segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

O plano de emergência do PT (NIVALDO CORDEIRO)


ldmCada uma das propostas “concretas” e revelam a insanidade e a irresponsabilidade do Partido dos Trabalhadores.

Eu já escrevi em vários lugares que há uma incompatibilidade essencial entre a realidade e os desejos desvairados das esquerdas na condução da economia. O recente documento do PT (O futuro está na retomada das mudanças) é um atestado de loucura que os utópicos ora no poder não hesitariam em pôr em prática, se dispusessem do poder total. Chamo a atenção para as 22 propostas “concretas” apensas ao final do documento, um conjunto de disparates que, se implantado, condenaria o Brasil a voltar à Idade da Pedra.
O texto inicia, como de hábito em todos os textos “teóricos” do PT, responsabilizando supostas forças conservadoras pelas desventuras do país e não o que é de fato, resultado da administração atrabiliária e incompetente do partido, principalmente depois da posse de Dilma Rousseff. Os escritores do documento deram completamente as costas à realidade e passaram a desfilar seus preconceitos e palavras de ordem indigentes, incapazes de fazer frente aos desafios nacionais impostos pela crise.
O documento identifica tais forças conservadoras com o grande capital rentista, nacional e internacional, como se os banqueiros nacionais e metacapitalistas internacionais não fossem os capitães no apoio ao PT e a Lula. Eles são os seus grandes financiadores, ao lado do produto da corrupção agora bastante conhecida. Há aqui um fingimento propositado, pois afinal os cabos eleitorais do PT passaram a vida a demonizar os banqueiros e rentistas. Nisso reconheço plena coerência dos escritores atuais do documento com aqueles de passado remoto, do início da vida do partido.
Os escritores do documento não hesitaram em afirmar que os ajustes que se fazem necessários são esforços dos conservadores para manter a rentabilidade de seus negócios, quando estamos vendo a quebra em cadeia de grupos empresariais. A retração abrupta do PIB está fazendo desaparecer uma legião de empresas, muitas delas de grande porte. Fingem não perceber que os ajustes são um imperativo da realidade e nada têm a ver com a luta de classes ou outra quimera que queiram. É o princípio de realidade funcionando ou, se quiser, é a lei da escassez prevalecendo, contra os desejos dos falsos teóricos esquerdistas. Reforçam seu argumento com a velha cantilena contra a desigualdade, como se fosse possível suprimi-la. A utopia tem sua justificação em última instância nessa besteira.
Para essa gente, elevação real de salário mínimo e aposentadorias precisam continuar, assim como a regulação sufocante que inviabiliza a ação do setor privado. Esses pseudo-teóricos pensam que tudo que há de bom vem do Estado e tudo que é perverso vem da iniciativa privada, quando a realidade é precisamente o oposto. Eles agora usam como discurso e parâmetro uma suposta era do ouro que teria sido o governo Lula, quando se sabe que os desequilíbrios estruturais que trouxeram a crise foram ali gestados. E não têm uma palavra para rememorar a estupidez e a violência que foi o tarifaço no começo da gestão do segundo governo de Dilma Rousseff. É como se não tivesse existido.
Com a economia destroçada e em queda livre, elevando o desemprego à casa dos dois dígitos, assim como a inflação, os escritores do texto não tiveram pejo de dizer que “O combate à pobreza e à desigualdade, para nós, não era apenas princípio ético, mas instrumento primordial para a edificação de um novo e sustentável modelo de desenvolvimento. “ Chega a ser hilário ler a palavra “ético” num texto produzido pelo PT depois das bandalheiras reveladas e seus quadros dirigentes aprisionados. Seus tesoureiros todos idem. Essa gente simplesmente se recusa a aceitar que desenvolvimento só pode vir do trabalho conjugado com a poupança. Seu sonho é transformar toda gente em rentista do Estado.
É claro que não poderiam ter esquecido de falar contra o “imperialismo”, mas desta vez sem coragem de nominar os EUA. Ora, o drama brasileiro atual é precisamente o fato de o PT ter tornado a China o principal parceiro comercial do Brasil e aquele país ter entrado em uma crise de grandes proporções, arrastando o Brasil junto. Um erro estratégico elementar, mas os “teóricos” não são capazes de reconhecê-lo.
Eu poderia aqui comentar cada uma das propostas “concretas” postas ao final do documento, mas elas falam por si mesmas e revelam a insanidade e a irresponsabilidade do Partido dos Trabalhadores. Chamo a atenção, todavia, para duas delas: redução arbitrária e profunda na taxa de juros e a elevação de impostos. É certo que o PT não reúne forças suficientes para pôr essas iniquidades em andamento, embora possam revelar a qualidade intelectual e moral do partido governante, que não guarda nenhum compromisso com a realidade. Se o PT não for ejetado imediatamente do poder, todavia, poderá pôr em prática algumas das insanidades listadas, que dependem apenas do Poder Executivo. Será a destruição do Brasil, da sua economia, e o empobrecimento de toda a gente. Não há data para o Brasil sair da crise.
Quem viver verá.

Shortinhos, feminismo e machismo (PERCIVAL PUGGINA)


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Essas alunas estão deliciosamente a serviço do machismo! Será necessário desenhar?

