quarta-feira, 22 de julho de 2015

COVARDES!!!!!!!! OU:"Os calculistas da revista VEJA"

A revista Veja está numa fase complicada. Como se não bastasse ver seu ex-repórter comandar a concorrente Época e trazer as maiores revelações referentes à Lava Jato desde o ano passado, outros dois de seus ex-funcionários abrirem um site de críticas políticas atingir em 6 meses audiência próxima à de todo o seu portal, seu time de colunistas adentrou a zona medíocre dos comentaristas brasileiros que, portando-se como os “muito acima dos problemas”, vêem na ausência de tomada de posição uma virtude fundamental. Querem passar a imagem de que todas as suas opiniões são emitidas após muita meditação e vêem à luz sob o impulso de uma lógica irrefutável em que o cálculo político é mais importante do que o cumprimento da lei. Esse tipo de opinião só perde mesmo em patetice para a daqueles que submetem seus artigos ao que é útil ou não ao partido.
As últimas quatro edições da revista trouxeram uma combinação lamentável de artigos de colunistas que assinam textos por ali há pelo menos 10 anos. O primeiro deles a destacar foi um de André Petry em que, com o estilo de argumentação própria dos mais típicos “grandes colunistas” do país, se posicionou contra a mudança da lei que visa dar maior punição aos marginais com mais de 16 anos e menos de 18. Como é de costume para este tipo de gente, o autor do texto abstrai o que diz com o intuito de fazê-la parecer não o que é, ou seja, a opinião pessoal construída pela própria sensibilidade, informações colhidas e personalidade, mas seria a própria voz da razão e portanto incontestável – pois só tolos são contra a Razão. E com uma tolice inacreditável o colunista diz que o parlamento brasileiro cria muitas leis, e que isto é um problema, ainda mais quando essas leis são criadas como forma de reação ou resposta a alguma demanda. Disse que o parlamento não deve fazer leis para reagir a fatos.
Oras, não é preciso se sentir inteligente ao perceber a estupidez de um argumento que ignora a função essencial de parlamentos que é justamente aprimorar as leis. Como elas não são criadas por profetas ou adivinhos, que adiantariam todas as necessidades dos tempos futuros, geralmente são criadas como respostas a situações novas. Quando tivermos carros flutuando, será necessário pensar em organizar esse fluxo e como punir quem “flutuar” drogado, colocando em risco a vida dos outros. Em 1850 não havia porquê termos órgãos complexos de fiscalização das rodovias. Nos anos 80 não era necessário criar regulamentos específicos para a banda de transmissão de sinais de celulares da mesma forma que no meio da primeira década deste milênio se decidiu por bem proibir celulares em postos de gasolinas pois havia risco de explosão – provando que da mesma forma que mudanças tecnológicas e avanços científicos podem gerar a necessidade de novas regras, também podem ludibriar a todos e gerar leis estúpidas.
Outro texto lamentável de André Petry foi escrito para a edição da revista Veja da semana passada. Usando Fernando Henrique como escada para seu próprio emcimadomurismo, ele argumentava contra o impeachment de Dilma usando um discurso de FHC na convenção tucana ocorrida na semana anterior. Escolher FHC como porta-voz de opiniões razoáveis quanto ao impeachment já não era uma boa opção em 1992, quando era Collor o presidente, não o seria agora. Fiz aqui um post mostrando uma série de artigos do ex-presidente em que fica muito claro que, se fosse por ele, Collor teria completado seu mandato, talvez até mesmo com apoio do PSDB. Releiam a série de equívocos e a tibieza constante do FHC de 20 anos atrás no post “FHC e o impeachment de Collor“.
Já a edição desta semana da Veja tem um artigo que segue a mesma linha do raciocínio de André Petry, ou seja, de que está tudo uma bosta, tem até mesmo alguns crimes por aí, mas o impeachment seria uma ação muito radical. Desta vez foi Roberto Pompeu de Toledo quem o fez. Num artigo em que aponta sete “razões” contra o impeachment, Pompeu cita o bizarro “o que as grandes potências vão pensar do Brasil?”, diz que se houver impeachment os movimentos de esquerda ficarão mais fortes do que a mobilização independente contra os roubos do PT e diz também  que somente “o PT pode se dar bem com o impeachment”. Nenhum dos itens defende que a presidente está seguramente livre de envolvimento de crimes ou que sua campanha seguiu as leis e portanto não deve ser punida. São argumentos que só podem sair de uma pessoa degenerada que acha que a Justiça deve servir a conveniências como a disputa do poder e a impressão de outros.
O que une esses três artigos lamentáveis é um pedido para que as coisas que estão uma porcaria fiquem como estão. Tentam transformar a covardia em prudência. A lei deixa de ser inegociável e passa a se submeter a outros interesses. Um olhar mais atento deveria levá-los a perceber que foi esta visão ideológica de que a Constituição está abaixo de certos interesses que levou o PT a corromper toda a máquina pública. Brincar de fazer cumprir a lei só de vez em quando e sob limites políticos é uma perversão que nos acostumamos a ver em políticos, pessoas que realmente vivem num mundo à parte. Ler coisas assim numa publicação independente mostra como o cinismo da política contaminou o pensamento brasileiro.
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André Petry e Roberto Pompeu de Toledo: Colunistas da Veja colocam cálculos políticos e aparências acima da lei
A Veja por muitos anos concentrou em suas páginas as melhores reportagens e opiniões contra a histeria coletiva dos anos lulistas. É curioso que justo agora, em que o PT definha aceleradamente, a revista apresente uma redução no número de anunciantes, de exemplares vendidos, tenha perdido protagonismo e, com colunistas assim, coloque em risco sua credibilidade.

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