“Não é suficiente dizer que a história é juízo histórico, é necessário acrescentar que todo juízo é um juízo histórico ou, simplesmente, história.” (Benedetto Croce)
Quando aqueles dois representantes da tal Mídia Ninja, Pablo Capilé e Bruno Torturra, foram entrevistados pelo programa Roda Viva (comentei aqui), a palavra mais repetida, a ponto de parecer ter sido descoberta por ambos naquele mesmo dia, foi “narrativa”.
A esquerda entendeu algo muito melhor do que a direita: a narrativa histórica faz toda diferença. É ela que vai influenciar a forma que pensamos, nosso juízo atual de valores. Conforme disse Hayek, os mitos históricos têm, provavelmente, desempenhado um papel tão importante na formação de opiniões quando os fatos históricos.
A busca honesta pelos fatos históricos, separando-os dos mitos propagados, torna-se um objetivo indispensável para quem deseja a verdade. Logo de cara, deparamos com a questão delicada sobre quais perguntas merecem ser feitas, já que o julgamento de valor individual influencia até isso.
Aquele que ignora este desafio de interpretação sob a luz de valores pessoais irá provavelmente se iludir, tornando-se vítima de seus próprios preconceitos inconscientes. Quem acredita ser possível reunir diversos fatos passados e então traçar conexões causais dos complexos eventos sociais sem o uso de uma teoria prévia, está fadado ao curso da ilusão.
Explicações “óbvias”, como lembra Hayek, freqüentemente não passam de superstições aceitas, que não recebem a devida reflexão. A imagem de que o surgimento do capitalismo, como sistema descrito pelos socialistas, deveu-se à exploração de uma classe de proletários, pode ser visto como um bom exemplo de tais superstições. Um exame mais cuidadoso dos fatos refutaria facilmente esta crença.
Mas o que acaba prevalecendo são os mitos históricos, com resultados perversos em nossas vidas. O mesmo vale para muitas outras coisas. Os “robber barons” do começo do século 20 nos Estados Unidos, vistos como simples canalhas exploradores; os guerrilheiros comunistas, sedentos por poder e sangue, vistos como almas abnegadas que lutavam por justiça social; o nacional-socialismo de Hitler, visto como algo de direita; e por aí vai.
Toda essa introdução é para falar dessa mania nova latino-americana, mais especificamente bolivariana, de exumar cadáveres. Chávez fez isso com Simon Bolivar, e Dilma faz hoje o mesmo com Jango. Tudo feito com muita fanfarra, com uso e abuso do sensacionalismo, transformado em ópera bufa pelos governantes de esquerda.
Não creio que seja algo inocente, que possa ser simplesmente ignorado. É importante, principalmente como narrativa histórica dos mitos de esquerda. Mais precisamente como tentativa de rescrever a história, com a esquerda posando de vítima, como se a década de 1960 não tivesse a Guerra Fria, com comunistas financiados pela KGB para instaurar a ditadura vermelha na América Latina.
A Comissão da Verdade serve exatamente a este propósito. Devido a esse claro viés, seria mais correto chamá-la de Omissão da Verdade. Mas, como já aprendeu a esquerda, ao contrário da direita, a narrativa é o que importa. Verdades são jogadas para baixo do tapete em troca dos mitos históricos. E são esses que acabam moldando o presente.
“Quem controla o passado, controla o futuro. Quem controla o presente, controla o passado”. O alerta consta em 1984, de George Orwell. É hora de reagirmos contra essa falsa narrativa histórica, que deturpa nosso passado para estragar nosso futuro.
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