quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Explosão da crise caminha para “calote branco” e inflação a 20% (Ofinancista)

Atrasar o ajuste nas contas públicas brasileiras tem tornado mais próximo e provável um cenário de ruptura que resultará em inflação superior a 20% e impressão de moeda para pagar a dívida pública. Economistas consultados por O Financista acreditam que, caso a equipe econômica não arrume a casa, essa realidade virá a partir de 2018.
A deterioração das contas públicas irá, de acordo com os economistas, levar a uma mudança no perfil da dívida. Ou seja, os investidores ficarão relutantes em aceitar papéis prefixados, de longo prazo, e passarão a exigir juros mais elevados e vencimentos mais curtos. “O governo já está encurtando a dívida”, avalia Daniel Weeks, economista da Garde Asset Management.
“Estamos em uma situação onde a dívida pública é grande demais para permitir juros de primeiro mundo”, analisa Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central e sócio-fundador da Rio Bravo Investimentos. O mercado não fala em um calote propriamente dito e isso tem uma razão bastante convincente: a maior parte da dívida brasileira, 95%, está em reais.
O tamanho do problema
O Banco Natixis, um dos mais pessimistas sobre a economia brasileira, revisou para O Financistaas projeções para o fim de 2017 com os dados mais recentes. Com uma recessão a 3,2% e déficit fiscal de 2% do PIB, a relação entre a dívida bruta e o PIB, uma medida bastante usada para medir a saúde financeira de um país, saltaria a 89,5%.
“O orçamento precisa de uma revisão pesada a fim de se adequar ao novo ambiente de crescimento”, observa Juan Carlos Rodado, diretor para América Latina do banco francês. As perspectivas para o Brasil ganham contornos trágicos quando começam a ser calculados os efeitos que uma situação como essa podem ter sobre a economia. Os economistas do UBS fizeram essa conta. 
Uma análise publicada na segunda-feira por Guilherme Loureiro, Thiago Carlos e Rafael De La Fuente estima um cenário hipotético no qual a relação dívida/PIB chegaria a um nível no qual Tesouro não conseguiria mais emitir mais dívida. “O exercício indica, por exemplo, que a inflação poderia pular a 22% se o governo não conseguir melhorar o balanço primário além de déficit de 1% e dívida bruta de 80% do PIB”, dizem.
Para Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset, tal realidade lembraria o país nos anos 1980. “Teríamos um juro muito elevado a um custo de carregamento de dívida monstruoso e o dólar acima de R$ 5. Isso não significa que seja insustentável, mas que vamos voltar a um horroroso cenário com dominância fiscal e retorno do overnight”, explica.
“Calote branco”
Considerada a hipótese do Natixis, a inflação dispararia ainda mais e chegaria a 29%. Nesta suposição, o UBS entende que o Banco Central teria que financiar a dívida, isto é, imprimir mais moeda no processo conhecido como “senhoriagem” que é nada mais do que o ganho com a impressão de moeda. Em 2014, o lucro da emissão de moeda ficou em R$ 12,7 bilhões. O banco suíço entende que o mercado já assume uma chance de 10% da “monetização” da dívida.
“A trajetória da dívida do Brasil é insustentável e explosiva. Agora, você sempre tem uma saída, que é um ‘calote branco’ – uma saída inflacionária – você emite para pagar sua dívida”, analisa Silvio Campos Neto, economista da Tendências Consultoria. A economista e pesquisadora do Peterson Institute Monica de Bolle calcula que se a inflação subir de 10% a 20% ao ano em 2018 e continuar nesse nível, a relação da dívida bruta sobre o PIB sobe a 85% em 2017 e depois cai a 80% em 2020. 
Sem o ajuste fiscal, contudo, o remédio da inflação excessiva pode ter duração curta. “Os investidores que estão na América Latina sabem como investir em um cenário como esse de alta inflação, então essa alternativa deverá ter uma curta duração”, alerta Ramón Aracena, economista-chefe para a América Latina do Institute of International Finance (IIF), uma organização que reúne 500 instituições financeiras do mundo. 

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