Fui e continuo sendo fã de Millôr Fernandes, que abria suas festejadas páginas afirmando - "Livre pensar é só pensar". Por vezes, essa frase me vem à mente clamando por um adicional: "Mas quem não for capaz disso, não me faça perder tempo".
Foi o que senti ao saber da polêmica sobre o supostamente inalienável direito humano ao uso dos shortinhos pelas alunas do Colégio Anchieta. Analistas de reconhecido pêlo ideológico alinharam-se com as jovens e não duvido de que, em breve, o STF esteja decidindo sobre o direito que as pessoas têm de se vestir como bem entenderem. No ato de protesto, as alunas portavam cartazes e, num deles, se lia: "O machismo não decide a minha roupa".
Não conheço macho da espécie que se sinta aborrecido ou ultrajado diante de uma jovem de shortinho. Bem ao contrário. Portanto, essas alunas estão deliciosamente a serviço do machismo! Será necessário desenhar? E estão se prestando, também, ingenuamente, a uma causa que menospreza a liberdade individual. A linha política e ideológica que veio em socorro dos shortinhos é a mesma que, alguns metros adiante, estará tachando de burguesas tais modinhas e grifes. A pauta supostamente feminista em que estão envolvidas é uma pauta internacional, de natureza política, velha há mais de meio século. Tem por método dissociar a liberdade dos devidos parâmetros de responsabilidade e autoridade. E tem por finalidade, destruir a autoridade e a responsabilidade. Não, não é para assegurar a liberdade que o faz, mas para combater a civilização que produz esses shortinhos pelos quais as referidas alunas inflamadamente lutam.
Nos Estados Unidos, há bom tempo, jovens da mesma idade portavam cartazes dizendo: "I dress up for myself!. Seria mesmo? Será mesmo? Duvido. É muito improvável que alguém se vista apenas para si. Vivemos em sociedade, como seres individuais e sociais. Estamos, fisicamente, em sociedade, com os outros. A menos que seja um ambiente deserto, sempre haverá outras pessoas onde estivermos. O que denominamos de nossa imagem é algo que transmitimos aos demais. É por isso que as diferentes instituições estabelecem normas sobre vestuário e insubordinar-se ante elas não é um serviço a coisa alguma. Aliás, quase podemos dizer que nossa imagem não é nossa, tão relacionada é com o modo como somos vistos. É por esse fato singelo da vida que existem roupas adequadas a cada situação de convívio social.
Penso estar tratando de algo que nosso país exibe e grita ao mais desatento observador. O Brasil vale por um workshop sobre como a liberdade sem limites acaba com a liberdade de todos. Ademais, convenhamos: com o país do jeito que está, despender energia e mobilização protestando por shortinhos é o cúmulo da alienação!











sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Quem será cassado antes: Fernando Pimentel ou Dilma Rousseff?Ou:"PF vai interrogar Pimentel (oantagonista)

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Rodrigo Janot, de acordo com O Globo, mandou a PF interrogar Fernando Pimentel sobre os pagamentos suspeitos à empresa da mulher dele, Carolina Oliveira.
Quem será cassado antes: Fernando Pimentel ou Dilma Rousseff?

Financiamento privado e financiamento público de campanha - o ruim é melhor que o péssimo ( Lew Rockwell)


