terça-feira, 21 de julho de 2015

O governo-bebê: apetite voraz por recursos de um lado, e nenhum senso de responsabilidade do outro (RC)


O leitor provavelmente já conhece o conceito de “nanny state”, ou estado-babá, termo que a estadista Margaret Thatcher usava para se referir, de forma pejorativa, ao paternalismo estatal típico do “welfare state” que pretende cuidar de todos os cidadãos do berço ao túmulo. Mas que tal acrescentar o governo-bebê? Ou seja, o governo pretende ser a babá de todos nós, mas no fundo é apenas um bebezão faminto por nossos recursos, e sem senso de responsabilidade algum. Foi Reagan quem definiu esse perfil, conforme lembrado na coluna de Gil Castello Branco hoje:
O ex-presidente americano Ronald Reagan dizia: “O governo é como um bebê: um canal alimentar com enorme apetite numa ponta e nenhum senso de responsabilidade na outra”. O Brasil não foge à regra: carga tributária de 36% do PIB — entre as mais altas do mundo — enquanto os cidadãos pagam colégios e hospitais particulares, pedágios, cercas elétricas etc.
Outra analogia válida foi feita por P.J. O’Rourke: “Dar dinheiro e poder para o governo é como dar whisky e as chaves do carro para adolescentes”. Ou seja: é pedir por desgraça. E assim tem acontecido em todo lugar onde o governo avança demais sobre os recursos produzidos pela iniciativa privada e sobre o controle de nossas vidas. O fenômeno é mundial, diga-se de passagem, mas o Brasil tem sido um aluno empenhado, com um paternalismo absurdo de um lado, e uma gestão totalmente irresponsável do outro. Adolescentes bêbados ou bebês famintos e irresponsáveis: assim nossos governantes têm agido.
Em parte, isso se deve à falência da família. Afinal, o governo não tem assumido todo esse poder do nada, sem algum tipo de consentimento por parte da população governada. O jornalista Carlos Alberto Di Franco falou disso em artigo nesta segunda no Estadão, mostrando como nossa juventude está ameaçada por conta de uma crescente transferência de responsabilidade dos pais para os governantes:
O crescimento dos casos de aids, o aumento da violência e a escalada das drogas ameaçam a juventude. A deterioração econômica e a falta de perspectiva de trabalho exacerba o clima de desesperança. A percepção da falência do Estado em áreas essenciais (educação, saúde, segurança, transporte) causa muita frustração. Para muitos jovens, infelizmente, os anos da adolescência serão os mais perigosos da vida deles.
Desemprego, gravidez precoce, aborto, doenças sexualmente transmissíveis, aids e drogas compõem a trágica equação que ameaça destruir o sonho juvenil e escancarar as portas para uma explosão de violência. Além disso, a moçada não foi preparada para a adversidade. E a delinquência é, frequentemente, a manifestação visível da depressão.
A situação é reflexo de uma cachoeira de equívocos e de uma montanha de omissões. O novo perfil da delinquência é o resultado acabado da crise da família, da educação permissiva e do bombardeio de setores do mundo do entretenimento que se empenham em apagar qualquer vestígio de valores. Tudo isso, obviamente, agravado e exacerbado pela falência das políticas públicas e a ausência de expectativas.
Para Di Franco, os pais da “geração transgressora” têm culpa no cartório, e acham que podem suprir suas deficiências e ausências com bens materiais, enquanto as crianças necessitam de pais morais. Os sociólogos, psicólogos, antropólogos e demais “ólogos” das Humanas também têm culpa, por disseminarem uma mentalidade libertina, permissiva, como se impor qualquer tipo de limite aos jovens fosse coisa de reacionário careta, de conservador preconceituoso.
O lance é estimular a sexualização precoce, a banalização do sexo, o hedonismo, o “vale tudo”. Enfim, os jovens devem, segundo essa turma, dar vazão a todos os seus apetites como se não houvesse amanhã. Essa gente está fomentando o comportamento de bebê irresponsável, de adolescente bêbado. Vejam o exemplo dessa socióloga portuguesa, Tatiana Moura,entrevistada hoje no GLOBO:
