Os dois governos garantem que apesar da participação maioritária de companhias estrangeiras, haverá muito conteúdo local. Cameron diz que empresas inglesas, e seus trabalhadores, fornecerão boa parte dos componentes e serviços para a usina que, se tudo der certo, será a primeira de uma nova série. (A Inglaterra foi o primeiro pais a colocar em funcionamento uma usina nuclear civil ─ mas não se constrói uma nova há mais de 30 anos). No Brasil, a presidente Dilma parece bem mais ambiciosa. O petróleo do pré-sal vai “criar” uma nova indústria local, além de garantir boas escolas e hospitais.
Nos dois casos, os governos se baseiam em contas e estimativas que vão longe, para alem de 35 anos, mas parecem muito seguros. Na Inglaterra, Cameron detalha números de criação de empregos ─ 25 mil só na obra ─ e de tarifas. No Brasil, o governo detalha, por exemplo, o dinheiro que será destinado a educação, via royalties: nada menos de R$ 638 bilhões ao longo de 35 anos.
Como se percebe, energia é uma preocupação global e será atendida globalmente, por associações de empresas de diversos países, estatais e particulares. E parece que os chineses estão no amanhecer de muita gente. De fornecedora de produtos baratos, a China vai ocupando o papel de grande potência, já fortemente atuante em energia, de qualquer tipo. Suas companhias estão no petróleo brasileiro (e latino-americano), forcam a entrada na energia nuclear na Inglaterra, onde pretendem ganhar o certificado que abra as portas da Europa, são dominantes no mercado europeu e global de painéis para energia solar, dominam a fabricação de turbinas para captação da energia dos ventos, sabem fazer hidroelétricas há muito tempo, e por ai vão.
Um fato do mundo de hoje e do futuro: a atuação global dos chineses ─ que alguns já descrevem como o novo imperialismo. Será?
A verdade e que isso depende de muitos arranjos econômicos e políticos ainda em andamento no mundo todo. E de como cada país se colocará.
Na Inglaterra, por exemplo, há um grande debate estratégico: será correto retomar as usinas nucleares? Sim, diz Cameron, para manter a Inglaterra como um dos países “mais verdes do mundo”. As regras ambientais por la são tão rigorosas que, no momento, criam dois problemas graves: falta de investimento e tarifas caras. Cameron acha que pode destravar isso com a volta da energia gerada por usinas nucleares, claro, consideradas super-limpas e seguras, nas versões mais modernas.
Mas o debate segue ─ por que não as turbinas eólicas no mar? ─ e tem de passar pelos órgãos de controle europeu, o que indica que ainda há muita conversa pela frente.
Já no Brasil, o governo Dilma se atira no petróleo, puro carbono, mas que ainda se trata da mais eficiente e mais barata, relativamente, fonte de energia. Até quando? Sim, a pergunta vale porque o mundo todo está pesquisando e trabalhando sobre formas variadas de geração de energia. Sem contar as dificuldades tecnologias da exploração do pré-sal.
Acrescentem ai o componente geopolítico e mais as surpresas que a história das inovações sempre apresenta, e se verá como fica difícil estimar preços, segurança de fornecimento e qualidade ambiental quando se pensa na energia daqui a tantos anos.
Claro que os governos devem se ocupar de lançar as bases para o futuro. Ocorre que muitos, ao enfrentarem dificuldades na gestão do presente, se atiram para o futuro, que aceita qualquer projeção.
Para dar só dois exemplos. Na Inglaterra: as tarifas de energia elétrica estão em alta neste mês e subindo mais que a inflação. E Cameron promete preços menores la na frente. No Brasil, já se gasta muito dinheiro na educação, muito mesmo, e os resultados são ruins. Ah! Mas quando vier o dinheiro do pré-sal….
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