segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Veja quanto você pagava por esses produtos em 2000 e quanto paga hoje

O dinheiro que você usa também tem um preço. Cada cédula de real possui um preço de troca, que nem sempre equivale ao valor estampado nela. O indicador desse preço você percebe quando está na fila do supermercado, calculando sua compra. Logo nota que mal terminou de contar todos os produtos e o valor já supera o que pagava uns meses antes pelos mesmos produtos.
A confirmação é inevitável: os mesmos 100 reais de sempre já não enchem tantas sacolas como antes. Seu dinheiro passou a valer menos.
Assim como qualquer produto, o dinheiro também está exposto ao efeito de oferta e demanda. Se o estoque monetário cresce mais rápido que a demanda pelo dinheiro, surge aquela palavrinha que você está cansado de ouvir em todos os jornais: a inflação. Como consequência, tudo começa a ficar mais caro. Até aqueles setores que estão passando por períodos de modernização e redução de custos acabam elevando seus preços. Nada escapa.
Por esses e outros motivos, o economista Milton Friedman, laureado com o prêmio Nobel de Economia em 1976, costumava dizer que a inflação é um imposto escondido – é o preço que todos pagam quando o governo resolve propositalmente aumentar a oferta de dinheiro na economia para honrar suas dívidas. É como se o governo “imprimisse” dinheiro do nada e usasse essas novas notas para pagar algum fornecedor ou fornecer um serviço público.
Como não existe almoço grátis, alguém terá que pagar a conta desse dinheiro todo que surgiu do nada na economia: você.
Mas não se engane, a inflação não é uma praga dos tempos modernos. Foi presenciada pelos Sumérios quase quatro mil anos atrás, voltou a dar as caras em Roma lá pelo ano 200 a.C. e assombrou a Europa Medieval por muito tempo. Quando saiu de controle, na Alemanha no início do século passado, serviu de plataforma para a ascensão do nazismo.
No Zimbábue, no coração da África, ela fez com que as pessoas passassem a contar os preços pelo número de zeros presentes nas notas. Mais ou menos assim:
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O maior problema da inflação, no entanto, é que ela serve como um motor para impulsionar a desigualdade de renda e a pobreza – acredite, mesmo uma inflação considerada “pequena”, na casa de um dígito, pode causar esse estrago.
Enquanto empresas e bancos conseguem agilmente, se preciso, remarcar seus preços e taxas para se ajustarem à nova realidade monetária, empregados assalariados estão condenados a aguardar impacientemente por um aumento de seus vencimentos após longos meses ou até anos. Nesse período, com tudo mais caro, o poder de compra do salário esvazia. Em bom português: o trabalhador fica mais pobre. Se a economia estiver travada, pior ainda: as chances de subir de cargo ou conseguir um emprego melhor diluem-se tão rápido quanto o valor do dinheiro. É o caos.
Diversos estudos já demonstraram que existe uma forte relação entre inflação e aumento da desigualdade. E não vá pensando que é uma desigualdade saudável, que serve de estímulo para uma busca por maiores salários. Pelo contrário, é uma desigualdade causada pelo estúpido crescimento da miséria.
Na outra ponta, bancos e grandes investidores blindam seu capital investindo em índices atrelados à taxa de juros ou à própria inflação – o que também é negativo para os mais pobres, pois retira investimentos de outros setores da economia e contribui para sua estagnação. Não por acaso, o crescimento do Coeficiente de Gini, índice que mede a desigualdade, cresceu consideravelmente no Brasil na década de 1980: foi a nossa vez de testemunhar uma hiperinflação. O gráfico abaixo dá uma ideia de como os dois índices se casam perfeitamente. Saca só.
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A desigualdade no país só começaria a cair para valer no governo Itamar, com a criação do Plano Real. Em seus primeiros dois anos, estima-se que o Real tenha tirado 9 milhões de pessoas da miséria. Nada mal.
