“Por pior que seja aos olhos dos outros, nenhum homem consegue suportar uma imagem horrível e repugnante de si mesmo por muito tempo.” (Eduardo Giannetti)Acabo de ver que o ministro Guido Mantega declarou que as empresas brasileiras estão paradas por falta de segurança jurídica. Meu queixo caiu. Fui reler para ver se meus olhos me traíam. Era isso mesmo. O próprio Mantega afirmando que a insegurança jurídica tem prejudicado os investimentos.
Resta uma questão: como ele pode afirmar isso e, ao mesmo tempo, fingir que tal problema nada tem a ver com sua própria gestão na economia? Guardadas as devidas diferenças, seria como se um goleiro frangueiro que acaba de tomar cinco gols por falha própria desse entrevista falando que falta uma defesa melhor em seu time.
Isso tudo me remeteu ao livro Autoengano, de Eduardo Giannetti da Fonseca. Nele, ficamos sabendo do “paradoxo de Stalin”. Ao revisar para a publicação a sua biografia oficial, o ditador ordenou que fosse incluída uma frase mencionando que ele jamais deixou que seu trabalho fosse prejudicado pela mais leve sombra de vaidade, presunção ou idolatria.
Negar dessa forma tão grotesca a vaidade é justamente confessá-la abertamente, aos brados! A questão que fica é se o ditador soviético pretendia enganar de forma deliberada seu público ou se mentia para si mesmo. Normalmente, o hipócrita é mais calculista, medindo os efeitos de seus atos e colocando-se no lugar da vítima, para não errar o alvo. Um absurdo tão flagrante desses parece ser um caso de enorme autoengano mesmo. Mas nunca se sabe!
O autoengano é uma estratégia útil para a sobrevivência e procriação das espécies. Temos inúmeros casos entre os diferentes seres vivos, desde vírus, passando por plantas, animais e, finalmente, o homem. Evidentemente que não faz muito sentido falar em autoengano para animais sem consciência, pois se trata apenas de um mecanismo automático do seu instinto de sobrevivência. Mas a analogia não deixa de ser útil, quando sabemos que uma cobra-coral falsa age como a verdadeira, ainda que sem seu veneno, intimidando os possíveis predadores.
Como diz Eduardo Giannetti: ”O enganador autoenganado, convencido sinceramente do seu próprio engano, é uma máquina de enganar mais habilidosa e competente em sua arte do que o enganador frio e calculista”. O enganador embarca em suas próprias mentiras, e passa a acreditar nelas com toda a inocência e boa-fé do mundo. Assim fica mais fácil convencer os demais.
Só consigo pensar nessa explicação para o comentário de Mantega. Ora, ministro, e por acaso essa insegurança jurídica não tem elo com as excessivas intervenções arbitrárias de seu governo nos diferentes setores? Decide reduzir juros na marra, congelar preços, mudar regras do jogo no meio do jogo, intervir na gestão até de empresas privadas, apelar para malabarismos contábeis, e depois afirma que as empresas estão paradas por falta de segurança? Assim não dá, ministro!
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