quarta-feira, 8 de junho de 2016

Principal Sobre nós Clube Artigos Blog Multimídia Biblioteca Eventos Loja Virtual Ensino Cinco características típicas da mentalidade do atraso (Lawrence W. Reed)

ATRASO.01.jpgUma crença que sempre ressalto, dia após dia, é que estamos em guerra — não uma guerra física, que envolve tiros e bombardeios, mas uma guerra suscetível a se tornar tão destrutiva e custosa quanto.
A batalha pela preservação e avanço da liberdade é uma batalha não contra pessoas, mas sim contra idéias contrárias.  O autor francês Victor Hugo certa vez disse: "É possível resistir a uma invasão de exércitos; mas é impossível resistir à invasão de idéias". 
Essa declaração é frequentemente reformulada como "Existe uma coisa mais poderosa que todos os exércitos: uma idéia cuja oportunidade chegou."
Idéias possuem consequências abaladoras e impactantes.  Foram elas que determinaram o curso da história. 
O feudalismo existiu por milhares de anos porque, em grande parte, os professores, intelectuais, educadores, sacerdotes e políticos da época propagavam e defendiam as idéias feudalistas.  A noção de "uma vez servo, para sempre servo" fez com que milhões de pessoas jamais questionassem a situação estacionária de suas vidas.
Sob o mercantilismo, o conceito amplamente aceito de que a riqueza do mundo era fixa e pré-determinada levou indivíduos a roubar tudo aquilo que queriam de outros, o que culminou em uma longa série de guerras sangrentas.
A publicação, em 1776, do livro Riqueza das Nações, de Adam Smith, representou um marco na história do poder das idéias.  À medida que a mensagem de Smith sobre o livre comércio foi se espalhando, as barreiras políticas à cooperação pacífica (via transações voluntárias de mercado) foram entrando em colapso, e praticamente todo o mundo decidiu, pela primeira vez na história, tentar a liberdade.
Marx e os marxistas queriam nos fazer crer que o socialismo era inevitável.  Com mesma certeza que temos de que o sol nascerá amanhã a leste, eles afirmavam que o socialismo é uma ideia que, no futuro, seria implantada em todo o mundo.  No entanto, enquanto os indivíduos forem dotados do livre arbítrio (o poder de preferir o certo ao errado), nada que envolva a escolha humana pode ser inevitável.  Se o socialismo vier, será porque os indivíduos optaram por abraçar seus princípios.
Mas embora o socialismo seja um fracasso completo e comprovado, suas idéias constituem a principal ameaça atual à liberdade.  A meu ver, o socialismo pode ser decomposto nas seguintes cinco idéias.
1. As síndromes do "deveríamos criar uma lei para" e "o governo tem de fazer alguma coisa!"
Criar uma lei ou exigir que o governo "faça algo" são medidas que aparentemente se tornaram um passatempo entre políticos, intelectuais e ativistas. 
Um setor da economia está mal?  O governo deve lhe conceder subsídios ou então aumentar a tarifa de importação sobre os concorrentes estrangeiros.  Pobreza?  Criemos um projeto de lei para aboli-la.  A educação está ruim?  Que se crie um projeto de lei que obrigue o governo a destinar ainda mais dinheiro para os sindicatos dos professores.  A cultura nacional é fraca?  Uma lei que dê mais dinheiro para a classe artística é impreterível.  Os taxistas estão descontentes?  Uma lei proibindo a Uber é urgente.
Quase que invariavelmente, uma nova lei significa: (a) mais impostos para financiar sua imposição e administração; (b) aumento no quadro de funcionários públicos para regular algum aspecto da nossa vida que até então não era regulado; e (c) penalidades a quem violar essas novas leis.
Mais leis significam mais controle governamental, mais poder a políticos, e mais coerção.  Que não haja dúvidas quanto ao significado de coerção: força, espoliação, compulsão, restrição.  Sinônimos para a forma verbal da palavra são ainda mais instrutivos: impingir, exigir, subjugar, extorquir, extrair, arrancar, intrometer, distorcer, coagir, obrigar, pressionar.
Quando o governo intervém na economia, burocratas e políticos passam a maior parte do tempo tentando corrigir as consequências inesperadas de suas intervenções anteriores.  E fazem isso por meio de novos projetos de lei.  Para corrigir os danos causados pela providência A, eles criam o dispositivo B.  Mas como B também gera consequências não-previstas, eles concluem que, para corrigir essas distorções causadas pelo dispositivo B, é necessário criar a cláusula C.  Como C também cria desarranjos, é necessário então aprovar a provisão D.  E assim vai, até que todo o alfabeto, em conjunto com nossas liberdades, seja exaurido.
As síndromes do "deveríamos criar uma lei para" e "o governo tem de fazer alguma coisa!" evidenciam uma fé irracional no processo político e uma confiança plena na força e na coerção, coisas que deveriam ser anátema em uma sociedade livre.