N. do E.: O artigo a seguir foi adaptado para a realidade brasileira
urnas.jpgSejamos francos: a súbita fixação dos intelectuais, dos políticos e da opinião pública com o tema dofinanciamento de campanha — se deve ser privado (com doações de pessoas físicas e jurídicas) ou público (com o dinheiro de impostos da população trabalhadora) — não fará nada para incutir mais honestidade ao governo e nem muito menos aumentará as liberdades econômicas e sociais de ninguém. 
No entanto, há um aspecto positivo: essa azáfama dará ao público uma lição de moral e cívica.  Qualquer que seja a modalidade adotada, ficará evidente que o governo não apenas não é um agente neutro no que tange a critérios de justiça, como também é um esquema corrupto por meio do qual aqueles mais politicamente poderosos enriquecem à custa de todo o resto da população.
A corrupção, a propina, os lobbies, e a pressão dos grupos de interesse têm inevitavelmente de ser a regra quando se tem um governo que confisca quase 40% da renda da população, que gasta R$ 1,65 trilhão (ou R$ 2,22 trilhão se considerarmos o refinanciamento da dívida) do dinheiro dos outros, que pode criar sem qualquer restrição leis e regulamentações que beneficiem os mais bem politicamente conectados, e que assume poderes quase divinos sobre todos os aspectos da nossa vida.
Quanto mais poder, dinheiro e privilégios estiverem em jogo, mais alto será o preço que os espertalhões estarão dispostos a pagar para ter acesso a essas mordomias.  Não faltarão grandes empresários querendo auferir privilégios como restrições de importação, subsídios diretos, tarifas protecionistas, contratos para grandes obras, empréstimos subsidiados feitos por bancos estatais, e agências reguladoras criadas com o intuito de cartelizar o mercado e impedir a entrada de concorrentes estrangeiros. Quando lobistas, grupos de interesse, empreiteiros e grandes empresários têm de competir entre si para ter acesso a essas prebendas, mais alto será o preço cobrado pelos políticos e reguladores para lhes conceder tais delícias.
Por isso, sempre que um partido político vier a público acusando os outros de corrupção, eis a regra: acredite em cada palavra.  Tudo o que um diz sobre o outro é verdade.  Eles estão lá dentro e sabem perfeitamente de tudo o que ocorre.
O problema com o financiamento público de campanha
Em termos de governo, tamanho e corrupção andam de mãos dadas.  Quanto pior é um governo, mais ele cresce à custa da população.  Enquanto suas receitas forem coercivamente confiscadas da população, o governo pode perfeitamente desconsiderar o interesse público e se concentrar apenas em recompensar seus amigos e punir seus inimigos. 
Leis, regras e eventuais delações feitas por quem foi pêgo em flagrante (e quer tentar reduzir a pena ou quer simplesmente entregar o esquema porque não está se sentindo devidamente gratificado por seus companheiros) funcionam tão bem quanto grades de prisão feitas de barbante.  Até hoje, a humanidade ainda não descobriu um método para impedir que o estado seja ladrão e aja exatamente de acordo com sua natureza espoliativa.  Varia apenas o grau, a voracidade e a explicitude do esbulho.
Por tudo isso, a questão do financiamento de campanha é apenas um aspecto do problema geral, mas é um aspecto particularmente interessante.  Por ora, estamos apenas ouvindo que o financiamento privado tem de acabar porque ele gera favoritismo e isso seria ilegal.  Mas o problema com esse raciocínio é que a vasta maioria da corrupção que ocorre no governo é perfeitamente legal.
Restrições de importação, regras de conteúdo local que privilegiam fornecedores nacionais, subsídios diretos, tarifas protecionistas, empréstimos subsidiados feitos por bancos estatais, e agências reguladoras criadas com o intuito de cartelizar o mercado e impedir a entrada de concorrentes estrangeiros são medidas legais adotadasexclusivamente com o intuito de privilegiar grupos de interesse. 
Embora sejam claramente imorais e anti-éticas — pois utilizam o dinheiro dos pagadores de impostos em prol de empresários politicamente bem relacionados, proíbem a concorrência, e restringem as opções de compra dos consumidores —, tais medidas jamais mereceram investigações por parte de comissões parlamentares.
Por tudo isso, aqueles que ainda creem na ficção de que "é possível termos um governo bom e honesto" advogam uma completa reforma do financiamento de campanha: para acabar com a influência dos grupos de interesse, eles defendem a proibição de todo e qualquer tipo de doação privada, e querem que os pagadores de impostos, em vez de empresas privadas, arquem com os altos custos das campanhas políticas. 
Por mais execrável que seja o atual arranjo, este outro conseguiria ser ainda pior.
No atual arranjo, ao menos ainda há uma chance, por menor que seja, que um cidadão comum e genuinamente bem intencionado faça alguma diferença.  De tempos em tempos, um cidadão tipo Ron Paul pode surgir e desequilibrar o equilíbrio dos partidos dominantes.  Ele pode conseguir alterar os termos do debate e, com isso, impedir que a atual elite política consiga o completo controle sobre um processo democrático que já está todo adulterado e manipulado.
Por outro lado, com um financiamento público de campanha, tal possibilidade seria nula.  O financiamento público de campanha, ao distribuir o dinheiro do povo de acordo com a representação de cada partido, simplesmente impede que "forasteiros" e "intrusos" participem do processo.  Mais ainda: o financiamento público de campanha impede que "intrusos" e "forasteiros" sejam financiados por seus apoiadores e, com isso, tragam algum risco para toda a máquina política já estabelecida. 
O efeito do financiamento público de campanha será simplesmente o de perpetuar os políticos profissionais, impedindo que "forasteiros" e "intrusos" participem do processo.
Quanto mais dinheiro de impostos for derramado nas campanhas políticas, mais o sistema será desvirtuado e corrompido em prol da elite política que já está no poder.
Contribuições privadas podem, sim, trazer efeitos benéficos
Vale ressaltar que contribuições privadas a campanhas políticas — mesmo aquelas que influenciam diretamente o que um senador, deputado ou presidente irá fazer — não são, por si só, ruins e maléficas.  Tudo depende de se o interesse que está sendo defendido está de acordo com o interesse público.
Por exemplo, digamos que um grupo anti-impostos financie a campanha de um senador.  Tão logo o senador é eleito, esse grupo exige que ele retribua o favor criando leis que reduzam profundamente os impostos.  Isso não é corrupção, pois o resultado de um corte de impostos é tornar as pessoas mais livres, permitindo que elas retenham mais do seu próprio dinheiro.  Ninguém foi roubado nesse processo.  Não se aumentou a coerção sobre terceiros.  A liberdade de ninguém foi tolhida.
Por outro lado, suponhamos agora que um grupo pró-impostos financie a campanha de outro senador.  Tão logo este é eleito, o grupo exige que ele retribua o favor criando projetos de lei que elevem impostos.  Isso, sim, é corrupção.  E é corrupção não pelo fato de o senador ter recebido dinheiro privado ou estar retribuindo um favor, mas sim pelo fato de ele estar aumentando a espoliação e destruindo a riqueza da sociedade.  Essa medida do senador seria imoral e maléfica independentemente de ele ter recebido contribuições de campanha ou não.
Na política, assim como no mercado, dinheiro e influência andam de mãos dadas.  A questão passa a ser como se dá essa combinação.  Se ela for utilizada em detrimento da sociedade livre, então ela tem de ser condenada.  Se ela for utilizada para promover um genuíno bem comum — como quando ela atua em prol da liberdade —, então ela merece elogios.
E o raciocínio acima pode ser aplicado a qualquer área.  Imagine, por exemplo, que uma fabricante estrangeira queira vender carros baratos para os consumidores brasileiros.  Atualmente, ela é impedida de fazer isso por causa das altas tarifas de importação vigentes para proteger o cartel das montadoras nacionais.  O político que aceitar esse dinheiro estrangeiro e batalhar contra essas tarifas de importação estará fazendo exatamente aquilo que um homem público deveria fazer: trazendo mais liberdade para os consumidores, aumentando seu poder de compra, aumentando suas opções de compra e acabando com as reservas de mercado. 
Não há nenhuma base econômica ou moral para se impor qualquer restrição legal às opções de compra e venda de uma população.
O mesmo raciocínio se aplica a subsídios, a regulamentações anti-empreendedores, a agências reguladoras que protegem empresas nacionais e proíbem a entrada de empresas estrangeiras, a empréstimos feitos por bancos públicos que são subsidiados pelo Tesouro, a contratos com empreiteiras que são pagas com dinheiro de impostos etc.
Conclusão
O fato é que quantias inimagináveis de dinheiro são hoje utilizadas para financiar eleições.  Se o governo fosse menor — e como consequência as pessoas fossem mais livres —, essa quantidade de dinheiro gasta também seria inevitavelmente menor.
Se este é o objetivo, a única maneira de alcançá-lo é reduzindo os privilégios que estão em jogo a cada eleição.  Retire poderes do governo, e o interesse dos grandes grupos empresariais em controlá-lo também cairá.  Afinal, quanto maior e mais poderoso um governo, quanto mais leis e regulamentações ele cria, mais os empresários poderosos e com boas conexões políticas irão se aglomerar em torno dele para obter privilégios.
Enquanto não chegarmos a esse ponto, a única alteração no financiamento de campanha que vale a pena ser perseguida é remover todos os limites às contribuições pessoais e empresariais.  Impedir conflitos de interesse é fácil: basta abolir todos os privilégios garantidos pelo governo, todos os subsídios, todas as regulamentações e tarifas que foram implantadas apenas para proteger grandes empresas.  Favores legais que são implantados à custa de terceiros não deveriam estar disponíveis, qualquer que seja o preço.  A liberdade, que deveria ser garantida por direito, jamais deveria estar à venda.
De resto, o que nós deveríamos fazer enquanto o Congresso, a presidência e os partidos políticos debatem esse tema?  Regozijarmo-nos com o fato de que, enquanto debatem, eles não estão fazendo suas atividades rotineiras.








quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Nossa cultura popular contemporânea (DOMINICK ARMENTANO)


junoSerá que a esquerda realmente tem o monopólio sobre a narrativa hoje? No filme Obvious Child, Jenny Slate interpreta Donna Stern, uma comediante de stand-up, que é especializada em fazer piadas sobre suas partes íntimas, com a incursão ocasional no humor flatulento. Ela está prestes a entrar no palco. Sua amiga lhe oferece algum incentivo: “Você vai acabar com tudo lá em cima!”
Donna responde: “Na verdade, tenho uma consulta marcada para fazer isso amanhã.”
Donna está falando sobre sua consulta agendada para fazer um aborto.
Entendeu? É engraçado porque é verdade. Ou, se você é como eu, você não acha graça porque é verdade.
Muitos críticos acham que é engraçado. Um afirmou que “de longe está é a comédia pró-aborto mais premiada de todos os tempos.” Claro que, como gênero artístico, a coisa está nivelada por baixo, seria algo como fazer o melhor sushi de posto de gasolina do estado de Oklahoma.
Desde a estréia, no mês passado, o filme arrecadou menos de US$ 2 milhões. Compare isso a Juno, um filme brilhante [de 2007] amplamente visto como pró-vida (pelo menos entre os pró-vida), ou Knocked Up, uma comédia romântica vulgar também aclamada por adversários do aborto, os quais arrecadaram mais de US$ 140 milhões no mercado interno. Portanto, Obvious Child está mais para um filme mal-sucedido do que para um divisor de águas cultural que seus apologistas e detratores o fazem parecer.
Isso é digno de nota dado que a escritora e diretora do filme, Gillian Robespierre, foi motivada em parte porque filmes como Juno e Knocked Up “esfregaram [na cara dela] a má escolha feita.”
Dinesh D’Souza teve uma motivação semelhante ao fazer America: Imagine the World Without Her, um documentário que é uma carta de amor ao seu país adotivo. Ele é muitas vezes descrito como o Michael Moore da direita, mas ele possui um objetivo maior, na esperança de um dia competir com Steven Spielberg e Oliver Stone na produção de longa-metragens. Ele diz a National Review que “a esquerda conhece o poder de contar uma história.” Stone e Spielberg são “muito maiores do que Michael Moore. Eles não fazem filmes de esquerda – eles apenas fazem filmes, e eles têm um ponto de vista. Eu quero fazer filmes com um ponto de vista diferente.”
D’Souza está absolutamente certo sobre Spielberg (embora tenha sido muito gentil com Stone). Uma das minhas maiores queixas sobre o conservadorismo contemporâneo – dentro e fora da política – é que ele perdeu de vista a importância de contar histórias.
Meu falecido amigo Andrew Breitbart gostava de dizer que a política está abaixo da cultura, o que significa que qualquer reviravolta política verdadeiramente bem-sucedida precisa começar por mudar as atitudes populares. Adam Bellow, um célebre editor de livros conservadores, tem uma convicção semelhante e está tentando iniciar uma revolta conservadora no mundo da ficção.
breitbartDesejo-lhes grande sucesso. Ainda assim, eu acho que há algo faltando nessa conversa antiga à direita (conservadores têm usado tais argumentos desde 1950 — se não foi a partir da década de 1450, com a publicação da Bíblia de Gutenberg). Os conservadores se recusam a celebrar, ou mesmo perceber, o quanto da cultura popular está do seu lado.
Claro, Hollywood geralmente é muito esquerdista, mas a América não é. A julgar por suas campanhas de doação, os esquerdistas de Hollywood são muito favoráveis ao aborto. Mas há uma razão pela qual os seriados desde Maude não possuírem um monte de episódios sobre o aborto. Na verdade, quase todas as personagens grávidas de TV tratam o feto como um ser humano.
A esquerda pode ser anti-militarismo, mas esses filmes tendem a fracassar, sendo este o motivo pelo qual vemos mais filmes pró-militarismo. Da mesma forma, é uma aposta segura que os esquerdistas de Hollywood detestam armas. Mas você não saberia por meio daquilo que produzem. Não são muitos os astros de filmes de ação a salvar o dia por ter recitado um poema. A maioria dos esquerdistas de Hollywood, provavelmente, opoẽm-se à pena de morte, mas eles fazem um monte de filmes onde o bandido encontra uma morte horrenda sob os aplausos do público. A esquerda tem nojo dos “valores familiares,” mas estes são a essência da maioria das comédias e dramas de sucesso.
Uma explicação é que, embora seja verdade que a cultura está acima da política, eu diria que a realidade e o senso moral estão acima da cultura. Boas histórias devem alinhar-se com a realidade e um senso de justiça. Elas podem se passar no espaço ou na terra média, mas se não condizem com algo real sobre a condição humana, serão um fracasso. Como Margaret Thatcher costumava dizer: “Os fatos da vida são conservadores.”
A confirmação do que digo, penso eu, pode ser vista no fracasso do esquerdismo de Hollywood em ser tão esquerdista como gostaria de ser. E isso é de fato engraçado porque é verdade.

Todo poder aos sovietes do fisco tupiniquim: STF acaba, na prática, com sigilo bancário no Brasil (Jorge Serrão )



A informal União das Republiquetas Soviéticas de Bruzundanga obteve ontem uma vitória consagradora na mais alta Corte do Judiciário. Por nove votos a dois, o Supremo Tribunal Federal declarou a constitucionalidade da Instrução Normativa da Receita Federal que obriga os bancos a informarem ao fisco a movimentação mensal acima de R$ 2 mil (feita por pessoas físicas) e superior a R$ 6 mil por pessoas jurídicas. A decisão do STF, que na prática quebra o sigilo bancário, teve até direito a nota oficial de comemoração pelo Ministério da Fazenda, celebrando "a obtenção de importante vitória".

A derrota suprema foi dos contribuintes compulsórios do País dos 92 impostos, taxas, contribuições e infindáveis multas ou portarias das Receitas federal, estaduais e municipais. Referendaram a ditadura das Instruções Normativas do fisco os ministros Edson Fachin, Dias Toffoli Luís Roberto Barroso, Teori Zavascki, Rosa Weber, Cármen Lúcia, Luiz Fux, Gilmar Mendes e Lewandowski. Apenas votaram contra os ministros Marco Aurélio e Celso de Mello, mesmo argumentando que o poder público não pode vasculhar as contas dos contribuintes arbitrariamente, sem autorização do Judiciário.

No Brasil Capimunista, rentista e corrupto, foi mais uma vitória do poder estatal contra a liberdade econômica do cidadão. O argumento do mais antigo integrante do STF, Celso de Mello, foi solenemente ignorado: " A administração tributária, embora podendo muito, não pode tudo. Sob pena de inadmissível consagração de eventual atuação arbitrária do Estado, com inaceitável comprometimento do direito que assiste a qualquer pessoa, uma vez que quebra de sigilo não pode converter-se em instrumento de indiscriminada devassa, havendo necessidade, caberá à administração tributária dirigir-se ao Poder Judiciário".

