terça-feira, 25 de agosto de 2015

Cuba e EUA: os objetivos e a realidade do embargo (PEDRO CORZO)


O governo de Cuba é por natureza belicoso e provocador. Durante décadas insuflou na população o ódio aos Estados Unidos.
Companhias dos EUA país fornecem 96% do arroz e 70% da carne de ave que se consome na ilha.
Cuba importou dos Estados Unidos entre o ano 2000 a 2014, mais de U$ 4,600 milhões. Em 2012, importou, do país que o tem “bloqueado”, a terça parte dos alimentos que consumiu.

O objetivo dos Estados Unidos quando impôs o embargo a Cuba não foi derrocar o regime dos irmãos Castro. O embargo foi uma retaliação, uma punição às disposições que o regime castrista havia tomado contra os interesses econômicos norte-americanos. O embargo tampouco foi uma espécie de sanção ao castrismo pelos fuzilamentos, ou pela situação dos direitos humanos na ilha.

Seu propósito era estritamente econômico, embora seja certo que com o transcurso do tempo e paralelo à diminuição da capacidade da oposição para derrotar a ditadura por meio das armas, transformou-se no imaginário de um amplo setor dos que enfrentavam o castrismo, no aríete que daria fim ao totalitarismo insular.

Certamente que as diferenças ideológicas e políticas estavam implícitas, mas as estratégias de Washington para derrocar a ditadura se instrumentaram por meio da ajuda ao movimento clandestino na ilha, a expedição da Brigada 2506 à Baía dos Porcos, a Operação Mongoose e outras manobras ofensivas de menor intensidade que com o tempo desapareceram da agenda dos executivos norte-americanos.

Indubitavelmente que a hostilidade entre os dois governos não desapareceu. Cuba se alinhou à União Soviética durante a Guerra Fria e em conseqüência, as diferenças entre os dois países se fizeram mais graves. Ambos governos nunca deixaram de ser inimigos e procuraram mutuamente, sem chegar a uma confrontação aberta, inflingir-se o maior dano possível.

Washington manteve uma política hostil ao regime de Havana, porém a agressividade de suas estratégias foi diminuindo. As novas disposições poderiam ser úteis para entorpecer o fortalecimento do regime e neutralizar, embora fosse parcialmente, sua influência no exterior, mas não continha elementos que por si mesmos tornassem possível sua queda.

Por sua parte, a ditadura insular nunca cessou suas agressões contra os Estados Unidos ou seus interesses. A subversão armada que patrocinou no hemisfério, a presença mercenária na África, a constituição do Foro de São Paulo, a base de espionagem de Lourdes, a conversão da Venezuela em um centro de desestabilização hemisférica, sem afastar, entre outras práticas, a intensa atividade que os serviços de espionagem cubanos desenvolveram no território norte-americano.

O governo de Cuba é por natureza belicoso e provocador. Durante décadas insuflou na população o ódio aos Estados Unidos. Responsabilizou Washington por todos os seus erros e fracassos. Não em vão, Fidel Castro escreveu desde a Sierra Maestra à sua amiga e companheira na destruição de Cuba, Celia Sánchez: “Uma vez que a guerra chegue a seu fim, começarei o que para mim é uma guerra mais longa e de maior envergadura: a guerra que vou levar contra os americanos. Compreendo que este será meu verdadeiro destino”.

Havana sem perder tempo e, embora mantenha relações comerciais com mais de 170 países, qualificou o embargo de “bloqueio”, assumindo o papel de vítima de Washington, um papel que cumpriu satisfatoriamente apesar de que 6.6% de suas importações procedem de empresas norte-americanas, e companhias desse país fornecem 96% do arroz e 70% da carne de ave que se consome na ilha.

Um trabalho do jornalista Pablo Afonso em Martí Noticias, anotou que Cuba importou dos Estados Unidos entre o ano 2000 a 2014, mais de U$ 4,600 milhões. Em 2012, importou, do país que o tem “bloqueado”, a terça parte dos alimentos que consumiu e em 2008 adquiriu a bagatela de U$ 695 milhões em alimentos. Sem dúvida alguma o embargo dos Estados Unidos a Cuba afeta este último país, mas é muito surpreendente assegurar, embora a ditadura castrista o proclame, que o embargo foi e é a ferramenta-chave de Washington para destrui-la.

A Casa Branca optou pela ruptura nos primeiros três anos, depois estabeleceu a política de contenção na qual o embargo é fundamental, e por último instrumentalizou o que se poderia qualificar de convivência hostil com a ditadura - condição que não foi afetada pela lei Helms-Burton -, daí o aumento do comércio e os inúmeros acordos subscritos entre ambos governos.

A nova política dos Estados Unidos para Cuba poderia diminuir ferramentas ao arsenal retórico da ditadura, porém não tem por quê afetar positivamente a situação dos direitos humanos na ilha, como tampouco ocorreu quando essa medida econômica foi imposta há quase 55 anos.

Washington está a favor do fim do embargo, o problema é que não se sabe a favor do quê está a ditadura cubana, com exceção de sobreviver a todo custo, embora inclua dormir com o inimigo.

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