segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Homeschooling: rupturas necessárias ( CAMILA HOCHMÜLLER ABADIE)

É o diploma realmente indispensável?

Praticar o homeschooling tem sido apenas o começo de uma série de mudanças em minha vida e na vida de minha família. É impressionante notar, conforme o tempo avança, como o simples (simples?) fato de ter frequentado instituições de ensino por mais de duas décadas conformou a minha (a nossa?) cabeça a seguir sempre por um mesmo caminho, enxergando somente as opções de sempre e as soluções de sempre.
A primeira ruptura contra a conformação, obviamente, foi sobre a necessidade da escola e sobre a associação entre escola e conhecimento. As rupturas seguintes voltaram-se sobre os hábitos escolarizados na gestão da rotina familiar, ou seja, sobre o quanto não precisamos esperar a campainha ensurdecedora para fazermos 'x', 'y' ou 'z'; sobre o quanto as avaliações formais perdem o sentido quando somos nós os que cuidamos da educação de nossos filhos; sobre o quanto o avançar e o permanecer nos conteúdos não é imposto desde um cronograma aleatório estipulado por um terceiro que nem conhece nossos filhos, mas depende somente de nossa sensibilidade para perceber e acompanhar o ritmo de nossas crianças; entre muitas outras coisas.
Mas a ruptura da vez não diz respeito diretamente ao homeschooling mas, se assim posso dizer, ao pós-homeschooling, isto é, ao mundo do trabalho e tudo o que ele envolve, desde o pretenso término dos estudos em casa.
Por ocasião do ENEM, vi muitos pais homeschoolers angustiados com a hipótese de ter que, contrariando tudo o que fora trabalhado e ensinado em casa ao longo dos anos, precisar ensinar os filhos a "esquerdar", a dar a resposta "certa" na qual não se acredita e, sobretudo, sabe-se ser a errada. Com isso surgiu também a preocupação pela situação calamitosa das nossas universidades, sobre a formação de baixíssimo nível e a necessidade (necessidade?) de um diploma como única garantia de uma vida melhor.
Mas façamos um esforço: é o diploma realmente indispensável? Há casos em que ele o é: se a criança tiver vocação para práticas como a medicina, o direito, a arquitetura... Faculdades que, apesar de tudo, transmitem ou devem transmitir conhecimentos técnicos específicos sem os quais o exercício da profissão torna-se impossível. Nestes casos, é preciso pesquisar as instituições menos piores (já que não temos mais boas instituições) e preparar nossos filhos para toda a sorte de conflitos que encontrarão por lá. Isso quando for impossível enviá-los para estudar fora do país. Todavia, há casos em que a faculdade NÃO é essencial. Ninguém precisa de faculdade para abrir um negócio, seja uma livraria, uma editora, um bar, um bazar, uma gráfica, uma floricultura, uma padaria. Ninguém precisa de faculdade para criar um site, um blog, um canal no youtube, para trabalhar como professor de inglês, de espanhol, de francês, como ghost-writer, como fotógrafo, até mesmo como político... Enfim, há um mundo de possibilidades que independem totalmente de um diploma. Basta ser bom de verdade naquilo que se faz e, para isso, precisa-se de experiência, coisa que se obtém por meio de uma boa rede de contatos, de pessoas dispostas a transmitir o que sabem aos nossos filhos.
O problema, e voltamos ao ponto do início do texto, é o condicionamento. Estamos condicionados a pensar que a segurança está no caminho que todos percorrem, ou seja, na escola, na faculdade e no concurso público. Estamos acostumados a ir com a boiada. O problema é que quando todos vão com a boiada não há boas oportunidades para todos, mas somente para alguns, além de um inevitável enterrar de talentos jamais descobertos ou postos à prova, o que resulta, por sua vez e inevitavelmente, em frustração. Por outro lado, investir em um caminho próprio, alternativo, embora seja menos convencional, oferece chances muito maiores de superação, realização pessoal e sucesso. Afinal, quantos de nós realmente trabalhamos, ou desejaríamos trabalhar, com aquilo no que fomos chancelados pelo MEC? Eu não. Nem o meu marido.
Empurrar nossas crianças, então jovens, para a faculdade mesmo quando elas não o desejam é contrariar a liberdade que vivemos graças à educação domiciliar, pois uma coisa é vocação, outra bem diferente é medo. E já que perdemos o medo do MEC, percamos também o medo de empreender, de dar aos nossos filhos a chance de serem ousados do jeito certo, no tempo certo e para a coisa certa. Energia e capacidade não lhes faltarão.

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