Quem garante que o monitoramento da Receita só poderá ser realizado se houver procedimento administrativo instaurado para apurar a suposta infração cometida pelo contribuinte (conforme ponderaram os ministros que aprovaram a monstruosidade burocrática). Até o presidente do STF, Ricardo Lewandowski, mesmo votando a favor, foi obrigado a fazer uma advertência: " Não é possível permitir que o Fisco fique manipulando os dados sigilosos por muito tempo sem notificar o contribuinte".

O argumento do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, foi fundamental para convencer os ministros do STF: "Nos EUA, qualquer transação realizada acima de 10 mil dólares é automaticamente comunicada à autoridade tributária, e continua sendo uma democracia. A atuação administrativa se dá da mesma forma que ocorre no Brasil. Não há aqui quebra de sigilo, o que há é a transferência do sigilo a órgãos que têm como atividade própria a lida com o sigilo no seu dia a dia".

Na mesma balada, os ministros que deram mais poder à Super Receita Federal ponderaram que a norma é importante para garantir a arrecadação de impostos e frear o cometimento de crimes – como a sonegação fiscal, a lavagem de dinheiro e a corrupção. Os "inocentes" ministros do STF ainda lembraram que auditores da Receita que vazarem informações sigilosas sobre contribuintes podem ser responsabilizados administrativamente e criminalmente por desvio de comportamento.

O voto do ministro Gilmar Mendes, classificado pela petelândia como "opositor", foi um dos libelos da liberalidade para dar todo poder ao fisco dos sovietes tupiniquins: "Ninguém duvida que o indivíduo tem o direito de manter longe dos olhos públicos suas informações privadas, inclusive as relativas à vida financeira. No entanto, o Fisco tem o dever de identificar o patrimônio, o rendimento e as atividades econômicas do contribuinte, conforme previsto na Constituição, e precisa dos meios necessários para tanto".

Na prática, a maioria do STF deu plena constitucionalidade à Lei Complementar 105, de 2001, que autorizou as autoridades fiscais a acessar informações bancárias dos contribuintes sem necessidade de decisão judicial autorizando a quebra do sigilo. Também deu aval pleno para a Instrução Normativa 1.571, baixada em julho de 2015, determinou que os bancos informem ao Fisco movimentação financeira mensal acima de R$ 2 mil feita por pessoas físicas e acima de R$ 6 mil feita por pessoas jurídicas. A Instrução Normativa criou a e-Financeira, um sistema que obriga as instituições financeiras a informar eletronicamente essas transações à Receita Federal.

A entrega de dados financeiros será feita não apenas pelos bancos, mas por seguradoras, corretoras de valores, distribuidores de títulos e valores mobiliários, administradores de consórcios e entidades de previdência complementar. Com os dados da "e-Financeira", o Fisco vai cruzar informações para verificar compatibilidade com os valores apresentados na declaração do Imposto de Renda.

Em resumo: as diferentes gestapos brasileiras ganharam mais um presentão do STF para aprofundar o bisbilhotamento da vida dos cidadãos, enquanto a corrupção estrutural e sistêmica continua comendo solta no Brasil da impunidade. Os promotores do rigor seletivo vão fazer a festa. Os inimigos do Estado vão pagar o pato - e cada vez mais impostos, taxas, contribuições e multas...

A VEJA JÁ ERA. OU:"PT ocupa a Veja" (Oantagonista)

O PT passou 13 anos tentando destruir a Veja.
Agora não é mais preciso: André Petry é o novo diretor da revista.
Eu, Diogo, considero irônico que o PT tenha assumido o controle da Veja num momento em que tanto o PT quanto a Veja caminham para a extinção.











quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Explosão da crise caminha para “calote branco” e inflação a 20% (Ofinancista)

Atrasar o ajuste nas contas públicas brasileiras tem tornado mais próximo e provável um cenário de ruptura que resultará em inflação superior a 20% e impressão de moeda para pagar a dívida pública. Economistas consultados por O Financista acreditam que, caso a equipe econômica não arrume a casa, essa realidade virá a partir de 2018.
A deterioração das contas públicas irá, de acordo com os economistas, levar a uma mudança no perfil da dívida. Ou seja, os investidores ficarão relutantes em aceitar papéis prefixados, de longo prazo, e passarão a exigir juros mais elevados e vencimentos mais curtos. “O governo já está encurtando a dívida”, avalia Daniel Weeks, economista da Garde Asset Management.
“Estamos em uma situação onde a dívida pública é grande demais para permitir juros de primeiro mundo”, analisa Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central e sócio-fundador da Rio Bravo Investimentos. O mercado não fala em um calote propriamente dito e isso tem uma razão bastante convincente: a maior parte da dívida brasileira, 95%, está em reais.
O tamanho do problema
O Banco Natixis, um dos mais pessimistas sobre a economia brasileira, revisou para O Financistaas projeções para o fim de 2017 com os dados mais recentes. Com uma recessão a 3,2% e déficit fiscal de 2% do PIB, a relação entre a dívida bruta e o PIB, uma medida bastante usada para medir a saúde financeira de um país, saltaria a 89,5%.
“O orçamento precisa de uma revisão pesada a fim de se adequar ao novo ambiente de crescimento”, observa Juan Carlos Rodado, diretor para América Latina do banco francês. As perspectivas para o Brasil ganham contornos trágicos quando começam a ser calculados os efeitos que uma situação como essa podem ter sobre a economia. Os economistas do UBS fizeram essa conta. 
Uma análise publicada na segunda-feira por Guilherme Loureiro, Thiago Carlos e Rafael De La Fuente estima um cenário hipotético no qual a relação dívida/PIB chegaria a um nível no qual Tesouro não conseguiria mais emitir mais dívida. “O exercício indica, por exemplo, que a inflação poderia pular a 22% se o governo não conseguir melhorar o balanço primário além de déficit de 1% e dívida bruta de 80% do PIB”, dizem.
Para Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset, tal realidade lembraria o país nos anos 1980. “Teríamos um juro muito elevado a um custo de carregamento de dívida monstruoso e o dólar acima de R$ 5. Isso não significa que seja insustentável, mas que vamos voltar a um horroroso cenário com dominância fiscal e retorno do overnight”, explica.
“Calote branco”
Considerada a hipótese do Natixis, a inflação dispararia ainda mais e chegaria a 29%. Nesta suposição, o UBS entende que o Banco Central teria que financiar a dívida, isto é, imprimir mais moeda no processo conhecido como “senhoriagem” que é nada mais do que o ganho com a impressão de moeda. Em 2014, o lucro da emissão de moeda ficou em R$ 12,7 bilhões. O banco suíço entende que o mercado já assume uma chance de 10% da “monetização” da dívida.
“A trajetória da dívida do Brasil é insustentável e explosiva. Agora, você sempre tem uma saída, que é um ‘calote branco’ – uma saída inflacionária – você emite para pagar sua dívida”, analisa Silvio Campos Neto, economista da Tendências Consultoria. A economista e pesquisadora do Peterson Institute Monica de Bolle calcula que se a inflação subir de 10% a 20% ao ano em 2018 e continuar nesse nível, a relação da dívida bruta sobre o PIB sobe a 85% em 2017 e depois cai a 80% em 2020. 
Sem o ajuste fiscal, contudo, o remédio da inflação excessiva pode ter duração curta. “Os investidores que estão na América Latina sabem como investir em um cenário como esse de alta inflação, então essa alternativa deverá ter uma curta duração”, alerta Ramón Aracena, economista-chefe para a América Latina do Institute of International Finance (IIF), uma organização que reúne 500 instituições financeiras do mundo. 

