quinta-feira, 28 de agosto de 2014


Marina: Para fingir que não é política, a Protetora das Saúvas persegue o poder com a fantasia de retirante de butique ( REYNALDO ROCHA)

Marina escolheu o PSB por falta absoluta de opção. Continua apoiando petistas do Acre e do Rio de Janeiro.
Continua sem saber que economia é ciência e não slogan de sonháticos e pesadeláticos.

Um dia o prefeito da maior capital do país se definiu como alguém que não era de centro, nem de direita e nem de esquerda. Entendi que ele era de baixo.
Agora temos uma política profissional – sempre viveu disso – repetindo o discurso de Collor: cuidado com os políticos (os outros). O perigo maior é ela própria.
Messiânica, com ar de retirante de butique, seringueira de Brasília e acusadora de todos os que ousam discordar do que diz, Marina Silva faz lembrar o que de pior temos nestas terras tupiniquins: o antigo PT, dono de ética e das verdades. Deu no que sabemos. Difícil escolher entre o descaramento explícito e a desfaçatez silenciosa.
Uma escolha entre Dilma e Marina não é sequer um plebiscito. É uma roleta russa. Envolta em panos (caros) e echarpes (mais ainda), Marina se porta frente aos marineiros como guru a ser idolatrado. Concorda com tudo e não assume nada. Diz platitudes que, se não têm consistência, ao menos entendemos.
Entendemos?
Como uma madre Teresa do Acre, cultiva a figura que tenta ser uma Quixote de saias. Mesmo sendo um Sancho Pança famélico.
Não é contra nada. Mas sempre longe de ser a favor de algo, pois para ser a favor é preciso ter ideias.
Dizer-se sucessora de dois ex-presidentes é o cúmulo da prepotência. Quer ser a continuidade e oposição ao mesmo tempo. Quer ser herdeira sem ter sido aliada de um deles. Pelo outro foi usada e usou a imagem de pobres e nordestinos. Uma falta de vergonha e compostura que envergonha qualquer povo da floresta, da cidade ou do butequim.
Quem em sã consciência é contra a luz elétrica? Ter como programa o apoio à luz elétrica é tão assustador quanto pretender ser presidente e contar com quadros (que a Rede de Embalar Idiotas não tem) de outros partidos. Um ministério com Aloysio Nunes e José Dirceu? Com Álvaro Dias e Ideli? Todos irmanados em mantras matinais quando a salvadora e casta presidente adentrar qualquer ambiente?
Marina Silva é um engodo. A Rede sabe disso. Eduardo Campos também sabia. O que ela tem de valioso são os votos de quem, sem entender o que diz, prefere uma frase com pé e sem cabeça a frases sem uma coisa nem outra, como as despejadas por Dilma. É pouco. Muito pouco.
Tancredo morreu e herdamos Sarney. Eduardo deixou essa coisa amorfa e arrogante que se julga a nova dona do Brasil
Triste destino nos tem dado a Velha Senhora. Joga com a vida e morte escolhendo o absurdo para além da morte em si.
Marina escolheu o PSB por falta absoluta de opção. Continua apoiando petistas do Acre e do Rio de Janeiro. Continua sem saber que economia é ciência e não slogan de sonháticos e pesadeláticos.
Continua a criar uma seita, que neste início é ainda mais sectária que o PT.
Acha que em se plantando tudo dá, mesmo que seja no quintal das casas dos protegidos pela falta de estrutura. Não enxerga o agronegócio. Assim como o idiotizado Suplicy (isso explica a amizade que os une) é monotemática. Alguém se lembra de UMA ÚNICA palavra de Marina sobre a saúde e os médicos cubanos? Ou a agressão a Yoani Sanches? Política fiscal? Inflação? Política de desenvolvimento da indústria? Agências reguladoras? Sobre os 39 ministérios e Ali Lula Babá? Sobre a amante Rosemary? Sabe-se o que ela pensa sobre política externa? Infraestrutura? Exportações? Política de emprego e renda?
São detalhes para os marineiros. Na visão tacanha desse grupo, que lembra antigos bandos de hippies em Arembepe, mais importantes são os povos da floresta, a plantação de mandioca e a sustentabilidade que NUNCA foi explicada com clareza.
Marina é insustentável. Insuportável. Despreparada. Fruto de um destino cruel com Eduardo Campos. Dona da verdade. Aproveitadora de partidos e lutas que não são dela.
Marina é – esta sim – um Collor repaginado.
O Caçador de Marajás saiu do Planalto a pontapés do Planalto (aliás, onde estava Marina naquela época?). Quem está tentando entrar é a Protetora das Saúvas, uma praga que agora age em rede.




quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Da mediocridade obrigatória (OLAVO DE CARVALHO)


