sexta-feira, 17 de julho de 2015

O trotskysmo, segundo Trotsky (CARLOS AZAMBUJA)


Cerca de 90 anos depois do Manifesto Comunista, em Coyoacán, México, onde se exilara, Trotsky escreveu uma “Introdução ao Manifesto Comunista”, que foi publicada pela ediciones Pluna, de Buenos Aires, em 1974.

Essa publicação, da qual extraímos alguns excertos, resume pontos fundamentais tidos pela ideologia trotskysta, em todo o mundo, como verdades verdadeiras:
“- o governo do Estado moderno não é nada mais que uma junta que administra os negócios comuns de toda a classe burguesa. Esta fórmula sucinta que os dirigentes da social-democracia consideraram como um paradoxo, de fato contém a única teoria científica do Estado;
- o proletariado não pode conquistar o Poder dentro do marco legal estabelecido pela burguesia.Os comunistas declaram abertamente que seus fins só podem ser alcançados destruindo, pela força, as condições sociais existentes;
- para a transformação socialista da sociedade, a classe operária deve concentrar em suas mãos um poder tal que lhe permita esmagar todos e cada um dos obstáculos políticos que fechem o caminho ao novo sistema: o proletariado organizado como classe dominante, isto é, a ditadura;
- o desenvolvimento internacional do capitalismo é que determina o caráter internacional da revolução proletária. A ação comum do proletariado é uma das principais condições para a sua emancipação. O desenvolvimento ulterior do capitalismo uniu tão estreitamente todos os setores do nosso planeta no sentido de que a revolução socialista assumiu total e decisivamente um caráter mundial. A degeneração bonapartista do Estado soviético é uma demonstração da falsidade da teoria do socialismo em um só país;
- uma vez que no curso do desenvolvimento hajam desaparecido as diferenças de classe e se haja concentrado toda a produção em mãos de uma imensa associação dos indivíduos de toda a Nação, o poder público perderá seu caráter político. Em outras palavras, o Estado se desvanece. A sociedade permanece, liberada de sua camisa de força. Isso não é outra coisa que o socialismo. O teorema inverso: o monstruoso crescimento da coerção estatal na URSS é o testemunho eloqüente de que a sociedade se está afastando do socialismo;
- Marx ensinou que nenhum sistema social desaparece da arena da história antes de esgotar suas potencialidades criativas. O Manifesto, por isso, censura violentamente o capitalismo por retardar o desenvolvimento das forças produtivas;
- a Comuna de Paris demonstrou que o proletariado não pode tomar o Poder à burguesia se não dispuser de um partido revolucionário para conduzi-lo;
- o desenvolvimento da tecnologia e a racionalização da indústria em grande escala, engendra desemprego crônico e obstaculiza a proletarização da pequena burguesia. Por outro lado, o desenvolvimento do Capitalismo tem acelerado o surgimento de uma legião de técnicos e administradores, que são a chamada nova classe média;
- mesmo sob as condições mais avançadas, nenhuma das classes burguesas é capaz de levar a revolução até o fim. A grande e média burguesias têm vínculos demasiadamente estreitos com os possuidores de terras e o temor às massas as imobiliza. A pequena burguesia apresenta-se demasiadamente dividida e em suas camadas dirigentes mostra-se dependente da grande burguesia;
- é bastante evidente que embora a questão do ”nacionalismo” se tenha convertido no mais daninho dos freios históricos nos países capitalistas adiantados, ainda permanece como um fator relativamente progressivo nos países atrasados que se vêem obrigados a lutar por uma existência independente;
- o Manifesto Comunista deve ser ampliado com os documentos mais importantes dos quatro primeiros Congressos da Internacional Comunista, a literatura bolchevique essencial e as decisões das Conferências da Quarta Internacional;
- já assinalamos que, segundo Marx, nenhuma ordem social desaparece de cena antes de esgotar suas potencialidades latentes. Entretanto, uma ordem social, ainda que antiquada, não cede seu lugar a uma nova ordem sem opor resistência. Uma mudança de regime social pressupõe a luta de classes em sua forma mais crua. Isto é, uma revolução;
- na atualidade – 1938 – a III Internacional leva a cabo em todos os países a tarefa de enganar os trabalhadores, muito mais rapidamente que a II Internacional. Ao massacrar a vanguarda do proletariado espanhol, os mercenários de Moscou não apenas abrem caminho ao fascismo, como também executam, ademais, uma boa parte de suas tarefas. A crise prolongada da revolução internacional.que se está convertendo cada vez mais em uma crise da cultura humana, reduz-se essencialmente à crise de sua direção revolucionária;
Como herdeira da grande tradição da qual o Manifesto Comunista constitui o escalão mais avançado, a IV Internacional está educando quadros novos para a solução de velhas tarefas. A teoria é a realidade generalizada. A urgência apaixonada por reconstruir a realidade social expressa-se em uma atitude honesta para com a teoria revolucionária.
O futuro nos pertence. Quando se festejar o centenário do Manifesto Comunista a IV Internacional se terá convertido na força revolucionária decisiva de nosso planeta.”

Nota:
O centenário do Manifesto foi comemorado em 1948 e hoje, 67 anos depois, ao contrário das previsões de Trotsky, a IV Internacional permanece fragmentada em diversas seitas, cada uma delas reivindicando ser a força revolucionária decisiva de nosso planeta.

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