Em discussões socioeconômicas, ter como rivais mentes manchadas de vermelho, que creem na possibilidade de se fazer efetiva uma justiça social por meio de medidas intervencionistas do Estado, leva o litigante mais conhecedor a duvidar gravemente da inteligência, do saber e talvez até do caráter desses adversários. De indivíduos que, num grau mínimo de mentalidade socialista, defendem que toda propriedade privada deve exercer uma função social a indivíduos que defendem que toda a produção deve ser controlada pelo Estado, nenhum desses encontra sustento na teoria econômica, e seu senso ético é disforme, principalmente o dos últimos. Quando o discurso libertário se lhes põe diante, berram um senso comum mil vezes refutado e demonstram absoluto desconhecimento dos conceitos econômicos e dos processos de mercado. Uma tal reação fomenta o pensamento de que adeptos do socialismo e doutrinas semelhantes, cavaleiros quixotescos da justiça social, são ignorantes quanto às refutações ao socialismo e a qualquer prática intervencionista. Por certo, jamais vislumbraram as ideias da Escola Austríaca de Economia, que, com a ira tenaz de Aquiles e a sabedoria de Minerva, destrói as grutas do marxismo e eleva templos ao capitalismo laissez-faire. Eugen von Böhm-Bawerk, um dos principais teóricos da Escola Austríaca, demonstrou a falsidade do conceito de mais-valia, da teoria valor-trabalho e, entre outras refutações, da teoria da exploração de Marx. Após Böhm-Bawerk, seu mais brilhante aluno, Ludwig von Mises, que prenunciou a Grande Depressão, desferiu sobre o socialismo o golpe de misericórdia, atribuindo-lhe definitivo caráter de impossibilidade, com sua demonstração do problema do cálculo econômico socialista. Socialismo, seu tratado crítico sobre esse sistema, publicado em 1922 em língua alemã, soou por toda a Europa como um réquiem ao trabalho de Marx. Mises, Böhm-Bawerk e outros teóricos da Escola Austríaca também atacaram impiedosamente todas as demais formas de intervencionismo. O livro-resumo de como as intervenções estatais são perniciosas é o Economia Numa Única Lição, de Henry Hazlitt. Por existir tanto conhecimento – empírico e teórico – que comprova a nocividade das intervenções estatais em todo nível, a ignorância dos simpáticos a essa política toma caráter indubitável.
Ludwig von Mises |
Creio que possa existir, na alma de alguns preocupados com a causa da justiça social, verdadeira pulsão de fraternidade para com a gente pobre. O desamparo de uns comove homens bons, os quais se valem das primeiras ferramentas que julgam próprias para resgatar seus semelhantes. É turvo, porém, seu senso ético. Querem ajudar a uns com recursos tomados à força de outros. Não enxergam a nulidade de seu esforço: empobrecem um grupo para enriquecer outro. Mas, a rigor, não é nulo o resultado disso; antes fosse. Medidas assim, no cálculo final, diminuem de modo geral a riqueza da nação. Sem considerar as distorções de mercado causadas pelas medidas estatais de redistribuição de renda, quero apontar em especial a perversidade disso, falando não ao bolso do homem, mas a seu coração. Tirando os homens que lograram fortuna por meios criminosos e antiéticos, todos os outros indivíduos opulentos assim se fizeram por terem conseguido atender melhor que seus rivais às demandas do mercado. Este o premiou enriquecendo-o. O agente econômico que melhor satisfaz os desejos dos consumidores prospera; aquele que não o faz é obrigado a se aperfeiçoar ou trocar de meios, e isso é natural e bom e justo. Redistribuir a renda é favorecer empreendedores malsucedidos a expensas dos indivíduos que melhor satisfazem os desejos das pessoas que compram. É sustentar indivíduos menos produtivos mediante a espoliação dos mais produtivos. E por isso é antiético e injusto. Redistribuir a própria renda, por outro lado, não só é legítimo como é ação caridosa, mas o exercício da caridade implica voluntariedade, não coerção. Os defensores dessa injustiça podem dizer que se importam com oferecer oportunidades iguais a todos, no entanto isso não se faria sem uso da coerção e, portanto, é ilegítimo, antiético e injusto. As crianças que nasceram em áureos berços que culpa têm elas da desventura das crianças pobres? Não é justo que paguem pela desdita alheia. Ademais, sempre a desigualdade existirá, já que não somos iguais em competências nem em habilidades.
Carl Menger, fundador da Escola Austríaca, Eugen von Böhm-Bawerk, Ludwig von Mises, Friedrich A. Hayek e Murray Rothbard |
A ética disforme nos espíritos socialistas e socialdemocratas resulte talvez de sua ignorância e obtusidade. Tantos equívocos corrigir-se-iam à medida que estudos econômicos lhes fossem trazendo saber e certas leituras fossem retificando sua ética. Porém, se, nem diante da irrefutável teoria da Escola Austríaca e nem de um conhecimento aperfeiçoado da ética da liberdade, se nem com isso o sujeito deixa de bradar o discurso socialista ou socialdemocrata, resta somente, como único parecer razoável, o de que esse sujeito é desonesto ante questões intelectuais e tem índole má – ou sua estultícia o torna incapaz de seguir um raciocínio lógico econômico. Um sujeito que conscientemente luta a favor do empobrecimento de todos e do uso da coerção contra homens pacíficos não pode ser senão um mau-caráter.
Fica, então, mostrado que socialistas e seus semelhantes apenas podem ser cativos da ignorância, ser cognitivamente desfavorecidos ou ter má índole. Nenhuma outra hipótese há que elucide sua existência*.
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