 “Admirar sempre moderadamente é sinal de mediocridade”, ensinava Leibniz. Uma das constantes da mentalidade nacional é precisamente o temor de admirar, a necessidade de moderar o elogio – ou entremeá-lo de críticas – para não passar por adulador e idólatra.
Já mencionei esse vício em outros artigos, assinalando que ele resulta em consagrar a mediocridade como um dever e um mérito – às vezes, a condição indispensável do prestígio e do respeito.
Mas não é vício isolado. Vêm junto com pelo menos mais dois, que o prolongam e consolidam:
O primeiro é este: Ao contrário do elogio, a crítica, a detração e até mesmo a difamação pura e simples não exigem nem admitem limite algum, nem precisam de justificação: é direito incondicional do cidadão atribuir ao seu próximo todos os defeitos, pecados e crimes reais ou imaginários, ou então simplesmente condená-lo ao inferno por lhe faltar alguma perfeição divina supostamente abundante na pessoa do crítico. Esse vício faz do efeito Dunning-Kruger (incapacidade de comparar objetivamente os próprios dons com os alheios) mais que uma endemia, uma obrigação.
O segundo é talvez o mais grave: na mesma medida em que se depreciam os méritos de quem os tem, exaltam-se até o sétimo céu aqueles de quem não tem nenhum. O mecanismo é simples: se as altas qualidades excitam a inveja e o despeito, a mediocridade e a incompetência infundem no observador uma reconfortante sensação de alívio, a secreta alegria de saber que o elogiado não é de maneira alguma melhor que ele. A compulsão de enaltecer virtudes inexistentes torna-se uma modalidade socialmente aprovada de auto-elogio indireto.
Da pura depreciação de méritos reais passa-se assim à completa inversão do senso de valores, onde a mais alta virtude consiste precisamente em não ser melhor que ninguém.
Essa inversão já era bem conhecida desde a “Teoria do Medalhão” de Machado de Assis e as sátiras de Lima Barreto, mas nas últimas décadas foi levada às suas últimas conseqüências, na medida em que a esquerda ascendente, ávida de autoglorificar-se e depreciar tudo o mais, precisava desesperadamente de heróis, santos e gênios postiços para repovoar o imaginário popular esvaziado pela “crítica radical de tudo quanto existe” (expressão de Karl Marx).
A lista de mediocridades laureadas começa nos anos 60 com o presidente João Goulart, o arcebispo Dom Hélder Câmara, o almirante Cândido Aragão, o criador das Ligas Camponesas -- Francisco Julião --, o doutrinador comunista  Paulo Freire e toda uma plêiade de coitados, erguidos de improviso à condição de “heróis do povo” e incapazes de oferecer qualquer resistência ao golpe militar que os pôs em fuga sem disparar um só tiro.
Nas décadas seguintes, o insignificante cardeal Dom Paulo Evaristo Arns transfigurou-se num novo S. Francisco de Assis por fazer da Praça da Sé um abrigo de delinqüentes; o sr. Herbert de Souza, o Betinho, por ter tido a idéia maliciosa de transformar as instituições de caridade em órgãos auxiliares da propaganda comunista, foi proposto pela revista Veja, sem aparente intenção humorística, como candidato à beatificação; e o sr. Lula, sem ter trabalhado mais de umas poucas semanas, foi elevado ao estatuto de Trabalhador Arquetípico, preparando sua eleição à Presidência da República e a pletora de títulos de doutor honoris causa que consagraram o seu orgulhoso analfabetismo como um modelo superior de ciência.
Nesse ínterim, é claro, a produção de obras literárias significativas reduziu-se a zero, milhares de indivíduos incapazes de conjugar um verbo tornaram-se professores catedráticos, as citações de trabalhos científicos brasileiros na bibliografia internacional foram se reduzindo até desaparecer, o número de analfabetos funcionais entre os estudantes universitários subiu a quase cinqüenta por cento e os alunos das nossas escolas secundárias começaram a tirar sistematicamente os últimos lugares nos testes internacionais, abaixo de seus colegas da Zâmbia e do Paraguai – resultado que um ministro da Educação achou até reconfortante, pois, segundo ele, “poderia ter sido pior” (até hoje ninguém sabe o que ele quis dizer com isso).
A devastação geral da inteligência lesou até alguns cérebros que poderiam ter dado exemplos de imunidade à estupidez crescente. Nos anos que se seguiram ao golpe de 1964, os partidos comunistas conseguiram cooptar, sob o pretexto de “luta pela democracia”, vários intelectuais até então cristãos e conservadores, que, travados pelo senso das conveniências imediatas, foram então perdendo seus talentos até chegar à quase completa esterilidade. Desse período em diante, Otto Maria Carpeaux nada mais escreveu que se comparasse à História da Literatura Ocidental (1947) ou aos ensaios de A Cinza do Purgatório (1942) e Origens e Fins (1943); Ariano Suassuna nunca mais repetiu os tours de force do Auto da Compadecida (1955) e de A Pena e a Lei (1959), Alceu Amoroso Lima deixou de ser o filósofo de O Existencialismo e Outros Mitos do Nosso Tempo (1951) e de Meditações sobre o Mundo Interior (1953), para tornar-se poster man da esquerda e garoto-propaganda do ridículo Hélder Câmara.
Nada disso foi coincidência. A total subordinação da cultura superior aos interesses do Partido é objetivo explícito e declarado da estratégia de Antonio Gramsci, um sagüi intelectual que se tornou, entre os anos 60 e 90 do século passado, o guru máximo das consciências e o autor mais citado em teses acadêmicas no Brasil.
Comparados aos feitos da esquerda no campo da educação e da cultura, o Mensalão, o dinheiro na cueca e a roubalheira na Petrobrás recobrem-se até de uma aura de santidade.







Chile,o provável novo membro Bolivariano.Ou:"Como Michelle Bachelet pretende destruir as bases institucionais do Chile"(Axel Kaiser)


eca86bd9e0d11489f7c706.jpgAo longo da década de 1980, ainda na vigência da ditadura de Augusto Pinochet, Milton Friedman insistia que o Chile tinha de reintroduzir a liberdade política caso quisesse preservar suas recém-criadas instituições de livre mercado.  Segundo Friedman, no longo prazo, o autoritarismo era incompatível com a liberdade econômica. 
Por outro lado, Friedman também se mostrava muito cético quanto ao futuro do Chile tão logo a democracia fosse reintroduzida.  Ele temia que a classe política viesse a utilizar o processo democrático para voltar a aumentar o tamanho do governo, desta maneira solapando severamente a liberdade econômica. 
Vinte e cinco anos após a reintrodução da democracia, as preocupações de Friedman com os efeitos deletérios da democracia parecem estar se materializando.
Apenas cinco meses se passaram desde que o governo socialista de Michelle Bachelet assumiu o poder no Chile, mas isso já foi o suficiente para fazer com que a taxa de crescimento econômico do país desabasse.  A principal causa deste repentino e dramático declínio na atividade econômica é o aumento das incertezas gerado pelo novo governo chileno, que pretende fazer uma tabula rasa com as próprias instituições de livre mercado que permitiram ao Chile se tornar o mais próspero país da América Latina.
