes de diabetes, além, é claro, de casos de obesidade e outras doenças causadas pelo consumo de calorias ditas não saudáveis, embora ninguém jamais tenha visto um funcionário dessas empresas apontando armas para a cabeça de algum consumidor a fim de obrigá-lo a consumir algo que não quisesse.  Será que as indústrias automobilísticas brasileiras também serão responsabilizadas por não informarem devidamente aos seus clientes que acidentes de carro podem matar e que, pelo menos aqui no Brasil, essa é uma das principais causas de óbitos não naturais?  Não sei, mas num ambiente coletivista, tudo é possível.
Embora eu não fume há mais de 15 anos, fui um fumante inveterado por mais de 25 e estou perfeitamente consciente dos males que aquele hábito pode ter me causado.  Além disso, apesar de ser uma pessoa bem informada, bebo com alguma freqüência e nunca deixei de consumir uma boa picanha com batatas fritas, biscoitos contendo as famigeradas gorduras poliinsaturadas, além de beber dúzias de xícaras diárias de café.
Agora, me digam: de quem é a responsabilidade por eu consumir tudo isso, senão exclusivamente minha?  Ademais, todos os mal afamados produtos citados existem porque consumidores como eu querem que eles existam. Malgrado muitos indivíduos sejam bastante imprudentes com a própria saúde, são suas vidas que estão em jogo e, portanto, num ambiente de liberdade caberia somente a eles sopesar custos e benefícios.
Infelizmente, acredito que, em pouco tempo, nossas leis serão alteradas para “proteger” as pessoas de si mesmas e dessas empresas “perversas”. Não duvido que, em mais alguns anos, essa trama coletivista acabe tornando ilegais não só os cigarros, mas a cafeína, as guloseimas, os refrigerantes, as bebidas alcoólicas e outros produtos considerados nocivos pelos arautos da dita “saúde pública”.
Embora pouca gente se dê conta, não é por acaso que a negação da responsabilidade individual pela própria vida e bem-estar tornou-se uma das pedras angulares do movimento socialista. Afinal, se as pessoas fossem responsáveis pela própria saúde, não haveria necessidade de uma agenda política para o estabelecimento de uma boa “saúde pública”.
É mais do que evidente que, no contexto atual, a expressão “saúde pública” nada mais é que um eufemismo para “saúde socializada”. E, uma vez que a nossa saúde é socializada, qualquer “mau” comportamento torna legítima a intervenção, o controle e a regulamentação do Estado, sempre, é claro, à custa da nossa privacidade e liberdade.
É por essas e outras que, quando penso no que nos espera daqui para frente, dou “graças a Deus” por já estar ficando velho…

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