O mundo tem avançado nos últimos 20 anos. Estamos mais perto do que longe do ideal. Para mim, não há distinção entre o movimento de masculinidades e o feminismo. [...] a partir do momento em que você não permite que um filho brinque com bonecas ou ache que carrinho não é coisa de menina, está sutilmente a perpetuar o machismo. [...] Quando os coleguinhas começam a falar de namoro [minha filha] diz: “Ainda estou muito nova para isso. Nem sei se vou querer namorar menino ou menina.” [...] Há propostas de um lado conservador que incluem a retirada da palavra “gênero” dos manuais escolares. Além disso, ainda temos muitos políticos ligados a igrejas que consideram o feminismo como encarnação do demônio. Considero isso chocante.
Chocante, para a socióloga, não é uma mãe achar lindo sua filha pré-adolescente considerar a coisa mais normal do mundo não saber se vai namorar meninos ou meninas, ou então um pai ser acusado de machista por não dar bonecas para seu filho, e sim “conservadores” quererem tirar a palavra “gênero” dos manuais escolares, justamente para evitar essa doutrinação ideológica de seguidores de Foucault e Sade. Se o pai não pinta o quarto do filho de rosa e não lhe dá uma boneca, em vez disso o levando para o futebol, saiba que é um machista!
Pessoas com tal deturpação de valores, fechadas em suas bolhas da elite, tentam espalhar por toda a cultura esse tipo de mensagem. Não é de espantar a quantidade crescente de pais americanos, por exemplo, buscando homeschooling, a maioria por questões morais. Morrem de medo de deixar seus filhos com professores que seguem essa agenda “progressista”. O leitor pode achar que não há elo entre as coisas, mas há: esses pais omissos ou permissivos, influenciados por esses esquerdistas amorais, acabam deixando de impor os limites necessários ao jovem, e contribuindo para a escalada de violência, como conclui Di Franco:
É preciso ir às causas profundas da delinquência. Ou encaramos tudo isso com coragem ou seremos tragados por uma onda de violência jamais vista. O resultado final da pedagogia da concessão, da desestruturação familiar e da crise da autoridade está apresentando consequências dramáticas. Chegou para todos a hora de falar claro. É preciso pôr o dedo na chaga e identificar a relação que existe entre o medo de punir e os seus efeitos antissociais.
Punir é justamente o que esse pessoal de esquerda não quer. Para eles, o bandido é “vítima da sociedade”, e com tal discurso vão incentivando a impunidade, a falta de responsabilidade pelos atos individuais. Alguns argumentam, sobre a questão da maioridade penal, que falta verba pública para investir em instituições decentes, em vez das “universidades do crime” que temos hoje. Mas um governo que arrecada quase 40% do PIB não tem recursos?! Ou será que as prioridades estão totalmente erradas? De volta ao artigo de Gil Castello Branco, ele conclui:
Com a falência do Estado, internar ou prender são medidas emergenciais para permitir ao cidadão andar de bicicleta sem ser esfaqueado ou ir ao Maracanã e retornar para casa com o relógio, o tênis e a vida. Mas há muito por fazer, a começar por não contingenciar recursos para os programas de atenção à criança e aos jovens. O superávit primário pode ser formado com as reduções dos 39 ministérios e quase 100 mil cargos, funções e gratificações, sem falar nas leis que triplicaram o Fundo Partidário ou irão permitir a criação de até 200 novos municípios, entre outros absurdos.
Enfim, faltam creches, escolas, professores, ensino profissionalizante, emprego e famílias estruturadas. O governo-bebê precisa rapidamente amadurecer e adquirir responsabilidade.
Os eleitores também! Afinal, como já disse, esse governo-bebê não avança do nada, e sim num vácuo de poder deixado voluntariamente pelos próprios pais. Esses governantes têm sido eleitos! Os pais estão sucumbindo ao discurso “progressista”, estão com medo de serem vistos como “reacionários”, como “preconceituosos”, e passam a adotar a máxima do “liberou geral”, confundindo liberdade com libertinagem e educação com “vale tudo”.
Muitas vezes são os próprios pais que agem como cúmplices desses pervertidos que fomentam uma sexualização cada vez mais precoce, uma banalização do sexo, um clima de “seguir os apetites” como se nada mais importasse. Eis o resultado: o caos social. Estão brincando com fogo. Estão delegando o poder para adolescentes bêbados, ou então para bebês gulosos e irresponsáveis. Não pode acabar bem…

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