quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Petrobras: sempre muitas promessas, mas o passado lhe condena (RC)


A maior empresa brasileira, a Petrobras, divulgou seu resultado para o ano de 2013, ligeiramente acima das expectativas do mercado (em parte graças à venda de ativos). A Veja já fez um bomresumo dos cinco itens mais relevantes do balanço. Aqui, pretendo me afastar do curto prazo e tentar analisar sua trajetória nos últimos anos. O objetivo é apreender o “big picture” daquilo que parece uma saga de destruição da estatal.
Em primeiro lugar, devemos ter em mente que a Petrobras é uma empresa de capital misto, sob controle estatal. A União detém mais de 50% do capital votante, mas menos de 30% do capital total. Ou seja, na prática é um acionista minoritário (interesse econômico) com o controle da gestão.
Fonte: Petrobras
Fonte: Petrobras
Surge um primeiro conflito de interesses. Do ponto de vista econômico, o sócio controlador tem menos a perder com a destruição de valor da empresa do que os demais acionistas. Para piorar, o estado lida com o dinheiro da “viúva”, ou seja, todos nós, pagadores de impostos. A tentação de usar a empresa para fins políticos e partidários, em vez de focar na maximização de valor para seus proprietários, fica evidente.
E, de fato, é o que tem ocorrido, principalmente na gestão do PT. As decisões, especialmente no que tange o gigantesco plano de investimentos, não parecem ter caráter eminentemente econômico, e sim político. A Petrobras planeja investir, até 2017, quase US$ 240 bilhões (ou quase US$ 50 bilhões por ano). Seu valor de mercado atual está em US$ 75 bilhões.
Ou seja, a empresa pretende investir mais de 3 vezes o seu tamanho em apenas 5 anos! Trata-se de uma meta extremamente agressiva. Sua geração bruta de caixa está na casa dos US$ 25 bilhões, i.e., muito aquém da necessidade para tais investimentos. Isso quer dizer que o endividamento, já excessivo, continuará subindo.
Fonte: Petrobras
Fonte: Petrobras
Se, no passado recente, a empresa tivesse demonstrado boa capacidade de criar valor com tanto investimento financiado por terceiros, os investidores poderiam até aplaudir metas tão grandes. Mas como a realidade é bem diferente, nada mais natural do que demonstrar extrema desconfiança com esse programa. A saúde financeira da empresa está em xeque.
Basta ver o que tem acontecido até aqui. Em termos de produção, por exemplo. O programa agressivo de investimentos nos últimos anos não se reverteu em aumento algum da produção. Pelo contrário: esta se encontra em queda!
Fonte: Petrobras
Fonte: Petrobras
Em seus planos estratégicos, a estatal assume metas otimistas de produção, e espera chegar a 4 milhões de barris por dia em pouco tempo, ou seja, dobrar sua capacidade atual. Mas como crer nessas promessas quando olhamos o histórico? A empresa falava em crescer até 5% a produção em 2013, e o resultado concreto foi uma redução de 2,5%!
Se a produção não cresce, ao contrário do endividamento líquido, que sobe sem parar, o gasto com pessoal é outro item que tem pesado cada vez mais em seus custos. Já são quase 90 mil funcionários, e a folha de pagamentos não para de subir:
Fonte: Petrobras
Fonte: Petrobras
São R$ 27 bilhões de gasto anual apenas com seus empregados, um aumento de quase 80% em relação a 2009! Isso dá mais de 15% ao ano de expansão no gasto com pessoal, bem acima da inflação. Mais dívida, mais custo com empregados, e menos produção: essa tem sido, até aqui, a história da Petrobras nos últimos anos.
Como efeito disso tudo, incluindo um enorme aumento de capital, o lucro líquido por ação tem desabado. Cada acionista, em outras palavras, ganha cada vez menos por investir seus recursos na empresa e apostar em sua gestão.
Fonte: Petrobras
Fonte: Petrobras
O investidor lucra hoje 50% a menos do que lucrava em 2010! O resultado de tanta coisa negativa é melhor ilustrado na perda de valor das ações. Ou seja, o valor de mercado da Petrobras, o melhor termômetro para avaliar seu verdadeiro valor, pois já incorpora as expectativas de geração de caixa à frente, cai em queda livre.
PETR3. Fonte: Bloomberg
PETR3. Fonte: Bloomberg
Os investidores do Brasil e do mundo todo simplesmente não acreditam mais nas promessas da diretoria da estatal. Hoje mesmo, após a divulgação do “bom” resultado e do novo plano de metas, as ações da estatal estão em queda de quase 1% (no momento em que escrevo).
O que estamos acompanhando é uma triste história de destruição da maior empresa nacional, por responsabilidade de um governo disposto a sacrificá-la em prol de objetivos obscuros ligados à política. São sempre muitas promessas, mas seu passado lhe condena. Quem vai acreditar que o amanhã será diferente?
Rodrigo Constantino

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