Uma das mais deletérias propostas é uma maciça reforma tributária, a qual já foi aprovada, que irá dramaticamente elevar o imposto sobre pessoa jurídica no Chile, deixando-o acima da média dos países da OCDE.  Além disso, essa reforma tributária — a qual sofreu forte oposição das associações de empreendedores chilenos, e que vem perdendo o apoio da população — concede à Receita Federal inéditos poderes arbitrários sobre os pagadores de impostos.
Outro alvo do radical programa socialista de Bachelet é, como não poderia deixar de ser, o emblemático sistema previdenciário do Chile.  Como é amplamente sabido, o Chile foi o primeiro país do mundo a introduzir um sistema de seguridade social que é gerenciado por empresas privadas e que se baseia em contas de capitalização individual.  Sob este esquema, a cada mês, os trabalhadores chilenos depositam uma porcentagem de sua renda em uma conta sob seu nome, a qual é administrada por empresas privadas chamadas AFP (Administradoras de Fondos de Pensiones).  O arranjo funciona exatamente como um sistema de capitalização.
Assim, quando os trabalhadores chilenos se aposentam, eles — ao contrário de todos os outros sistemas previdenciários vigentes ao redor do mundo — não dependem de que outros trabalhadores continuem contribuindo para o sistema para que recebam sua aposentadoria; eles simplesmente recebem de volta todo o dinheiro que aplicaram corrigido pela inflação mais juros.
Ao contrário do sistema previdenciário estatal criado por Bismarck e copiado pelo mundo inteiro — tecnicamente chamado de pay-as-you-go —, o sistema chileno é totalmente solvente, pois não depende da demografia e nem de taxas de fecundidade para se manter. 
Mais ainda: esse sistema, por incentivar uma genuína poupança das pessoas, levou a um intenso processo de acumulação de capital no país.  A poupança dos trabalhadores era investida na própria economia do Chile, algo que foi essencial para o notável crescimento econômico que o país vivenciou nas décadas de 1990 e 2000. 
Adicionalmente, esse arranjo transformou os próprios trabalhadores chilenos em capitalistas.  No Chile, todos acompanham a evolução de suas Cuenta de AFP como acompanham o campeonato nacional de futebol.  Aliás, acompanham ainda mais de perto: o chileno recebe um extrato mensalmente detalhando quanto foi acrescido em sua conta, quanto valem atualmente suas economias, quanto ele receberia mensalmente caso se aposentasse hoje, e quanto ele receberá caso continue contribuindo para sua Cuenta até os 65 anos de idade.  É um sentimento meio inebriante, e fez com que a sociedade chilena se tornasse bastante preocupada com a segurança das empresas privadas, pois é nelas que sua preciosa poupança está investida e é da saúde delas que advém suas receitas previdenciárias.  Por isso, tornou-se um anátema no Chile qualquer grupo sindical ou político querer tumultuar a economia para proveito próprio.  Tais grupos simplesmente não têm o apoio da população. 
Toda essa realidade chilena, reconhecida pela literatura especializada, é desdenhada pelo atual governo socialista.
Determinados a trazer o estado de volta para o ramo da previdência, a senhora Bachelet e seus ministros já apresentaram um plano para criar uma empresa estatal para o setor previdenciário.  Como é fácil de se prever, isso provavelmente irá criar uma concorrência desleal para as atuais empresas privadas, as quais não mais seriam capazes de fazer frente às taxas de administração cobradas por uma empresa que é subsidiada com o dinheiro de impostos dos chilenos e que, caso apresente uma má gerência, será imediatamente socorrida com mais dinheiro de impostos.
Em outras palavras, há um perigo real de que a nova estatal se torne uma ameaça existencial para a mais importante dentre todas as reformas de livre mercado feitas no Chile na década de 1980. 
Outras reformas do programa socialista de Bachelet incluem acabar com o formato do atual sistema privado de saúde, o qual seria agora gerido de forma socializada.  As apólices e os prêmios que os trabalhadores chilenos pagam individualmente para seus planos de saúde seriam socializados e transferidos diretamente para os cofres do estado.  O objetivo seria criar um sistema universal de saúde, tão em voga no vocabulário mundial.  Isso não apenas representaria uma expropriação direta do dinheiro que os trabalhadores pagam às suas empresas de plano de saúde, como também, como vários economistas já alertaram, traria consequências desastrosas para todo o resto da economia, especialmente em termos de segurança jurídica e institucional.
Mas tem mais.
Dentre outras reformas, o atual governo socialista planeja fazer uma transformação substancial nas leis trabalhistas do país, as quais iriam conceder poderes inéditos e dramáticos aos sindicatos (que são a base eleitoral do atual governo) e afetar sobremaneira a produtividade.  Pretende também fazer uma reforma educacional que irá acabar com o atual sistema de voucher e criar um sistema educacional completamente gerido pelo estado, inclusive com educação universitária "gratuita" para todos, sistema idêntico ao que existe no Brasil e na Argentina (e com resultados nada invejáveis).
Para completar, os partidos de esquerda estão planejando criar uma constituição totalmente nova, a qual seria escrita — nas palavras do ex-presidente socialista Ricardo Lagos — "em uma página em branco".  Como o mesmo Lagos recentemente declarou, a nova Constituição tem de abolir o princípio da subsidiariedade vigente na atual Constituição, a qual diz que o estado só pode intervir quando os agentes privados não conseguiram solucionar problemas sociais urgentes.  Na nova constituição socialista, o governo passaria a ser o principal condutor do progresso econômico e social, um modelo que o Chile já tentou desde a década de 1930 e que terminoudesastrosamente em 1973.
Como que para deixar bem claro seu intuito, a própria Bachelet declarou recentemente que compartilha dos mesmos objetivos do ex-presidente marxista Salvador Allende, que geriu o país de 1971 a 1973.
Ao contrário de Allende, a senhora Bachelet não quer transformar o Chile em um regime comunista.  No entanto, não é nenhum segredo que ela endossa, em grande parte, uma antiquada filosofia estatizante.  E não há dúvidas de que, caso sua administração consiga implementar esses projetos, o Chile deixará de ser um modelo para a América Latina.  Resta saber se aqueles que querem preservar o caminho do progresso trilhado pelo Chile nas últimas décadas serão capazes de impedir que o país adote um modelo argentino de involução institucional.  Por enquanto, o futuro chileno não é nada alvissareiro.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

