quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Se o presidente do BC acha que estamos longe da estagflação, o que seria perto? (RC)

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Um dos mecanismos de fuga psicológica mais comuns é a “negação”. O sujeito tem o diagnóstico claro de uma doença à sua frente, mas repete insistentemente que está tudo bem diante de um espelho, na esperança de que o diagnóstico mude se simplesmente for ignorado. O pai tem o filho dando todos os indícios de vício em drogas, mas repete para si mesmo que é apenas uma fase de transtorno absolutamente normal. E por aí vai.
Alexandre Tombini, presidente do Banco Central do Brasil, resolveu adotar essa estratégia. Negou, ao menos para os outros, a doença que ajudou a produzir no país: a estagflação. Em audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, Tombini negou a tese de que o país se encontra em estado de estagflação, ao ser questionado pelo senanor Ricardo Ferraço (PMDB-ES).
“Que crise é esta que falam, quando o país tem a menor taxa de desemprego da história?”, perguntou o presidente do BC. Em seguida, afirmou que estamos longe de um quadro de estagflação. Longe? Com crescimento esperado abaixo de 1% para esse ano e uma inflação oficial perto do teto da elevada meta, de 6,5%? Isso seria longe?
Tenho calafrios ao pensar o que o presidente do BC, instituição cuja única missão é justamente preservar o valor da moeda nacional, consideraria perto de uma estagflação. Talvez uma recessão e uma inflação de 10%? Ele disse que nossa inflação está totalmente sob controle, isso com um IPCA acima de 6,5% e com vários preços represados pelo governo! Como escreveuMiriam Leitão:
Um presidente do BC que olhe o quadro atual da inflação tem de ficar preocupado. Em toda a administração de Tombini a inflação esteve em torno de 6%, desconsiderando o escrito nas comunicações da autoridade monetária de que o indicador convergiria para o centro de 4,5% no futuro.
O quadro é de inflação alta e crescimento modesto, abaixo de 1%. No Senado, o próprio Tombini admitiu essa fraqueza do PIB em 2014, mas em seguida questionou o termo estagflação. É algo desconfortável para um BC. 
Sim, é algo desconfortável. Como é desconfortável um doente assumir sua doença, ou um pai encarar o vício do filho. Mas a alternativa ao desconforto é fingir que o problema sequer existe. Essa é a postura dos covardes. Que a covardia de Tombini seja fruto de interesses políticos apenas agrava o quadro, pois espera-se de um presidente de um banco central a coragem para ir contra o populismo do governo.
A estagflação é, hoje, uma realidade cada vez mais evidente. Ao observar a negação das principais autoridades envolvidas na criação do monstro, só podemos concluir que a situação irá se deteriorar e muito, caso essa equipe continue no poder. Com recessão e inflação perto de 10%, acho que nem mesmo o Tombini teria a cara de pau de rechaçar a “proximidade” do fantasma da estagflação…

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