Por que precisamos urgentemente de uma direita? (André Tavares)

Num pronunciamento há alguns anos, Lula manifestou sua satisfação (ou felicidade?) com o fato de que as eleições subsequentes no Brasil seriam concorridas somente por candidatos “de esquerda”. A afirmação do então presidente era sintomática, e era um indício de que a agenda “gramsciana” encontrava-se adiantada na medida em que se tornava patente que para a opinião pública a moralidade política e democrática situava-se já, na geografia das ideias, à esquerda do espectro ideológico. Trata-se daquele momento no qual, para o “homem de rua”, o comprometimento ético confunde-se com a doutrina esquerdista. Sem “uma gota de sangue” os valores socialistas ganham plausibilidade não somente nas estruturas sociais, conduzindo as políticas públicas e o planejamento, mas também, e mais importante, na mente, na subjetividade.

Ao contrário do bolchevismo, que pretendia primeiramente o controle das instituições sociais e dos meios de produção para depois promover as mudanças estruturais, a “nova esquerda” pós-Segunda Guerra percebeu no embate cultural e político o verdadeiro campo de disputa – o chamado “Marxismo Cultural”. A conquista de corações e mentes é a via mais segura para um propósito tão amplo; e a Revolução Russa já havia dado duas lições importantes para a esquerda: (I) o determinismo marxista havia sido desmentido por um bando de camponeses semimedievais liderados por cossacos semiletrados, (II) o sangue que uma revolução derrama cobra um preço alto demais em termos deopinião pública em outros países, o que dificulta a duplicação do mecanismo, e (III) adoutrina econômica marxista está radicalmente equivocada,demonstrando que a revolução depende profundamente das mudanças na superestrutura (era preciso reinverter o que Marx inverteu).

Em lugar da rudeza e frenesi da sublevação e da frieza cínica de um regime totalitário, que precisa criar um aparato para controle, censura e supressão das dissidências difícil de gerir e sustentar por muito tempo, é preciso gerar uma situação social à qual as pessoas queiram se submeter e, consequentemente, manter. Um sistema que mantenha coisas como gulags precisa promover um nível de alienação e terror nas massas muito maior do que qualquer sociedade burguesa pode produzir (por isso Arendt está muito certa quando localiza nazismo e comunismo no mesmo âmbito), ao mesmo tempo que basta um número mínimo de indivíduos e grupos serem jogados para situações limite para que a plausibilidade que sustenta o contexto se desfaça.

Sociedades industriais e pós-industriais não se submeteriam facilmente ao batismo de fogo revolucionário nem a um regime totalitário nos moldes stalinistas, visto que sua complexidade oferece vias de desalienação e disseminação de informação virtualmente impossíveis de controlar (veja que a China precisa manter um exército de trabalhadores simplórios em indústrias modernas e controlar firmemente a circulação de informação não oficial, criando uma monstruosidade composta de controle tradicional na superestrutura e controle hipertécnico na infraestrutura). Está contado em verso e prosa que desde o domínio da bomba atômica, o destino da estrutura soviética estava decidido, e o marxismo e o movimento revolucionário voltou-se para a kulturkampf, e a teoria revolucionária tendia ao “marxismo democrático”. Pode ser uma relação absolutamente espúria, mas foi o que o partido nazista fez na Alemanha – depois de um golpe fracassado, Hitler investiu na militância partidária, na propaganda e no engajamento de certos segmentos corporativos e profissionais estratégicos (como os médicos, como sugere “Arquitetura da Destruição”), e conseguiu o poder pelas urnas (e por negociações partidárias para o cargo de chanceler).

A Teoria da Hegemonia desenvolvida por Gramsci é uma estratégia bastante simples e largamente adequada para este cenário, e audaciosa por questionar o modelo determinista e escatológico do marxismo clássico (na verdade, parece-me que Gramsci inverteu Marx: transformar pela mudança de valores e não pela posse coletiva dos meios de produção é marxianamente um contrassenso). A base da ação encontra-se, portanto, na educação e na persuasão, no inculcamento dos “valores de esquerda”, na transformação da mentalidade, auferindo uma nova cosmovisão e mudando as bases da cultura. Segundo Finocchiaro, a primeira providência é produzir uma clivagem, uma oposição que ao invés de produzir simplesmente um conflito, promova a dominação de um dos lados por outro com a permissão ou concordância do primeiro. Para tanto é preciso “eliminar” os elementos (intelectuais, sobretudo) “não-engajados”, ou ostracizando-os ou rotulando-os (casos paradigmáticos no Brasil: Gilberto Freyre, Bruno Tolentino, Nelson Rodrigues, Gustavo Corção) atribuindo-lhes pertença à posição “conservadora” (no sentido mais negativo que o termo possa assumir) – todo ator deve ser reconhecido como um agente partidário de uma “classe”.
A educação ganha a maior relevância nesse cenário. No caso brasileiro, a esquerda vive a dizer horrores da ditadura (e isso não é uma justificação para o regime militar), e esfumaça o fato de que a universidade ficou praticamente intocada pelos milicos, e lá o pensamento marxista-esquerdista prosperou e informou a intelectualidade, formadores de opinião, professores, políticos e a cabeça da classe média brasileira. De certa maneira, o golpe terminou por prestar um serviço à esquerda no Brasil ao impedir a ação dos marxistas daquele tipo mais obtuso, numa espécie de “seleção” que beneficiou os “revisionistas” (colocando-os em contato, até, com o que havia de mais “avançado” em termos de teoria marxista lá fora ao exilá-los, coisa que dificilmente teriam ficando por aqui, ou só teriam décadas depois devido ao atraso nacional em relação à produção intelectual externa).