O discurso da mudança (NIVALDO CORDEIRO)

Marina Silva quer governar com e para seu grupelho político, que é socialista e ambientalista, de costas para a realidade.

Todos os candidatos estão usando o mote da “mudança”, até mesmo quem é da situação, tentam seduzir o eleitorado para o engajamento revolucionário. Os marqueteiros admitem que sem o mudancismo não se ganha, ignorando solenemente que o povo brasileiro é majoritariamente conservador e não deseja mudança na ordem estabelecida. Dilma Rousseff não cansa de dizer que dará continuidade ás mudanças que o PT vem fazendo, desde que assumiu. Como pode alguém ser da situação e falar em mudança? Aqui é preciso uma exegese cuidadosa do discurso político em uso.
Há uma sutil confusão entre mudança de nomes (e de partidos) com a mudança da ordem vigente. Certo que todas as candidaturas são de esquerda e o esquerdismo consiste precisamente nisso, no discurso da mudança, até mesmo “contra tudo que está aí”. A esquerda quer modificar o status quo porque acha que tem as soluções para os problemas humanos, bastando, para isso, vontade política. Obviamente é delírio perigoso. Por detrás do argumento está o ímpeto perfectibilista de todos os revolucionários, que acham que podem aperfeiçoar a natureza, inclusive a natureza humana.
O PSDB emprega o termo no segundo sentido, porque aprendeu os limites do Estado e da vontade mudancista. Por isso pôde combater a inflação crônica e elevada e dar relativamente maior estabilidade à sociedade brasileira. Claro que, nos seus quadros, tem um grande número de mudancistas, mas o princípio de realidade prevalece. O PSDB quer mudar mais os marcos jurídicos dos costumes do que a estrutura econômica, como a questão do aborto, das uniões matrimoniais e o uso de estupefacientes. Descobriu finalmente que existe a lei da escassez e que o melhor é deixar as relações econômicas sob o império das forças de mercado, mas sem reduzir o Estado.
O PT, ao contrário, fala de mudança no primeiro sentido. Quer mudar a Constituição, quer mudar o Estado, quer revolucionar tudo. O recente decreto que tenta sovietizar o Estado Brasileiro, ainda em vigor, é bem o exemplo do que estou dizendo. Eu tenho comentado exaustivamente a desesperada tentativa de mudar a cara dos produtores de conteúdo dos meios de comunicação, a fim de controlar a opinião pública, como está sendo feito na Argentina e na Venezuela.
E Marina Silva? Ela se pretende a dupla mudança, de nome (e partido) e da ordem vigente. Ela quer governar com e para seu grupelho político, que é socialista e ambientalista, de costas para a realidade. É por isso que Marina Silva não consegue se apoiar nem mesmo nos quadros históricos do PSB, pois no seu centro de decisões só tem lugar para aqueles que ideologicamente comungam de suas crenças.
Se Marina Silva tem dificuldades para costurar apoios para se eleger, avalie-se o tamanho das dificuldades que terá para governar. Não se pode governar o Brasil de costa para as forças vivas da Nação, nessas compreendidas o Centrão do PMDB, o agronegócio e os partidos que dão sustentação à ordem. Mas é o que propõe a candidata acreana, no seu ímpeto mudancista. Nisso consiste o maior perigo de uma eventual vitória sua.
Quem viver verá!

