Da coluna de João Bosco Rabelo, publicada na seção de Política do jornal O Estado de S. Paulo
A irritação do governo com o diagnóstico negativo do Fundo Monetário Internacional (FMI) para a política econômica brasileira se explica, entre outras razões, pela confirmação que representa das críticas internas – de especialistas e de adversários eleitorais da presidente Dilma Rousseff.O governo ficou só na defesa da mudança que impôs ao modelo adotado por Fernando Henrique Cardoso e mantido por Lula.
O pano de fundo dessa questão é a percepção de agentes econômicos e políticos de que coube a Dilma a condução de uma linha estatizante mais agressiva materializada no intervencionismo gradual que não foi politicamente possível a seu antecessor e padrinho.
Se estaria, assim, vivendo a desconstrução da Carta aos Brasileiros, peça decisiva para a eleição do primeiro governo do PT.
É possivelmente o que explica avaliação corrente de políticos e do mercado, pela qual Lula governou com receituário capitalista e discurso socialista, repetida sempre que se tenta encontrar a razão para a postura desconfiada dos investidores que faltam ao governo Dilma.
Suas sucessivas afirmações de compromisso com as regras de mercado não passam a convicção necessária para reverter a imagem contrária que dela se faz.
Essa vulnerabilidade é a provável causa da censura de Lula ao discurso do presidente do PSDB e pré-candidato à sucessão, senador Aécio Neves, para a comunidade financeira em Nova York, em que se antecipou ao FMI nas críticas à condução da política econômica.
Acusado de vender o pessimismo contra o País, Aécio respondeu dizendo que o fazia contra o governo.
Como não veio só, o diagnóstico do FMI encorpa o descrédito internacional da política econômica do governo brasileiro, registrado mais de uma vez pela revista britânica The Economist e, mais recentemente, pela alemã Der Spiegel.
As críticas têm em comum a rejeição à linha estatizante da gestão Dilma percebida na adoção envergonhada do modelo de privatização, cuja negação revela a verdadeira convicção da presidente em relação à economia.
Pouco adianta, por isso, declarações como a que enxerga xenofobia em críticos petistas do leilão, porque não passam sinceridade e são absorvidas como dissimulação ideológica.
A chamada contabilidade criativa resume a administração de varejo da economia, uma sucessão de emendas que confirma a percepção de que o governo ganha tempo para que a conta de todos os truques só chegue em 2015.
É a mesma corrida contra o tempo que mantém a esperança da oposição e que governo e oposição traduzem como o resultado econômico que possa afetar o que o ex-ministro Delfim Netto chama de bem-estar do cidadão.
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