Outra provisão dos militares foi o término do ensino clássico, substituído pelo cientificismo positivista. Desprovido de tudo o que era interessante e formador na cultura, as escolas incumbidas da tarefa da “educação universal” promovida pelo Estado deram seguimento ao emburrecimento e estupidificação enlatadas, em massa. Na esteira apareceram os “construtivistas” e “piagetianos” que associados ao discurso de saberes “do oprimido” celebravam o embrutecimento. A educação foi tornada em “ferramenta política” – não quero julgar aqui as intenções de Paulo Freire em sua “pedagogia do oprimido”,  mas segundo ele mesmo, “a alfabetização (…) associada sobretudo a certa práticas claramente políticas de mobilização e de organização, pode constituir-se num instrumento para o que Gramsci chamaria de ação contra-hegemônica” (FREIRE, A Importância do Ato de Ler).

Freire, o ídolo de 11 em cada 10 pedagogos, segundo críticos, não passa de uma mistura indisfarçável de Makarenko e Gramsci (a menos, é claro, para os pedagogos que não dão notícias de nem um, nem outro). E os educandos do projeto brasileiro são gente em preparação para o tal “exercício de questionamento e reflexão sobre sua condição”, claro, de acordo com as premissas da teoria da hegemonia. Esse exercício, em larga medida, constitui-se meramente no questionamento da noção de autoridade: do professor, dos pais, dos agentes do Estado, dos mais velhos… é a formação de um exército em estado permanente de desordem mental, nada sabendo de fato, sofrendo somente de uma raiva e irritação constantes.

Não por acaso, o MEC anda à polvorosa tentando assassinar no berço a ideia de educação doméstica (o homeschooling) e grita a plenos pulmões o monopólio estatal da educação compulsória – a família e a comunidade são ambientes perigosos por portarem valores “tradicionais” até que uma certa engenharia social os transforme em ferramentas de situação social oposta. De um lado o sucateamento do ensino de matemática, português (gramática e a literatura clássica), ciências (a não ser o uso doutrinário de elementos úteis contra o Cristianismo, por exemplo), e, de outro, o ensino marxista de história, geografia, a “educação sexual”, o ensino de “literatura” e todo o lixo possível como equiparável à alta cultura tornam a educação em outra coisa que não a formação de indivíduos integrados psicológica e comunitariamente. Tudo o que sobra é essa legião de furiosos.

A ação contra-hegemônica trata de esvaziar a “direita”, fazendo toda a imagem do conservadorismo associada às oligarquias obtusas e tacanhas e ao empresariado que está longe de qualquer exercício político ou intelectual coerente, e que pensa somente que qualquer governo está justificado desde que não interfira demasiadamente nos negócios (ou que os impulsione; daí as experiências bem sucedidas em polos chineses de “socialismo de mercado”, ou na intervencionismo seletivo da política econômica brasileira). Toda a imoralidade, antiética, corrupção e malignidade ficam conferidos ao outro espectro ideológico num falso maniqueísmo. Não creio ser exagero dizer que essa “revaloração” toca até esquemas de teodiceia: o mal, todo ele, é fruto do conservadorismo, e o bem, a soteriologia está associada aos novos valores da esquerda. Veja que por muito tempo os petistas e esquerdistas em geral eram gente da qual era impossível pensar o pecado da corrupção e traição das “causas populares”; toda a desgraça brasileira, a bandidagem, é responsabilidade dos “demônios de direita”. O Cristianismo, até, precisa tornar-se uma “religião de esquerda” para encontrar justificação.

Lula não está errado, mesmo PT e PSDB estão do mesmo lado do espectro, estão em oposição dentro da mesma matiz. Ambos compartilham a origem uspeana, radicalmente marxista (aos incautos: radicalmente, i.e., na raiz). A realização de eleições sem candidatos de direita, sem uma posição madura do outro lado do espectro é um péssimo sinal. A esterilidade e recursividade são sinais de que a democracia vai mal, a ausência de debate real é um sinal dos tempos. E qualquer esquerdista que se quiser democrata (se isso ainda for possível depois das definições) haverá de concordar comigo que a ausência de bons oponentes conservadores é um sintoma de uma doença aguda. Crer nos “valores de esquerda” e em toda esta visão de mundo é esquecer-se de que é construída por homens, feita por homens e, portanto, atende a intenções de homens; e o homem, de esquerda ou direita, é caído, é mau e injusto. Se as monarquias caíram, em parte, porque entendeu-se que o poder total na mão de um só homem era o risco maior de opressão (então melhor mantê-lo no maior número possível de mãos), podem ressuscitar pela criação do Leviatã da hegemonia (e homogeneização), os homens todos cingidos por um só sistema, excluído o diálogo e a situação de reflexão.

«O Conservadorismo, no sentido da conservação, faz parte da essência da atividade educacional, cuja tarefa é sempre abrigar e proteger alguma coisa», dizia Hannah Arendt. Vencer o Leviatã e retomar o diálogo implica diretamente na recuperação da alta cultura e dos valores “de direita”, exatamente daquilo que quer exterminar a “revolução silenciosa”. O risco de não se realizar tal tarefa é a extinção da situação democrática e dos valores civilizacionais ocidentais no país, engolfando-nos novamente no abismo sem luz nem voz, sem forma e vazio.










terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

O desejo de “redistribuir riqueza” é uma fantasia impraticável ( Lorenz Kraus)