Por que o nazismo era socialismo e por que o socialismo é totalitário ( George Reisman,)


45113038.jpgMinha intenção é expor dois pontos principais: (1) Mostrar que a Alemanha Nazista era um estado socialista, e não capitalista. E (2) mostrar por que o socialismo, compreendido como um sistema econômico baseado na propriedade estatal dos meios de produção, necessariamente requer uma ditadura totalitária.
A caracterização da Alemanha Nazista como um estado socialista foi uma das grandes contribuições de Ludwig von Mises.
Quando nos recordamos de que a palavra "Nazi" era uma abreviatura de "der Nationalsozialistische Deutsche Arbeiters Partei" — Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães —, a caracterização de Mises pode não parecer tão notável. O que se poderia esperar do sistema econômico de um país comandado por um partido com "socialista" no nome além de ser socialista?
Não obstante, além de Mises e seus leitores, praticamente ninguém pensa na Alemanha Nazista como um estado socialista. É muito mais comum se acreditar que ela representou uma forma de capitalismo, aquilo que comunistas e marxistas em geral têm alegado.
A base do argumento de que a Alemanha Nazista era capitalista é o fato de que a maioria das indústrias foi aparentemente deixada em mãos privadas.
O que Mises identificou foi que a propriedade privada dos meios de produção existia apenas nominalmente sob o regime Nazista, e que o verdadeiro conteúdo da propriedade dos meios de produção residia no governo alemão. Pois era o governo alemão e não o proprietário privado nominal quem decidia o que deveria ser produzido, em qual quantidade, por quais métodos, e a quem seria distribuído, bem como quais preços seriam cobrados e quais salários seriam pagos, e quais dividendos ou outras rendas seria permitido ao proprietário privado nominal receber. 
A posição do que se alega terem sido proprietários privados era reduzida essencialmente à função de pensionistas do governo, como Mises demonstrou.
A propriedade governamental "de fato" dos meios de produção, como Mises definiu, era uma consequência lógica de princípios coletivistas fundamentais adotados pelos nazistas como o de que o bem comum vem antes do bem privado e de que o indivíduo existe como meio para os fins do estado. Se o indivíduo é um meio para os fins do estado, então, é claro, também o é sua propriedade. Do mesmo modo em que ele pertence ao estado, sua propriedade também pertence.
Mas o que especificamente estabeleceu o socialismo "de fato" na Alemanha Nazista foi a introdução do controle de preços e salários em 1936. Tais controles foram impostos como resposta ao aumento na quantidade de dinheiro na economia praticada pelo regime nazista desde a época da sua chegada ao poder, no início de 1933. O governo nazista aumentou a quantidade de dinheiro no mercado como meio de financiar o vasto aumento nos gastos governamentais devido a seus programas de infraestrutura, subsídios e rearmamento. O controle de preços e salários foi imposto em resposta ao aumento de preços resultante desta inflação.
O efeito causado pela combinação entre inflação e controle de preços foi a escassez, ou seja, a situação na qual a quantidade de bens que as pessoas tentam comprar excede a quantidade disponível para a venda.
As escassezes, por sua vez, resultam em caos econômico. Não se trata apenas da situação em que consumidores que chegam mais cedo estão em posição de adquirir todo o estoque de bens, deixando o consumidor que chega mais tarde sem nada — uma situação a que os governos tipicamente respondem impondo racionamentos. Escassezes resultam em caos por todo o sistema econômico. Elas tornam aleatória a distribuição de suprimentos entre as regiões geográficas, a alocação de um fator de produção dentre seus diferentes produtos, a alocação de trabalho e capital dentre os diferentes ramos do sistema econômico.
Face à combinação de controle de preços e escassezes, o efeito da diminuição na oferta de um item não é, como seria em um mercado livre, o aumento do preço e da lucratividade, operando o fim da diminuição da oferta, ou a reversão da diminuição se esta tiver ido longe demais. O controle de preços proíbe o aumento do preço e da lucratividade. Ao mesmo tempo, as escassezes causadas pelo controle de preços impedem que aumentos na oferta reduzam o preço e a lucratividade de um bem. Quando há uma escassez, o efeito de um aumento na oferta é apenas a redução da severidade desta escassez. Apenas quando a escassez é totalmente eliminada é que um aumento na oferta necessita de uma diminuição no preço, trazendo consigo uma diminuição na lucratividade.
Como resultado, a combinação de controle de preços e escassezes torna possíveis movimentos aleatórios de oferta sem qualquer efeito no preço ou na lucratividade. Nesta situação, a produção de bens dos mais triviais e desimportantes, como bichinhos de pelúcia, pode ser expandida à custa da produção dos bens importantes e necessários, como medicamentos, sem efeito sobre o preço ou lucratividade de nenhum dos bens. O controle de preços impediria que a produção de remédios se tornasse mais lucrativa, conforme a sua oferta fosse diminuindo, enquanto a escassez mesmo de bichinhos de pelúcia impediria que sua produção se tornasse menos lucrativa conforme sua oferta fosse aumentando.
Como Mises demonstrou,  para lidar com os efeitos indesejados decorrentes do controle de preços, o governo deve abolir o controle de preços ou ampliar tais medidas, precisamente, o controle sobre o que é produzido, em qual quantidade, por meio de quais métodos, e a quem é distribuído, ao qual me referi anteriormente. A combinação de controle de preços com estas medidas ampliadas constituem a socialização "de fato" do sistema econômico. Pois significa que o governo exerce todos os poderes substantivos de propriedade.
Este foi o socialismo instituído pelos nazistas. Mises o chama de modelo alemão ou nazista de socialismo, em contraste ao mais óbvio socialismo dos soviéticos, ao qual ele chama de modelo russo ou bolchevique de socialismo.
O socialismo, é claro, não acaba com o caos causado pela destruição do sistema de preços. Ele apenas perpetua esse caos. E se introduzido sem a existência prévia de controle de preços, seu efeito é inaugurar este mesmo caos. Isto porque o socialismo não é um sistema econômico verdadeiramente positivo. É meramente a negação do capitalismo e seu sistema de preços. E como tal, a natureza essencial do socialismo é a mesma do caos econômico resultante da destruição do sistema de preços por meio do controle de preços e salários. 
(Quero demonstrar que a imposição de cotas de produção no estilo bolchevique de socialismo, com a presença de incentivos por todos os lados para que estas sejam excedidas, é uma fórmula certa para a escassez universal da mesma forma como ocorre quando se controla preços e salários.)
No máximo, o socialismo meramente muda a direção do caos. O controle do governo sobre a produção pode tornar possível uma maior produção de alguns bens de especial importância para si mesmo, mas faz isso à custa de uma devastação de todo o resto do sistema econômico. Isto porque o governo não tem como saber dos efeitos no resto do sistema econômico da sua garantia da produção dos bens aos quais atribui especial importância.
Os requisitos para a manutenção do sistema de controle de preços e salários trazem à luz a natureza totalitária do socialismo — mais obviamente, é claro, na variante alemã ou nazista de socialismo, mas também no estilo soviético.
Podemos começar com o fato de que o autointeresse financeiro dos vendedores operando sob o controle de preços seja de contornar tais controles e aumentar seus preços. Compradores, antes impossibilitados de obter os bens, estão dispostos a — na verdade, ansiosos para — pagar estes preços mais altos como meio de garantir os bens por eles desejados. Nestas circunstâncias, o que pode impedir o aumento dos preços e o desenvolvimento de um imenso mercado negro?
A resposta é a combinação de penas severas com uma grande probabilidade de ser pego e, então, realmente punido. É provável que meras multas não gerem a dissuasão necessária. Elas serão tidas como simplesmente um custo adicional. Se o governo deseja realmente fazer valer o controle de preços, é necessário que imponha penalidades comparadas àquelas dos piores crimes.
Mas a mera existência de tais penas não é o bastante. O governo deve tornar realmente perigosa a condução de transações no mercado negro. Deve fazer com que as pessoas temam que agindo desta forma possam, de alguma maneira, ser descobertas pela polícia, acabando na cadeia. Para criar tal temor, o governo deve criar um exército de espiões e informantes secretos. Por exemplo, o governo deve fazer com que o dono da loja e o seu cliente tenham medo de que, caso venham a se engajar em uma transação no mercado negro, algum outro cliente na loja vá lhe informar.
Devido à privacidade e sigilo em que muitas transações no mercado negro ocorrem, o governo deve ainda fazer com que qualquer participante de tais transações tenha medo de que a outra parte possa ser um agente da polícia tentando apanhá-lo. O governo deve fazer com que as pessoas temam até mesmo seus parceiros de longa data, amigos e parentes, pois até eles podem ser informantes.
E, finalmente, para obter condenações, o governo deve colocar a decisão sobre a inocência ou culpa em casos de transações no mercado negro nas mãos de um tribunal administrativo ou seus agentes de polícia presentes. Não pode contar com julgamentos por júris, devido à dificuldade de se encontrar número suficiente de jurados dispostos a condenar a vários anos de cadeia um homem cujo crime foi vender alguns quilos de carne ou um par de sapatos acima do preço máximo fixado.
Em suma, a partir daí o requisito apenas para a aplicação das regulamentações de controle de preços é a adoção de características essenciais de um estado totalitário, nominalmente o estabelecimento de uma categoria de "crimes econômicos", em que a pacífica busca pelo autointeresse material é tratada como uma ofensa criminosa grave. Para tanto é necessário o estabelecimento de um aparato policial totalitário, repleto de espiões e informantes, com o poder de prisões arbitrárias.
Claramente, a imposição e a fiscalização do controle de preços requerem um governo similar à Alemanha de Hitler ou à Rússia de Stalin, no qual praticamente qualquer pessoa pode ser um espião da polícia e no qual uma polícia secreta existe e tem o poder de prender pessoas. Se o governo não está disposto a ir tão longe, então, nesta medida, o controle de preços se prova inaplicável e simplesmente entra em colapso. Nesse caso, o mercado negro assume maiores proporções. 
(Observação: não estou sugerindo que o controle de preços foi a causa do reino de terror instituído pelos nazistas. Estes iniciaram seu reino de terror bem antes da decretação do controle de preços. Como resultado, o controle de preços foi decretado em um ambiente feito para a sua aplicação.)
