quinta-feira, 14 de abril de 2016

Liberalismo econômico e o teológico ( ALBERTO MANSUETI)

raConvém jamais confundir estes dois liberalismos.

Liberalismo é uma palavra polissêmica: tem vários significados ou acepções. Na Europa e América do Norte, liberalism (em inglês) equivale às esquerdas, ao socialismo. Designa os promotores de governos intervencionistas e limitantes, de mercados interditados, isto é, limitados, e de propriedade coletiva ou estatal.
Em nossa América Latina, todavia, “liberalismo” pode significar exatamente o contrário, sobretudo quando seguida do adjetivo “clássico”: designa os partidários de governos limitados a umas poucas funções próprias muito específicas quanto ao livre mercado e à propriedade privada.
Nos países anglo-saxões houve, não faz muito tempo, uma saudável resistência ao socialismo; e por isso os socialistas evitavam se chamar pelo nome, e passaram a se autodenominar “progressistas” (progressives), desde o século 19. Porém, no século 20 foram desmascarados, e mudaram novamente para “liberais” (liberals). E como as esquerdas haviam se apropriado do conceito de “liberalismo”, desde os anos 1950 Hayek recomendou aos verdadeiros liberais o uso da expressão composta “liberalismo clássico” (classical liberalism).
Contudo, o termo em inglês para referir-se ao oposto do socialista (liberal) é mais simples e comumente “conservador” (conservative). Porém, não agradava a Hayek, que então vivia na Inglaterra, onde o Partido Conservador havia abandonado as bandeiras do liberalismo clássico, e se apegado às ideias estatistas do Partido Trabalhista.

Quais as bandeiras distintivas?
São principalmente quatro: liberdade, justiça, igualdade e progresso. Porém, entendidas da seguinte forma: (1) liberdade negativa, no sentido de Isaiah Berlin: uma garantia de autonomia dos indivíduos em todas as esferas privadas, a salvo das interferências e intromissões abusivas de leis más e de governantes; (2) justiça como “dar a cada um o que é seu”: reconhecer como propriedade privada, em tais esferas, o que corresponde a cada qual por direito natural; (3) igualdade perante a lei, sem privilégios para ninguém, sem “monopólios” no sentido de favores especiais decretados legalmente; (4) progresso como avanço na consagração destes princípios.
As esquerdas foram inteligentes no combate a tais bandeiras. “Pois os filhos deste mundo são mais astutos no trato entre si do que os filhos da luz”, lemos em Lucas 16.8 (NVI). Os socialistas não rechaçaram os termos liberdade, justiça, igualdade e progresso, enquanto signos ou “significantes”, porém mudaram por completo seus respectivos significados, para “significar” exatamente o contrário.
Para os socialistas, as quatro palavras são significadas desta outra forma: (1) liberdade “positiva”, no sentido de Isaiah Berlin: garantia legal para uma extensa lista de “direitos humanos” como emprego, moradia, educação, serviços médicos, aposentadorias e pensões etc., que “o Estado” está obrigado a proporcionar gratuitamente a todos, a qualquer custo, inclusive liberdades e propriedades alheias, de outras pessoas, que serão confiscadas para esse fim; (2) justiça como “igualitarismo”, ou seja, “nivelar o campo de jogo” (assim afirmam adeptos do Partido Democrata americano), mediante a concretização de todos esses “direitos” para que “estejamos todos no mesmo nível”; (3) “igualdade”, claro, entendida como de resultados ou ao menos de “oportunidades”; e (4) “progresso” como avanço na sanção legal destes princípios, que são diametralmente opostos aos do liberalismo clássico.
Implementando falsos conceitos
Porém antes de nos dar constituições e leis falsas, tinham de nos dar conhecimentos falsos. Aproveitando o poder do Estado na educação, puseram tais conceitos em lugar dos verdadeiros, em cada área do conhecimento:
1. Nas, ciência naturais, santificaram Darwin para usar a ideia de “evolução” em cada aspecto da vida social e em cada passo da história;ciências naturais

2. Na Filosofia, retiraram todo vestígio de realismo, e impuseram todos os ceticismos, relativismos e subjetivismos (agora o pós-modernismo), negando toda verdade objetiva e a capacidade da razão de descobri-la;

3. Na Psicologia, retiraram a moral e abriram espaço para o pavlovianismo, o condutismo e agora o “humanismo”;

4. Na Economia, desqualificaram o livre mercado, e mesclaram marxismo, keynesianismo, “desenvolvimentismo” e toda a grande família do pensamento estatista; inclusive o monetarismo, com o qual nos dão um dinheiro que também é falso;

5. Nas ciências políticas e jurídicas impuseram o estruturalismo e o funcionalismo, descendentes ideológicos do pragmatismo americano, e o positivismo legal rigoroso, apagando todo rastro de direito divino revelado, e inclusive o direito natural, seu “reflexo imperfeito” segundo os clássicos;

6. Poderiam deixar livre a Teologia, ciência subversiva, cunha da ideia bíblica de governo limitado tanto em funções como em poderes e recursos, nas Escolas de 
Tradutores de Toledo e nas aulas dos teólogos católicos de Salamanca, e com o protestante (calvinista) John Locke? Não, desde então; quando as esquerdas religiosas se apoderaram das igrejas, da mão do romantismo chegou o liberalismo teológico aos seminários para educação dos candidatos ao ministério.
A teologia “liberal” não somente desqualificou a Bíblia, mas também a razão como fonte de conhecimento humano. Julgueis segundo “a reta justiça”, recomendou Jesus (João 7.24), porém Kant descreditou a capacidade de julgar. E seguindo Kant ao invés de Cristo, Sleiermacher fundamentou a religião em sentimentos e emoções; e esse é o “cristianismo” falsificado que temos nas igrejas, junto com o “evangelho social” das esquerdas e sua irmã latina, a teologia marxista “da libertação”.
Faltando em termos eleitorais, o voto pela esquerda, ao menos hoje em dia, é majoritariamente cristão em sua composição, tanto católico-romano como evangélico. Se esclarecermos as pessoas a respeito de muitas de suas ideias e palavras, podemos retirar do socialismo o voto cristão; e todo seu imenso poder cairá de bruços ao solo, como um ídolo com pés de barro.

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