Na outra ponta, também não é coincidência o dado divulgado ao final do ano passado pelo Ipea revelando que a miséria, que não crescia há 10 anos, havia voltado a subir em 2013. O dado coincide com um período de alta da inflação e queda do crescimento do PIB.
Mas quando falamos em índice de inflação, vale o alerta – ele é facilmente manipulável. Se você fez compras nos últimos meses, pagou suas contas de água ou energia, ou abasteceu seu carro, deve ter percebido uma coisa estranha: alimentos aumentavam mais que o índice de inflação divulgado pelo governo. Na contramão, energia e combustíveis pareciam aumentar menos, até que… boom! No início desse ano, seus preços dispararam. Não foi por acaso.
Isso acontece porque os índices de inflação são uma média do aumento de preço de diversos produtos e serviços. Alguns deles, como energia elétrica, água e combustível são fornecidos por empresas estatais. E o governo aproveitou-se disso nos últimos anos, congelando o preço dos serviços que controla.
Em 2013, por exemplo, o preço da energia elétrica sofreu uma queda de 15% no IPCA. Ano passado, teve um aumento de 17%. Mas esse ano, só até junho, seu preço já aumentou 42%. Combustíveis, que ano passado tiveram um aumento de 2,9%, nos primeiros 6 meses desse ano já subiram mais de 8% – e isso numa época em que o petróleo é negociado a menos de US$ 60 o barril.
Os dados do IBGE para períodos mais amplos revelam isso com clareza: entre 2004 e 2014, o índice geral acumulou 66,7%. Mas quando o assunto foi alimentação, o aumento de preçosultrapassou os 99% no período.
Para esse ano, é esperado que a inflação rompa o teto da meta, fixado em 6,5%. Na verdade, desde que Dilma assumiu, o centro da meta, que é de 4,5%, nunca foi respeitado. A inflação sempre ficou próxima do teto e no acumulado dos últimos meses desse ano, já está em 6,17%. Se aumentarmos essa medida para 12 meses, já está nos 8,89% – maior índice desde 2003.
O culpado por isso? O governo. Como disse Friedman:
“Nenhum governo aceita que é o responsável por uma inflação. Sempre arranjam alguma desculpa – comerciantes gananciosos, sindicatos turrões, consumidores compulsivos, árabes, a chuva. Sem dúvida que comerciantes são gananciosos, sindicatos são duros, consumidores são compulsivos, árabes aumentam o preço do petróleo e, de vez em quando, chove mesmo. Todos esses agentes têm como produzir preços altos para certos itens; mas não são capazes de fazer isso com tudo o que existe. Eles até podem causar subidas e descidas temporárias na taxa de inflação. Mas não têm como dar início a uma inflação contínua. Por um motivo simples: nenhum desses supostos culpados pela inflação tem as impressoras que produzem aquilo que a gente carrega na carteira.”
Para ilustrar melhor como os preços, principalmente dos alimentos, estão aumentando, o siteInflacionômetro.com fez algumas estimativas com um folheto do supermercado Extra do ano de 2000. Os preços originais foram multiplicados pela inflação acumulada no período (os dados para os anos de 2014 e 2015 foram calculados em cima da inflação média de alimentos a partir de 2010). Reproduzimos abaixo as expectativas sobre quanto você paga ou deverá pagar, até o final do ano, por esses produtos – e quanto pagava em 2000.
Pois é, você deve estar pensando – não basta cobrar dispendiosos impostos todos os anos, o governo quer também diminuir o valor do dinheiro que carrego na carteira. E você tem razão. No fundo, é como se tudo fosse um game, onde você é o personagem principal. Para atingir seus objetivos, precisa inevitavelmente encarar os diversos desafios. Ao fim, chegará à conclusão inevitável: o governo é o chefão final.

MERCEARIA

2000

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2015

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PÃES E DOCES

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2015

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CONGELADOS E LATICÍNIOS

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2015

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CARNES

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2015

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