As atividades do mercado negro exigem o cometimento de outros crimes. Sob o socialismo "de fato", a produção e a venda de bens no mercado negro exige o desafio às regulamentações governamentais no que diz respeito à produção e à distribuição, bem como o desafio ao controle de preços. Por exemplo, o governo pretende que os bens que são vendidos no mercado negro sejam distribuídos de acordo com seu planejamento, e não de acordo com o do mercado negro. O governo pretende, igualmente, que os fatores de produção usados para se produzir aqueles bens sejam utilizados de acordo com o seu planejamento, e não com o propósito de suprir o mercado negro.
Sobre um sistema socialista "de direito", como o que existia na Rússia soviética, no qual o ordenamento jurídico do país aberta e explicitamente tornava o governo o proprietário dos meios de produção, toda a atividade do mercado negro, necessariamente, exige a apropriação indébita ou o roubo da propriedade estatal. Por exemplo, considerava-se que os trabalhadores e gerentes de fábricas na Rússia soviética que tiravam produtos destas para vender no mercado negro estavam roubando matéria-prima fornecida pelo estado.
Além disso, em qualquer tipo de estado socialista — nazista ou comunista —, o plano econômico do governo é parte da lei suprema do país. Temos uma boa ideia de quão caótico é o chamado processo de planejamento do socialismo. O distúrbio adicional causado pelo desvio, para o mercado negro, de suprimentos de produção e outros bens é algo que o estado socialista toma como um ato de sabotagem ao planejamento econômico nacional. E sabotagem é como o ordenamento jurídico dos estados socialistas se refere a isto. Em concordância com este fato, atividades de mercado negro são, com frequência, punidas com pena de morte.
Um fato fundamental que explica o reino de terror generalizado encontrado sob o socialismo é o incrível dilema em que o estado socialista se coloca em relação à massa de seus cidadãos. Por um lado, o estado assume total responsabilidade pelo bem-estar econômico individual. O estilo de socialismo russo ou bolchevique declara abertamente esta responsabilidade — esta é a fonte principal do seu apelo popular. Por outro lado, o estado socialista desempenha essa função de maneira desastrosa, tornando a vida do indivíduo um pesadelo.
Todos os dias de sua vida, o cidadão de um estado socialista tem de perder tempo em infindáveis filas de espera. Para ele, os problemas enfrentados pelos americanos com a escassez de gasolina nos anos 1970 são normais; só que ele não enfrenta este problema em relação à gasolina — pois ele não tem um carro e nem a esperança de ter — mas sim em relação a itens de vestuários, verduras, frutas, e até mesmo pão. 
Pior ainda: ele é forçado a trabalhar em um emprego que não foi por ele escolhido e que, por isso, deve odiar. (Já que sob escassezes, o governo acaba por decidir a alocação de trabalho da mesma maneira que faz com a alocação de fatores de produção materiais.) E ele vive em uma situação de inacreditável superlotação, com quase nenhuma chance de privacidade. Frente à escassez habitacional, pessoas estranhas são designados pelo governo a morarem juntas; famílias são obrigadas a compartilhar apartamentos. Um sistema de passaportes e vistos internos é adotado a fim de limitar a severidade da escassez habitacional em áreas mais desejáveis do país. Expondo suavemente, uma pessoa forçada a viver em tais condições deve ferver de ressentimento e hostilidade.
Contra quem seria lógico que os cidadãos de um estado socialista dirigissem seu ressentimento e hostilidade se não o próprio estado socialista? Contra o mesmo estado socialista que proclamou sua responsabilidade pela vida deles, prometeu uma vida de bênção, e que é responsável por proporcionar-lhes uma vida de inferno. De fato, os dirigentes de um estado socialista vivem um dilema no qual diariamente encorajam o povo a acreditar que o socialismo é um sistema perfeito em que maus resultados só podem ser fruto do trabalho de pessoas más. Se isso fosse verdade, quem poderiam ser estas pessoas más senão os próprios líderes, que não apenas tornaram a vida um inferno, mas perverteram a este ponto um sistema supostamente perfeito?
A isso se segue que os dirigentes de um estado socialista devem temer seu povo. Pela lógica das suas ações e ensinamentos, o fervilhante e borbulhante ressentimento do povo deveria jorrar e engoli-los numa orgia de vingança sangrenta. Os dirigentes sentem isso, ainda que não admitam abertamente; e, portanto, a sua maior preocupação é sempre manter fechada a tampa da cidadania.
Consequentemente, é correto, mas bastante inadequado, dizer apenas que "o socialismo carece de liberdade de imprensa e expressão." Carece, é claro, destas liberdades. Se o governo é dono de todos os jornais e gráficas, se ele decide para quais propósitos a prensa e o papel devem ser disponibilizados, então obviamente nada que o governo não desejar poderá ser impresso. Se a ele pertencem todos os salões de assembléias e encontros, nenhum pronunciamento público ou palestra que o governo não queira não poderá ser feita. Mas o socialismo vai muito além da mera falta de liberdade de imprensa e de expressão.
Um governo socialista aniquila totalmente estas liberdades. Transforma a imprensa e todo foro público em veículos de propaganda histérica em prol de si mesmo, e pratica cruéis perseguições a todo aquele que ouse desviar-se uma polegada da linha do partido oficial.
A razão para isto é o medo que o dirigente socialista tem do povo. Para se proteger, eles devem ordenar que o ministério da propaganda e a polícia secreta façam de tudo para reverter este medo. O primeiro deve tentar desviar constantemente a atenção do povo quanto à responsabilidade do socialismo, e dos dirigentes socialistas, em relação à miséria do povo. O outro deve desestimular e silenciar qualquer pessoa que possa, mesmo que remotamente, sugerir a responsabilidade do socialismo ou de seus dirigentes em relação à miséria do povo — ou seja, deve desestimular qualquer um que comece a mostrar sinais de estar pensando por si mesmo. 
É por causa do terror dos dirigentes, e da sua necessidade desesperada de encontrar bodes-expiatórios para as falhas do socialismo, que a imprensa de um país socialista está sempre cheia de histórias sobre conspirações e sabotagens estrangeiras, e sobre corrupção e mau gerenciamento da parte de oficiais subordinados, e por que, periodicamente, é necessário desmascarar conspirações domésticas e sacrificar oficiais superiores e facções inteiras do partido em gigantescos expurgos.
E é por causa do seu terror, e da sua necessidade desesperada de esmagar qualquer suspiro de oposição em potencial, que os dirigentes do socialismo não ousam permitir nem mesmo atividades puramente culturais que não estejam sob o controle do estado. Pois se o povo se reúne para uma amostra de arte ou um sarau de literário que não seja controlado pelo estado, os dirigentes devem temer a disseminação de idéias perigosas. Quaisquer idéias não-autorizadas são idéias perigosas, pois podem levar o povo a pensar por si mesmo e, a partir daí, começar a pensar sobre a natureza do socialismo e de seus dirigentes. Estes devem temer a reunião espontânea de qualquer punhado de pessoas em uma sala, e usar a polícia secreta e seu aparato de espiões, informantes, e mesmo o terror para impedir tais encontros ou ter certeza de que seu conteúdo é inteiramente inofensivo do ponto de vista do estado.
O socialismo não pode ser mantido por muito tempo, exceto por meio do terror. Assim que o terror é relaxado, ressentimento e hostilidade logicamente começam a jorrar contra seus dirigentes. O palco está montado, então, para uma revolução ou uma guerra civil. De fato, na ausência de terror, ou, mais corretamente, de um grau suficiente de terror, o socialismo seria caracterizado por uma infindável série de revoluções e guerras civis, conforme cada novo grupo dirigente se mostrasse tão incapaz de fazer o socialismo funcionar quanto foram seus predecessores. 
A inescapável conclusão a ser traçada é a de que o terror experimentado nos países socialistas não foi simplesmente culpa de homens maus, como Stalin, mas sim algo que brota da natureza do sistema socialista. Stalin vem à frente porque sua incomum perspicácia e disposição ao uso do terror foram as características específicas mais necessárias para um líder socialista se manter no poder. Ele ascendeu ao topo por meio de um processo de seleção natural socialista: a seleção do pior.
Por fim, é necessário antecipar um possível mal-entendido em relação à minha tese de que o socialismo é totalitário por natureza. Diz respeito aos países supostamente socialistas dirigidos por social-democratas, como a Suécia e outros países escandinavos, que claramente não são ditaduras totalitárias.
Neste caso, é necessário que se entenda que não sendo estes países totalitários, não são também socialistas. Os partidos que os governam podem até sustentar o socialismo como sua filosofia e seu fim último, mas socialismo não é o que eles implementaram como seu sistema econômico. Na verdade, o sistema econômico vigente em tais países é a economia de mercado obstruída, como Mises definiu. Ainda que seja mais obstruído do que o nosso em aspectos importantes, seu sistema econômico é essencialmente similar ao nosso, no qual a força motora característica da produção e da atividade econômica não é o governo, mas sim a iniciativa privada motivada pela perspectiva de lucro.
A razão pela qual social-democratas não estabelecem o socialismo quando estão no poder, é que eles não estão dispostos a fazer o que seria necessário. O estabelecimento do socialismo como um sistema econômico requer um ato massiço de roubo — os meios de produção devem ser expropriados de seus donos e tomados pelo estado. É virtualmente certo que tais expropriações provoquem grande resistência por parte dos proprietários, resistência que só pode ser vencida pelo uso de força bruta.
Os comunistas estavam e estão dispostos a usar esta força, como evidenciado na União Soviética. Seu caráter é o dos ladrões armados preparados para matar caso isso seja necessário para dar cabo dos seus planos. O caráter dos social-democratas, em contraste, é mais próximo ao dos batedores de carteira: eles podem até falar em coisas grandiosas, mas não estão dispostos a praticar a matança que seria necessária; e desistem ao menor sinal de resistência séria.
Já os nazistas, em geral não tiveram que matar para expropriar a propriedade dos alemães, fora os judeus. Isto porque, como vimos, eles estabeleceram o socialismo discretamente, por meio do controle de preços, que serviu para manter a aparência de propriedade privada. Os proprietários eram, então, privados da sua propriedade sem saber e, portanto, sem sentir a necessidade de defendê-la pela força.
Creio ter demonstrado que o socialismo — o socialismo de verdade — é totalitário pela sua própria natureza.






