quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Aumento da TR deixa casa própria mais cara – Correio Braziliense

Elevação dos juros básicos aumenta a Taxa Referencial, que corrige o saldo devedor dos financiamentos imobiliários. Com a resistência da inflação, o Banco Central deve manter a política de aperto monetário em 2014, tornando o crédito ainda mais oneroso
A fatura da casa própria está mais pesada. Com a alta dos juros promovida pelo Banco Central, um dos índices que corrige os financiamentos imobiliários, a Taxa Referencial (TR), também tem crescido e onerado os saldos devedores dos contratos. Enquanto o BC der continuidade ao processo de aperto monetário, o sonho de ter uma moradia continuará ficando mais caro. Em um empréstimo de R$ 300 mil, por exemplo, que sofreu reajuste anual em 5 de novembro, o incremento da dívida chegou a R$ 283,86 só por conta da TR. Se os juros cobrados pelo banco forem de 10% ao ano, o aumento total chega a quase R$ 30,3 mil em 12 meses, de acordo com cálculos de especialistas.
A TR, que estava praticamente zerada até julho, começou a crescer depois que o BC deu início à elevação da taxa básica de juros (Selic). De 7,25% ao ano, em março, a Selic chegou a 9,50%, em outubro, levando com ela os demais juros do mercado. O efeito nos contratos imobiliários, no entanto, não é uniforme. “Tudo depende do tamanho da operação e do prazo do financiamento. Quanto maior o valor, mais forte é o impacto”, explicou Carlos Thadeu de Freitas, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e ex-diretor do BC.
Em 19 de novembro, por exemplo, a TR foi de 0,0785%. Um saldo devedor de R$ 100 mil, com aniversário naquele dia, cresceu R$ 78,50, sem contar os juros. O consumidor quase nunca percebe esses aumentos porque olha apenas para a prestação, que dissolve o valor ao longo do ano. Ao analisar o financiamento a fundo, porém, é possível observar como os juros são muito superiores à parcela de amortização. Em função disso, para quem tem um contrato pela tabela SAC (Sistema de Amortizações Constantes), é vantajoso adiantar parcelas e, se possível, usar o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para abater o montante devido.
Paulo Simão Safady, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), afirma que ainda não há motivo para desespero e que o impacto da TR ainda é pequeno. “É baixo, mas a gente sabe que, se houver uma mudança nos juros interbancários, a tendência é aumentar”, disse. A TR é calculada com base nas taxas pagas pelos Certificados de Depósito Bancário (CDB) emitidos pelas 30 maiores instituições financeiras do país. Se a Selic sobe, o custo desse produto financeiro também aumenta. O governo, no entanto, usa um redutor para amenizar o crescimento do índice quando julga necessário.
“Temos de esperar. Não sei como está a cabeça do BC, mas se houver realmente uma disparada dos juros, a TR vai subir e permanecer alta por um tempo”, argumentou Safady. Ele acredita, porém, que o governo não deve permitir um encarecimento forte do crédito imobiliário, um setor estratégico para a economia.
O economista José Dutra Vieira, professor de matemática financeira, explica que a fórmula de cálculo da TR leva em conta o número de dias úteis de um mês, a partir da data de referência. Assim, em alguns dias, o consumidor pode ter a sorte da ter a TR zerada. Isso, porém, tem sido cada vez menos frequente e tende a acabar. Vieira alerta que tentar prever o valor da taxa do próximo aniversário do contrato é perda de tempo. “O cálculo é absurdamente complexo”, criticou.
Oportunidade
O educador financeiro Reinaldo Domingos explica que aumentos nas prestações devem ser vistos como oportunidade para arevisão da vida financeira. “As famílias devem saber para onde vai cada centavo do que gastam. É necessário analisar as expectativas em termos de padrão de vida e as possibilidades de pagar por isso”, avaliou.
O planejamento, orienta o especialista, precisa levar em conta o fato de que as perspectivas para a economia no próximo ano são pouco animadoras. “O carnaval será em março, atrasando várias atividades e projetos. Além disso, haverá a Copa do Mundo. Com tudo isso, será um ano mais curto que o normal. Não se deve esperar que as coisas fiquem mais fáceis, sobretudo no caso do comércio.” Domingos acha que, com as taxas em vigor hoje, ainda é possível para o consumidor endividado trocar o financiamento de um banco por outro mais em conta. “É preciso recorrer à portabilidade”, recomendou.

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