quarta-feira, 19 de março de 2014

O silicone, a mulher e o homem (FMB)



Eu faço piadas com o silicone não por ser “a favor” ou “contra”, mas porque vejo mocinhas sem a mínima consciência dos elementos que estão em jogo ao se colocar uma prótese. Muitas de fato acreditam que estão apenas aumentando os seios e não fazem sequer a distinção óbvia de que os peitos resultantes não serão somente maiores, mas sim falsos, emborrachados, diferentes de peitos grandes naturais tanto esteticamente (ainda que varie o grau de semelhança a depender do tipo e do tamanho) quanto substancialmente para fins de palpação, de contato físico e erótico.
 
De uma crença já suspeita de que os homens preferem peitos grandes, boa parte delas acredita também que isto independe de eles serem naturais ou siliconados, ou pior: tomando por base o boca a boca de noitada, acreditam que os homens em geral adoram silicone mesmo, o que é uma crença ainda mais maluca. Não distinguem aí sequer o fetiche de muitos deles com peitos siliconados e suas experiências práticas no assunto, muito menos que tipos de homens seriam os que se agradam e os que se desagradam nos quesitos estético e prático, que tampouco são a mesma coisa, assim como não são um desejo de uma experiência passageira e o de uma relação duradoura.
 
Distinguir a capacidade de chamar a atenção que quaisquer peitos grandes possam ter, a beleza deles e os prazeres eróticos que o contato com eles provoca é coisa que passa longe da cabeça de inúmeras mocinhas, geralmente mais preocupadas em ser desejadas ou se sentir bonitas do que em sustentar os desejos do homem que as venha a desejar. Considerar a repulsa que o artificialismo causa em determinado conjunto de homens tampouco parece importar à boa parte delas, a não ser depois, caso algum deles as rejeite por incontornável falta de tesão ou pela simples preferência por mulheres com seios naturais.
 
E não: não estou dizendo que se pode mensurar e averiguar tudo isto, ou que isto conduza à determinada escolha, estou apenas separando alguns elementos a serem levados em consideração, para que as mulheres, em especial as jovens, façam suas escolhas mais conscientes das possíveis consequências, em vez de acreditar apenas que “a blusinha vai vestir melhor”.
 
Sei que um monte delas alega não estar nem aí para os homens e só querer elevar a “autoestima”, o que, dada a propaganda, parece ser uma função cumprida à risca por qualquer prótese para peitos. É um mundo estranho este em que a AUTOestima precisa vir de fora, de um “item de fábrica” comprado e introduzido cirurgicamente no corpo, de um modo que põe em risco a própria sensibilidade, mas ok. Este texto não é para essas mulheres. É para aquelas que justamente não querem ser como elas, ainda que se peguem de vez em quando repetindo seus chavões.
 
*****
 
Notas:
 
1.

 
LEITORA: A autoestima já vem de fora quando a mulher pinta o cabelo, coloca aplique, passa maquiagem, usa sutiã de bojo. A compreensão da eterna busca da mulher pelo seu próprio “belo” está bem longe de ser alcançada por qualquer homem.
 
FMB: A “beleza”, como se vê, virou a condição principal da “autoestima”, senão a “autoestima” mesma. E muitas mulheres repetem esses discursos de propaganda sem se dar conta do que estão falando.
 
2.
 
A diferença entre a vendedora que diz que a roupa caiu muito bem e o cirurgião plástico que diz que o silicone aumenta a autoestima é que a vendedora não é tão metida a psicanalista.
 

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