A ESTUPIDEZ POLITICAMENTE CORRETA É CÚMPLICE DA DESTRUIÇÃO DA CIVILIZAÇÃO OCIDENTAL(AA)


Esta ilustração diz tudo
Do lixo que a Folha de S. Paulo edita diariamente é possível, ainda, encontrar alguns diamantes reluzentes, como este artigo do jornalista e escritor português João Pereira Coutinho. E pode-se contar nos dedos os intelectuais ocidentais como Coutinho, já que a maioria cultiva, se vangloriando, o ataque suicida contra a democracia e a liberdade, os fundamentos da civilização ocidental.
Há alguns dias os assassinos islâmicos degolaram um jornalista americano sem que tenha havido um só artigo em desagravo a esse ato de terrorismo cruel e indescritível cometido contra um profissional que estava trabalhando. Nem uma mísera nota de uma entidade de classe. A maioria desses jornalistas que assinam colunas semanais e/ou diária em grandes jornais foi incapaz de emitir um resmungo, que dirá um artigo denunciando essa barbaridade, como também as televisões se limitaram a dar a notícia como uma notícia igual às outras.
Quaisquer desses vagabundos de toalha na cabeça, véus e adereços correlatos, são intocáveis. E eles vivem à vontade, soberbos mesmo, nas ruas das cidades ocidentais, nos shoppings, na praças, enfim, livres, leves e soltos. E ai de quem ouse censurá-los exijindo que sigam os costumes ocidentais. Com certeza será processado por algum promotor politicamente correto do Ministério Público, desses cevados nas faculdades de Direito que se transformaram em espeluncas vagabundas que promovem a lavagem cerebral dos estudantes. Digo isso porque também sou advogado com mestrado em Direito. Sei muito bem o que estou dizendo. E a OAB também vai no mesmo caminho.
Por tudo isso, transcrevo o excelente artigo de João Pereira Coutinho. Às terças-feiras é Coutinho que salva a Folha; e às sextas-feiras, Reinaldo Azevedo. A maioria do resto é lixo, imundice e vagabundagem cínica e criminosa. E afirmo tudo isso porque além de advogado sou jornalista há mais de 40 anos. E sei muito bem o que estou dizendo. Leiam: 
NÓS, OS VERMES.
Por João Pereira Coutinho
Que beleza, leitor: um grupo intitulado Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL) agora domina partes da Síria e do Iraque. Melhor: já faz vídeos. Com decapitações de ocidentais. E proclamações: existe um novo Califado, dizem os assassinos, renascido das cinzas otomanas que a Primeira Guerra provocou.
Essa utopia terrena está atraindo jihadistas do mundo inteiro. Do mundo inteiro, vírgula: do Reino Unido em especial. O premiê David Cameron está pasmo. Membros do seu governo, "idem". E a "inteligência" britânica quer saber como é possível que cidadãos britânicos, que nasceram e cresceram à sombra do Estado de bem-estar social, viram as costas ao Ocidente para lutarem contra o Ocidente.
Boas perguntas. Nenhuma delas é especialmente misteriosa. Qualquer pessoa com dois neurônios compreende que, no caso do Reino Unido, a produção de jihadistas explica-se pela belíssima cultura de "tolerância" que, durante duas gerações, permitiu que muitas mesquitas locais fossem antros de ódio e extremismo.
Só Deus sabe --ou Alá, já agora, para não ferir certas sensibilidades ecumênicas-- a extrema dificuldade legal que Londres teve para extraditar Hamza al-Masri, o famoso "Capitão Gancho" da mesquita de Finsbury Park, em Londres, para os Estados Unidos, onde era acusado de vários complôs. O Tribunal Europeu dos Direitos do Homem estava preocupado com os "direitos humanos" de um terrorista, mas não com os direitos das vítimas que ele potencialmente causava com as suas palavras de loucura e morte.
E só agora a ministra do Interior britânica, a conservadora Theresa May, promete legislação pesada para o extremismo e as incitações ao ódio --em espaços públicos, escolas, mesquitas etc. Até os trabalhistas aplaudem a "coragem" da senhora.
Não admira: como informa o "Daily Telegraph", existem mais cidadãos britânicos de origem muçulmana marchando nas fileiras do EIIL do que no exército de Sua Majestade. Eis um retrato da pátria de Churchill.
Mas há outro. Porque não existem apenas fanáticos islamitas que, dentro do Ocidente, pregam a morte do Ocidente. É preciso relembrar os fanáticos revisionistas e multiculturalistas que, na mídia e nas universidades, foram oferecendo as doces pastagens da retórica antiocidental.
Caso clássico: anos atrás, Ian Buruma e Avishai Margalit escreverem um livro que inverte o título (e a tese) do celebrado "Orientalismo" de Edward Said. Chama-se "Ocidentalismo" e é um estudo sobre a visão deturpada e grotesca do Ocidente produzida pelos seus inimigos.
E, no topo da lista, está um longo rol de intelectuais ocidentais --de Spengler a Heidegger, sem esquecer o demencial Sartre-- para quem o Ocidente era um antro de decadência/declínio/corrupção/brutalidade/desumanidade/exploração (pode escolher à vontade). Essa retórica, escreviam os autores, acabou por emigrar para o mundo inteiro, Oriente Médio em especial. E é hoje repetida, "ipsis verbis", pela turma do EIIL.
No livro, há até um episódio pícaro (e grotesco; atenção, famílias) que ilustra bem como as más ideias viajam depressa. Acontece quando o Taleban tomou Cabul em 1996, pendurou o presidente afegão Najibullah no poste, encheu os seus bolsos de dólares e colocou cigarros entre os dedos quebrados do cadáver.
Mensagem: esse aí é um produto degenerado do Ocidente em seus vícios e ganâncias.
(Curioso, lembrei agora: as campanhas antifumo poderiam usar a imagem do antigo presidente afegão enforcado e com cigarros entre os dedos. E o lema: "Fumar prejudica a saúde." Mas divago.)
Porque a questão é glacial: se nós, ocidentais, não respeitamos o que somos ou temos, independentemente de todos os erros cometidos (e corrigidos: será preciso lembrar a escravatura, abolida por aqui e praticada ainda no resto do mundo?), por que motivo devem os outros respeitar-nos?
Gostamos tanto de nos apresentar como vermes que os outros acabam olhando para nós como vermes.
Soluções?
Deixemos isso para os líderes do mundo, como Barack Obama, que tipicamente não sabe o que fazer. (Uma sugestão: que tal reduzir à Idade da Pedra quem tem a mentalidade de homens das cavernas, senhor presidente?)
Mas já seria um grande contributo se o Ocidente fosse um pouco mais intolerante com a intolerância daqueles que recebemos, alimentamos, sustentamos --e enlouquecemos de ódio com o ódio que sentimos por nós próprios.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Não é possível gerenciar a economia por meio de uma planilha eletrônica ( Nicolás Cachanosky)