2. A fantasia de que é possível conseguir algo do governo
O governo, por definição, não tem nada para distribuir que antes não tenha confiscado das pessoas.  Impostos não são doações.
Esse fato tão básico é solenemente ignorado pelos clamores de melhores remunerações para o funcionalismo público, mais programas assistencialistas, mais "serviços públicos e gratuitos", mais incentivos ao lazer e à cultura.
Se você acredita que o governo pode lhe dar algo que você não conseguiria adquirir voluntariamente, faça a si mesmo esta pergunta: "De que bolso está saindo isso?  Estaria eu sendo roubado para pagar por esse benefício, ou o governo está roubando outra pessoa para me privilegiar?".  Frequentemente, a resposta é "as duas coisas". 
O resultado dessa fantasia é que todas as pessoas estão com as mãos nos bolsos de outras pessoas.
3. A psicose do "quero mais"
Recentemente, nos EUA, uma mãe que vivia de assistencialismo estatal escreveu uma carta para o Ministério responsável pelo programa e demandou: "Estou grávida do meu sexto filho.  O que vocês farão a respeito?"
Um indivíduo se torna vítima da psicose do "quero mais" quando ele deixa de se enxergar como o único responsável por si mesmo.  A mentalidade é: "Meus problemas não são realmente meus; são da sociedade como um todo.  E se a sociedade não resolvê-los, e rápido, então teremos problemas!".
O socialismo prospera com o abandono da responsabilidade individual.  Quando os indivíduos perdem seu espírito de independência e de iniciativa, quando perdem a confiança em si próprios, eles se tornam mera massa de manobra nas mãos de tiranos e déspotas, que adoram pessoas sem iniciativa e com espírito derrotista.
4. A aflição do "eu sei o que é melhor para você"
Essa é a característica central da ideia socialista. 
O "eu sei melhor" é o tirano que se intromete na vida dos outros.  Sua atitude pode ser expressa desta forma: "Eu sei o que é melhor para você, mas não me satisfaço em apenas tentar convencer você de quão certo eu estou; o que realmente quero é obrigar você a adotar as minhas medidas."
O "eu sei melhor" é a perfeita encarnação da arrogância e da intolerância. 
No linguajar governamental, o refrão do "eu sei melhor" segue este raciocínio: "Se eu não pensei nisso antes, então não pode ser feito; e já que não pode ser feito, tenho de proibir qualquer um que queira tentar".  Como um exemplo prático, o governo proíbe empresas privadas de atuar no serviço de correios com o argumento de que tal serviço não pode ser operado de maneira lucrativa (uma vez que os Correios estatais só operam com prejuízo).
milagre do mercado é que, quando os indivíduos são livres para tentar, eles podem — e realmente conseguem — alcançar grandes feitos.  Se simplesmente aceitarmos que não deve haver restrições artificiais às energias criativas dos seres humanos, a aflição do "eu sei melhor" seria prontamente rejeitada e escarnecida.
5. A inveja obsessiva
cobiça pela riqueza e renda de terceiros foi exatamente o que deu origem à esmagadora maioria das legislações de cunho socialista que são criadas hoje.  A inveja é o combustível que alimenta o motor da redistribuição.  Os vários clamores para que se "tribute mais os ricos" têm suas raízes na inveja e na cobiça.
O que acontece quando as pessoas são obcecadas em sua inveja?  Elas dizem que seus problemas são causados por aqueles que estão em melhor situação financeira do que elas.  Elas atribuem a causa de suas frustrações a quem tem mais posses.
Para tais pessoas, a sociedade está fraturada em classes, e cada facção se alimenta daquilo que rouba da outra.  A história está repleta de exemplos de civilizações que se esfacelaram sob o peso da inveja e de todo o desrespeito à propriedade privada gerado pela inveja.  
Um aspecto em comum
Há algo em comum em todas essas cinco idéias socialistas.  Todas elas apelam aos instintos mais primitivos e sombrios do indivíduo: o lado não-criativo, preguiçoso, dependente, desmoralizante, improdutivo e destrutivo da natureza humana. 
Nenhuma sociedade pode perdurar por muito tempo se sua população se entregar, sem resistência, a tais noções suicidas.
Agora, veja a filosofia da liberdade.  Trata-se de uma filosofia edificante, motivadora, criativa, regenerativa e estimulante.  Ela recorre às — e depende das — qualidades mais nobres da natureza humana, como a responsabilidade individual, a autoconfiança, a iniciativa própria, o respeito à propriedade privada, e à cooperação voluntária.
O resultado dessa batalha entre liberdade e servidão dependerá inteiramente de quais idéias terão maior aceitação nos corações e mentes dos indivíduos.  O júri ainda está deliberando.

Nenhum comentário:

Postar um comentário