terça-feira, 9 de dezembro de 2014

A vaca ainda não foi pro brejo, mas está quase lá! (RC/AJ)


Em sua coluna de hoje, Arnaldo Jabor traz questões pertinentes sobre as mudanças culturais em curso no Brasil. Concordo com ele em muitos pontos, e tenho repetido há anos que o maior estrago do PT não é na economia, apesar de ser imenso nessa área; é na mentalidade dos brasileiros, na disseminação de que “vale tudo”, de que o absurdo é o normal, de que não há melhores e piores, nivelando todos por baixo. Um clima de desesperança, de pessimismo crônico, de fatalismo, e um desejo de abandonar o barco afundando, de as cabeças pensantes buscarem refúgio em países mais decentes. Diz Jabor:
Nunca vi nada igual. Todas as certezas estão desabando, toda fé, todas as esperanças morrem diante dessa abundância de escrotidões, esse despautério de horrores. [...]
A velha “esquerda” sempre foi um sarapatel de populismo, getulismo tardio, leninismo de galinheiro e desde 2002 inventou a adesão monstruosa aos velhos roubos da velha direita.
A chegada do PT ao governo reuniu em frente única: as oligarquias privadas com o patrimonialismo do Estado petista. Foi o pior cenário para o retrocesso: Sarney, Calheiros, até o Collor, unidos aos idiotas bolivarianos. Essa base de ação foi o adubo para os crimes da Petrobras e outras dezenas de roubalheiras em hidrelétricas, aeroportos, portos, tudo.
[...] O Brasil está irreconhecível. Nunca pensei que a incompetência casada com o delírio ideológico promoveria este caos. Há uma mutação histórica em andamento, como disse acima, mas que pode ser para pior, para um “quarto mundo”. Esse desastre me lembra a metáfora de Oswald de Andrade, de que “as locomotivas estavam prontas para partir, mas alguém torceu uma alavanca e elas partiram na direção oposta”.
[...] Há uma grande neurose no ar. Cria-se uma vontade de fuga. Nunca vi tanta gente falando em deixar o pais e ir morar fora.
[...] Por exemplo, o conceito de solidariedade natural, quase “instintiva”, está acabando. Já há uma grande violência do povo contra si mesmo.
[...] Outro nítido efeito na cabeça das pessoas é o fatalismo: “É assim mesmo, não tem jeito não”. O fatalismo é a aceitação da desgraça.
[...] Essa fragilização da democracia traz de volta também um desejo de autoritarismo na base do “tem de botar para quebrar!” Já vi muito chofer de taxi com saudades da ditadura.
[...] O desgoverno, os crimes sem solução, a corrupção escancarada deixam de ser desvios da norma e vão criando uma nova cultura: a “normalização” da ignomínia; por trás do crime e da corrupção, consolida-se a cultura da mentira, do bolivarianismo, da preguiça incompetente e da irresponsabilidade pública.
[...] É difícil botar a pasta de dente para dentro do tubo. Há uma retroalimentação da esculhambação generalizada que vai destruindo as formas de combatê-la. Tecnicamente não estamos equipados para resolver as deformações que se acumulam como enchentes, como um rio sem foz.
O Brasil está sofrendo uma mutação gravíssima, e nossas cabeças, também. Sempre ouvimos que o Brasil estaria à beira do abismo; será que já caímos nele? Será que a vaca já foi para o brejo?
zeitgeist é esse mesmo, não dá para negar. Mas creio que ainda podemos responder a pergunta de Jabor na negativa: a vaca não foi para o brejo. Se é verdade que cada vez mais gente pensa em se mandar daqui, ou clama pela volta do regime militar, ou resolve chutar o balde e aderir à esculhambação geral para não ser o único “otário” em meio a um monte de “malandros”, também é igualmente verdade que parcela cada vez maior da população se mostra indignada, não aceita mais nada disso, não suporta o PT e seus defensores imorais.
Evidências anedóticas há aos tubos por aí. A começar pelos 51 milhões de votos em Aécio e pelas manifestações que têm reunido milhares de pessoas, especialmente em São Paulo, para protestar contra essa roubalheira e impunidade. Temos, também, o funcionamento de instituições como a Polícia Federal e o Ministério Público, ainda dependentes de indivíduos que fazem a diferença, como Sergio Moro, mas cumprindo sua função de forma republicana.
O risco de acabar em pizza é real, pois são muitos envolvidos no esquema da Petrobras, inclusive gente da oposição, ao que tudo indica. Caberá a nós exercer pressão para que isso não aconteça. E temos ao nosso lado a imprensa ainda independente, justamente aquela acusada de “golpista” pelos verdadeiros golpistas.
Além disso, e para contrapor ao meu próprio desencanto eventual, gosto de acumular casos isolados que, juntos, contam uma história interessante do despertar de parte do povo brasileiro. Hoje mesmo tive uma dessas experiências. Estava cortando o cabelo quando entrou uma cliente jovem e soltou assim, sem mais nem menos: “Esses petistas… no auge do escândalo da Petrobras e ainda tem gente que defende o PT? Não aguento mais essa esquerda caviar!”.
Perguntei se ela sabia quem eu era, pois poderia ter dito aquilo por ter me reconhecido. Não sabia. Estava só desabafando mesmo. Não engole o Chico Buarque e sua hipocrisia. Estuda na PUC e está cansada dos filhinhos de papai que votam na Dilma. E faz jornalismo! São os ventos de mudança…
Portanto, creio que é cedo para Jabor fazer as malas ou cortar os pulsos. Sim, o seu diagnóstico é correto e a crise é grave. O Brasil testa a nossa paciência. A negligência seria mortal. Todo alerta é bem-vindo. Mas ainda há tempo para evitar o pior, para impedir que o Brasil vire uma nova Argentina ou Venezuela. O PT segue tentando avançar no bolivarianismo, mas encontra obstáculos em seu caminho. E perderá.
No final, vamos mostrar que o Brasil, com todos os seus defeitos, é maior do que o PT e seu chavismo indecente. Ainda somos capazes de resgatar a vaca do brejo!

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