quinta-feira, 5 de junho de 2014

Filhotes de Marcuse: os “intelectuais” que aplaudem os black blocs (RC)


Nenhuma revolução saiu da cabeça de proletários. Todas as utopias sangrentas e assassinas foram paridas no conforto de escritórios e salas de aula, por gente de classe média ou alta entediada, alienada, ressentida, rancorosa, ávida por fortes emoções, por uma aventura “purificadora”. Quem paga o preço com a própria vida é a massa de manobra feita de cobaia por tais “intelectuais”.
Em sua coluna de hoje, Demétrio Magnoli usa um caso particular para ilustrar esse fato. Trata-se da socióloga Esther Solano, da Unifesp, que teria, segundo reportagem do Estadão, justificado e defendido a ação criminosa dos black blocs. Afinal, em um país com mais de 50 mil homicídios, vamos dar importância a estes quarenta garotos? Demétrio foi buscar as origens do fenômeno em Marcuse:
As ideias têm importância. Os “40 garotos” inspiram-se no filósofo Herbert Marcuse, que interpretava as democracias representativas como regimes autoritários disfarçados sob uma película irrelevante de falsas liberdades. A rejeição marcusiana às instituições da “falsa democracia” funcionou como mola das organizações de “ação direta” que emergiram no rescaldo do Maio de 1968 na Europa. Dos destroços da “ação direta”, surgiram grupos terroristas como o Baader-Meinhof e as Brigadas Vermelhas. Os ancestrais dos black blocs eram “garotos” alemães e italianos cujas vidas — e as de tantos outros da mesma geração não envolvidos em atos de terror — foram tragadas no caldo letal das ideias formuladas por intelectuais-militantes.
A professora da Unifesp só tem relevância como sintoma. Na hora da repressão, ela estará defendendo sua tese acadêmica ultrarradical numa sala climatizada, entre pares ideológicos. Mas as bobagens rasas que diz e escreve descortinam um panorama trágico: uma parte da esquerda brasileira não aprendeu nada e ensaia reproduzir experiências catastróficas bem conhecidas.
Marcuse, confortavelmente vendo o circo pegar fogo…
A insistência nos mesmos erros do passado é, realmente, a marca registrada de nossa esquerda, que flerta com tudo que há de pior. Não satisfeitos com a desgraça que é o PT no poder, agora convertido em situação, em “partido da ordem”, esses “intelectuais” sonham com algo mais radical ainda, com o PT de ontem, com o PSOL, o PSTU, os black blocs.
Demétrio vai direto ao ponto quando diz que, seguindo a trilha do mestre Marcuse, esses “intelectuais” enxergam nesses “garotos” mascarados a “centelha de uma grande fogueira purificadora”. A violência vai aplacar suas angústias existenciais, seu niilismo, sua sede de “vingança”, sabe-se lá de que ou de quem. É preciso destruir, apenas isso. Fogo nessa “democracia burguesa”, no “sistema”!
Esse foi um tema que já abordei aqui diversas vezes. Por exemplo, mostrei que o coordenador de Pós-Graduação de Psicanálise da Uerj, Luciano Elia, havia se transformado em uma máquina de propaganda dos criminosos mascarados, endossando o uso de violência como arma política. Foi um tema amplamente abordado em meu Esquerda Caviar também, em que disse:
Na segurança da vida acadêmica, com estabilidade no emprego, e mergulhados no mundo platônico das ideias, esses intelectuais habitam torres de marfim, e do conforto de seus escritórios desenham castelos nas nuvens. A definição do historiador Paul Johnson para intelectual vem bem a calhar aqui: aquele que gosta mais das ideias do que dos homens. É como o alerta feito por Nelson Rodrigues e destacado na epígrafe desse livro: “Amar a Humanidade é fácil; difícil é amar o próximo”. 
Esses nossos “intelectuais”, filhotes tardios de Marcuse, não conseguem amar o próximo. Não conseguem amar, ponto. E com muito ódio nos corações, eles vendem utopias que justificam quaisquer meios. Afinal, o prêmio é bom demais para clamar por moderação e prudência, as duas principais bandeiras conservadoras. Antes de chegar a este paraíso terrestre, precisamos só quebrar alguns ovos, e teremos uma linda omelete.
Os “garotos” mascarados serão os instrumentos dessa bela revolução, ainda que, na prática, não passem de cobaias sacrificadas no altar das utopias dos “intelectuais”, que seguem com suas vidas confortáveis e, sim, bastante burguesas.

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