FeaturedImage.jpgAlguns temas abordados por Ludwig von Mises ainda em suas primeiras obras, há quase 100 anos, se tornaram ainda mais intelectualmente instigantes hoje do que eram naquela época, quando ainda estavam começando a ser discutidos.
Um desses temas é a questão da redistribuição de riqueza.  Mises, adepto do individualismo metodológico, sempre iniciava suas análises olhando para o indivíduo, e não para amplos agregados econômicos.  Na questão da redistribuição de renda, Mises diferenciou os indivíduos que têm bens daqueles que não têm.  Em específico, ele faz uma distinção entre bens de capital e bens de consumo. 
Bens de capital são os fatores de produção; são os bens que produzem outros bens e que também auxiliam os seres humanos em suas tarefas e, consequentemente, tornam o trabalho humano mais produtivo.  Já os bens de consumo, como o próprio nome diz, são todos os itens para consumo final — como alimentos, roupas, cadeiras, televisões —destinados a satisfazer as necessidades humanas.
Bens de consumo beneficiam amplamente apenas uma pessoa de cada vez.  Um indivíduo usufrui os benefícios trazidos por uma determinada camiseta apenas enquanto ele a está vestindo.  Bens de capital — o maquinário que produz as camisetas — geram benefícios para uma enxurrada de consumidores de uma só vez.
Por que, então, ainda há essa fixação marxista em relação ao, por exemplo, gerenciamento estatal de empresas geradoras de energia elétrica, quando se sabe que seus consumidores têm apenas eletricidade?  Mises observou que um consumidor não precisa ser o dono das instalações para ter eletricidade.
Tendo isso em mente, como o sentido convencional de distribuição de riqueza mudaria se excluíssemos os bens de capital dessa questão?  Por exemplo, nos EUA, 1% população é dona de 38% da riqueza, dados de 2001.  (No Brasil, 1% é dona de 13.3%).  Como ficaria essa distribuição de riqueza se os bens de capital forem excluídos?  O mais provável atualmente é que 95% da riqueza do 1% mais rico da população esteja atualmente ligada aos direitos de propriedade sobre esses bens de capital.  Logo, a distribuição de riqueza entre os consumidores é muito mais acirrada do que os acadêmicos imaginam.  Todos têm acesso a água corrente, telefones, comida e televisão.  É isso que interessa para um padrão de vida.
Mises nos ajuda a perceber que a ideia de obter igualdade pela redistribuição de riqueza nada mais é do que fantasia.  Você não pode redistribuir bens de consumo; como poderiam milhões de mulheres vestir o mesmo casaco de pele, as mesmas jóias e regalias, ou os mesmos sapatos que estão no armário de Imelda Marcos?  Como poderiam milhões de homens ficar dentro da banheira de hidromassagem de Hugh Hefner?  Um pedaço de pão não pode ser repartido infinitamente por várias bocas.
Da mesma maneira, você não pode fatiar um fogão em pedaços e dividir estas fatias igualitariamente entre as pessoas — e ainda esperar que o fogão funcione.  Você tem de respeitar a integridade de todos os bens de capital para que eles funcionem.  Uma central elétrica teria de ser triturada em átomos e repartida em pequenos envelopes para se obter uma distribuição igualitária.
Por sua natureza, bens de capital também não podem ser redistribuídos entre as pessoas de uma forma que resulte em igualdade e maior riqueza.  A redistribuição de riqueza, se levada a sério, significa necessariamente acompleta e absoluta destruição de riqueza.  Socialismo é niilismo, nada mais do que a destruição de valores.
Os comunistas nunca obtiveram êxito em distribuir riqueza igualitariamente.  Isso é inerente à natureza da riqueza.  Como a riqueza não pode ser subdivida entre as massas (somente a propriedade da riqueza pode), eles confiscam a riqueza alheia para benefício da própria camarilha.  Todo o resto fica à míngua, morrendo de fome.  É assim que a integridade da riqueza faz impor a realidade quando confiscada.  Os socialistas não brigam para ser donos do ar; eles brigam para tomar o controle desta estação de rádio, daquela impressora, deste automóvel, oudaquele pedaço de carne estragada.  A redistribuição de riqueza é criminalidade pura e ela exige um grau ainda maior de criminalidade após o confisco, como lobos brigando por uma carcaça ou rufiões eliminando seus cúmplices.
E, ainda assim, centenas de milhões de pessoas continuam acreditando que a redistribuição de riqueza irá gerar ganhos pessoais.  Quando um político difunde por seu rebanho a ideia de "espalhar a riqueza para todos", o que os eleitores imaginam?  No mundo perfeito, eles entenderiam que a riqueza deixaria de existir, mesmo que ela fosse confiscada e meticulosamente redistribuída — e caso realmente entendessem assim, o político será devidamente ridicularizado ainda em seus discursos.  A diferença entre um político populista ser venerado e ser chutado para fora do palanque em que discursa está no eleitorado ser educado por essa pequena fatia de racionalidade misesiana.
Mises abordou a distinção entre bens de capital e bens de consumo no debate sobre redistribuição; essa percepção é extremamente valiosa no atual mundo em que vivemos.  O debate sobre o cálculo econômico no mundo socialista já acabou, mas a noção de que a riqueza pode ser redistribuída e ainda continuar existindo não é amplamente reconhecida como uma contradição.  Espalhar coercivamente a riqueza para todos gera apenas a sua destruição.
Redistribuição de riqueza é uma expressão contraditória.  Esse fato reduz em cinzas o ímpeto do estado assistencialista.  O estado de bem-estar social é um rematado destruidor de riqueza.
O capitalismo resulta em ampla propriedade dos meios de produção porque a propriedade privada é a sua característica distintiva.  Somente em uma economia capitalista, em que os direitos de propriedade podem ser subdivididos em ações e livremente comercializados, pode uma ampla propriedade sobre os bens de capital manter inalterado seu caráter de riqueza.  Nesse arranjo, as pessoas voluntariamente vendem sua propriedade; os novos proprietários adquirem os direitos de propriedade sobre os bens de capital.  Há um genuíno mecanismo capitalista permitindo que isso aconteça.  Quase todo mundo pode comprar ações dos meios de produção sob o capitalismo.  Ninguém tem de morrer.  Nenhum sangue é derramado.
Onde no socialismo pode você, ó nobre camponês, reivindicar sua fatia das escolas públicas, dos Correios ou das prisões?  Não existe um mecanismo similar que permita a você ser dono da siderúrgica, da montadora, da mina, dos bancos e dos parques que foram todos estatizados — e não sobra muito da mina ou da siderúrgica após elas terem sido estatizadas.
Acabe com os direitos de propriedade privada e toda a riqueza desaparece.  Voltamos à era da pilhagem de todos sobre todos e da privação mutuamente garantida.  É isso que os governos e todos os que odeiam o mercado realmente querem.  Um slogan honesto para um sistema de saúde pública universal seria "uma nação, a mesma seringa".
Os redistributivistas não acreditam na fantasia de que redistribuir riqueza traz igualdade de resultados.  Eles apenas querem que você acredite nisso.