O desenvolvimentismo é uma fraude teórica e um perigo como elemento inspirador da administração do Estado. Mas como mudar isso, se a maioria dos funcionários públicos acha que o erro teórico é a verdade?
A imprensa está cheia de análises sobre um possível “volta, Lula”, tentando explicar porque isso pode acontecer. Um ponto comum nas análises é culpar a presidente Dilma pelos problemas econômicos, como se ela fosse a autora do projeto que está em curso no país. Claro, ela está de acordo com ele, mas é preciso separar o trigo do joio. A política econômica é a do PT, não é meramente da presidente, assim como sua política “social”. A coisa tem raízes históricas mais profundas.
Quem estuda a história econômica do Brasil sabe que, desde os anos 30, um suposto conjunto de conhecimentos em economia foi desenvolvido para patrocinar o desenvolvimento econômico. A obra de Celso Furtado é um momento de consolidação dessa visão de mundo, que tem gerado legiões de discípulos universitários, que ora ocupam o poder. Tudo começou com o Partido Comunista. Essa visão de mundo infiltrou-se no Estado paulatinamente desde então. Politicamente, vivemos o apogeu desse falso saber no comando do Estado com o PT. Aí está a origem da tragédia que se anuncia.
Todos os ensaios anteriores de desenvolvimentismo foram fracassados, mas, em troca, a visão no ensino universitário consolidou-se e fez-se predominante, a invés de levar essa gente para as boas lições de economia. A realidade podia negar as teorias desenvolvimentistas, mas seus teóricos não querem saber do real. Sua motivação é unicamente colocar o Estado como agente e comandante do “desenvolvimento”, a palavra mágica que tem permitido todo tipo de violência sobre as pessoas, a começar pela imensa carga tributária e pelo excessivo e alucinado processo de regulamentação da economia.
A teoria funciona meramente como justificadora da ação dos agentes no poder. Não tem nenhum valor explicativo, não serve para formulação econômica, torna cegos aqueles que comandam o processo econômico. Se uma escola está plenamente identificada com esse falso saber é a Unicamp, que tem gerando os “melhores” piores quadros no comando do Estado.
O núcleo fundamental da teoria, que acusava os países “centrais” de se apropriarem da renda dos países da “periferia”, pelos termos de troca, não resiste à mínima avaliação. Esse ponto foi fundado nos livros tortos de Lênin sobre o imperialismo, deles derivando diretamente. Um exame dos dados vai mostrar que isso não é real. No período recente, aconteceu o contrário, com a valorização absurda dos preços dos alimentos e minérios. O Brasil ganhou muito com isso. Esses preços tão favoráveis aconteceram durante o governo Lula e, pode-se dizer, se arrasta até hoje. Há uma grande ironia histórica nesse fato. O que eles chamavam de setor primário-exportador é o que está pagando a conta da gente brasileira. A experiência, todavia, não serviu para essa gente repensar sua falsa percepção do real.
Vê-se que esses teóricos não conseguem pensar os indivíduos como autonomias que de fato geram o desenvolvimento, que só pode derivar do empreendedorismo e da capacidade de trabalho dos cidadãos. Muito ao contrário, querem ser os tutores de tudo, via Estado. Acabam por inviabilizar o Brasil, como estamos vendo acontecer. Como vimos nos tempo de Jango. Se a trajetória da política econômica não mudar imediatamente teremos um desastre meteórico.
Outro pondo essencial dessas teorias, abusando de um keynesianismo bastardo, é pôr a emissão de moeda a serviço do desenvolvimento. Esses teóricos não crêem que a inflação seja o mal, aliás eles dizem que é um bem. Por isso, quando estão no poder metem sempre o país na aventura inflacionária, provocando calamidades. Estamos de novo navegando no rumo da alta inflação. A coisa só não é pior porque membros graúdos do próprio PT aprenderam que é melhor manter alguma ortodoxia monetária, sob pena do processo sair do controle. Mas o ativismo orçamentário inviabiliza a saúde financeira, praticamente condenando o exercício de alguma ortodoxia do Banco Central à ineficácia.
O problema que vejo é que hoje em dia todo o funcionalismo público, e não apenas no âmbito econômico, foi formado nessas falsas teorias. Basta um exame nos programas dos cursos universitários e nas bancas de concurso público de admissão para constatar a hegemonia da falsa ciência. Quem não estuda essa maçaroca indigesta de falsas teorias está fora do jogo. É fácil aprender, mas difícil se livrar mentalmente dessas falsas lições de economia. É preciso anos de reflexão e de exame para que alguém possa superar o falso aprendizado, enfrentado a opinião pública hegemônica.
O desenvolvimentismo é uma fraude teórica e um perigo como elemento inspirador da administração do Estado. Mas como mudar isso, se a maioria dos funcionários públicos acha que o erro teórico é a verdade? Se quem opera a economia e o direito, basilares na coordenação do Estado, estão cegos, sem luz da ciência e da sensatez? Essa é a dimensão “operacional” da nossa tragédia: os quadros dirigentes são despreparados e equivocados.
O “volta, Lula” não é e não será um retorno à boa política econômica, que só será implantada de novo se o PT for removido do poder. É preciso que se diga que o PSDB foi fundado nessa falsa visão de mundo, mas como FHC teve que enfrentar a altíssima inflação dos anos 90, o partido amadureceu e prefere a boa política econômica. O PT não terá tempo de aprender, até porque repudiou vigorosamente a política de FHC. Acham que estão certos e são insensíveis ao real.
É por isso que eu tenho ironizado nas redes sociais, ao comentar o noticiário econômico, com o bordão “vai quebrar”. Porque nada ficará inteiro enquanto a voz da razão não prevalecer sobre esses utopistas.
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