6739.jpgO Ministro da Fazenda da Argentina, Axel Kicillof, tornou-se famoso pela declaração de que, nos tempos atuais, é possível gerenciar centralizadamente toda uma economia. Segundo ele, as planilhas eletrônicas, como o Microsoft Excel, tornam possível toda este gerenciamento centralizado.
Mais importante do que a involuntária comicidade da declaração é a errônea visão contida nela: a de que os preços dos bens e serviços são determinados pelos custos de produção, algo que, por si só, permitiria todo o gerenciamento centralizado da economia.  Tal crença revela uma profunda ignorância a respeito do processo de mercado.
Essa discussão, no entanto, não é nada nova.  A primeira metade do século XX testemunhou o debate acerca da viabilidade do cálculo econômico sob o socialismo.  Aparentemente, os burocratas da Argentina não aprenderam nada deste antigo debate.  A questão não é se temos ou não poderosas planilhas eletrônicas à nossa disposição; a questão é a impossibilidade de se criar, de maneira bem-sucedida, um mercado centralizadamente planejado.
Ainda no início do século XX, Ludwig von Mises, Max Weber e Boris Brutzkus ofereceram — cada um à sua maneira e de forma independente — críticas à impossibilidade do arranjo socialista, arranjo esse entendido como uma sociedade em que não há propriedade privada dos meios de produção.
Mises foi simples e direto.  Ao contrário de um arranjo formado por famílias ou pequenas tribos, em que os membros possuem um conhecimento íntimo sobre as poucas coisas ao seu redor, uma sociedade grande e complexa só pode funcionar caso os bens e serviços sejam livremente precificados, o que permitiria o cálculo dos custos, do lucro e dos prejuízos.  No entanto, sem a propriedade privada dos meios de produção, não é possível haver um mercado para estes meios de produção.  Sem este mercado, não há formação de preços.  Sem preços livremente formados, é impossível fazer qualquer tipo de cálculo de preço e de custos, e consequentemente a sociedade não tem como ser organizada de maneira eficiente.  Os socialistas, argumenta Mises, são rápidos em apontar qualquer falha de mercado, mas permanecem em silêncio quando são instados a mostrar como organizar eficientemente uma sociedade socialista na qual não há a existência de preços. 
Marx, que não ofereceu nenhuma explicação sobre como o socialismo funcionaria tão logo o capitalismo desaparecesse, rotulou os socialistas (Saint-Simon e Fourier) — que de fato chegaram a descrever como seria uma sociedade socialista — de "utópicos". 
Sem o cálculo econômico para revelar quais atividades acrescentam valor para a sociedade (que dão lucro) e quais retiram valor (que dão prejuízos), torna-se uma ilusão supor que a eficiência iria simplesmente surgir do nada.  Quaisquer outros argumentos para a organização da sociedade que não envolvam o cálculo econômico podem até ser feitos, mas o problema de como a eficiência econômica seria alcançada permanece sem resposta.
Como tentativa de resposta a essa crítica de Mises, vários pensadores socialistas fizeram de tudo: houve aqueles que se limitaram a descrever sociedades socialistas imaginárias e perfeitas, houve aqueles que se concentraram em fazer críticas puramente emocionais ao capitalismo, e houve aqueles poucos que realmente tentaram solucionar o desafio proposto por Mises.  Oskar Lange e Wassily Leontief foram dois dos mais famosos autores que tentaram solucionar o desafio proposto por Mises.  Uma das respostas oferecidas é a suposição de que é possível os controladores da economia usufruírem informações perfeitas (suposição essa ainda presente nos livros-texto de economia). 
Segundo este argumento, se supusermos que os controladores da economia estão em posse de absolutamente todas as informações necessárias para gerenciar a economia, então é possível fazer com que a economia esteja em equilíbrio.  Em outras palavras, se o cálculo econômico era impossível em termos estritamente computacionais por causa da ausência de preços, então bastava que os planejadores centrais criassem equações matemáticas que simulassem corretamente as condições vigentes de mercado, o que possibilitaria determinar oferta, demanda e preços, fazendo com que todo o processo produtivo magicamente se tornasse racional.
Sendo assim, o desafio de Mises seria até interessante, mas inadequado.  Uma economia gerenciada centralizadamente seria possível, desde que os controladores da economia possuíssem informações perfeitas sobre todas as condições de todos os mercados — o que os possibilitaria jogar esses dados no Excel e levar a economia ao paraíso. 
Neste ponto do debate, foi Hayek quem respondeu à argumentação dos socialistas com quatro pontos importantes:
(1) A quantidade de informações necessárias e a impossibilidade de se fazer cálculos econômicos quando não há propriedade privada dos meios de produção impossibilitam o projeto socialista, mesmo se aceitarmos a suposição de que é possível existir informações perfeitas.  Como explicou o professor Jesús Huerta de Soto,
O socialismo é um erro intelectual porque é impossível o órgão planejador coletar e utilizar corretamente todas as informações de que necessita para imprimir um conteúdo coordenador às suas ordens.  O volume de informações que os seres humanos manejam e com as quais lidam diariamente é imenso, de modo que é impossível gerir o que sete bilhões de seres humanos têm na cabeça. [...] Este é o grande paradoxo do socialismo, e o seu maior problema.  O planejador da economia necessita receber um fluxo ininterrupto e crescente de informação, de conhecimento e de dados para que seu impacto coercivo — a organização da sociedade — tenha algum êxito.  Mas é obviamente impossível uma mente ou mesmo várias mentes obterem e processarem todas as informações que estão dispersas na economia.  As interações diárias entre milhões de indivíduos produzem uma multiplicidade de informações que são impossíveis de serem apreendidas e processadas por apenas um seleto grupo de seres humanos.
Mesmo sabendo que os socialistas e marxistas normalmente param nesse ponto e não avançam além dele, a observação de Hayek é muito mais profunda, como mostram os pontos seguintes.
(2) A suposição de informação perfeita é inválida.  O desafio não é fazer a economia estar em equilíbrio, mas sim fazer a transição da economia para o equilíbrio.  Assim como não é possível abrir uma lata de comida ao simplesmente supor a existência de um abridor de latas, também não é aceitável desconsiderar o desafio de Mises simplesmente supondo que há informações perfeitas.  De onde surgiram todas essas informações perfeitas?  A quem elas foram dadas?  A simples suposição da informação perfeita não simplifica o problema a ser resolvido; ela apenas o adultera e se torna irrelevante para o debate.  É por isso que os economistas seguidores da Escola Austríaca sempre se mostraram muito mais preocupados em entender o processo de mercado do que em fantasiar supostas condições de equilíbrio.
(3) Hayek também faz uma distinção entre informação e conhecimento.  Informação é um conceito quantitativo e, como tal, pode ser completa (perfeita) ou incompleta (imperfeita).  É a isso que os socialistas se referem quando supõem a existência da 'informação perfeita'.  Já o conhecimento é um conceito qualitativo e, por isso, não pode ser nem completo nem incompleto.  Saber como andar de bicicleta ou como administrar exitosamente uma empresa não são conhecimentos que podem ser quantificados e inseridos em uma planilha de Excel. 
Essa distinção é importante porque os empreendedores e seu empreendedorismo é que são o motor do desenvolvimento e do crescimento econômico.  Em outras palavras, o Excel não pode solucionar os mesmos problemas de mercado que os empreendedores são capazes de solucionar, pois tal habilidade requer interpretação e conhecimento, e não somente o conhecimento de dados numéricos.  Mesmo que todas as informações fossem corretamente repassadas ao Ministro da Fazenda, ele nada poderá fazer caso não saiba como interpretá-las.
(4) Informação e conhecimento não são independentes do processo de mercado.  Sem a propriedade privada não há mercado. Sem mercado não há a formação de preços.  E sem preços não há informação a ser transmitida.  Hayek, portanto, está utilizando o outro lado do argumento de Mises para dizer que, ao abolir a propriedade privada, os socialistas estão abolindo a existência das próprias informações que eles supõem como dadas e conhecidas.
Portanto, a posição de Mises e a de Hayek são complementares.  Mises, ao se concentrar na inexistência de preços de mercado, deixou claro que essa ausência de preços impossibilitaria aquilo que ele chamou de "divisão intelectual do trabalho".  Os preços estabelecidos pelo mercado permitem que os empreendedores descubram novas informações sobre o atual estado do mercado e utilizem esses conhecimentos recém-adquiridos para aproveitar novas oportunidades de lucro.  É essa busca pelo lucro que os leva a atuar de forma empreendedora, comprando fatores de produção a preços baixos, utilizando-os para transformar matéria-prima em bens de consumo, e vendendo o produto final a preços mais altos.  A consequência do socialismo é o bloqueio da divisão intelectual do trabalho, que é justamente o argumento de Hayek. 
Tão logo percebemos a profundidade dos quatro pontos formulados por Hayek, concluímos que aceitar o uso da planilha do Excel para gerenciar a economia é como construir um carro sem um motor (os empreendedores) e sem placas nas estradas (o mercado) para indicar o caminho correto a ser seguido.  É um erro inominável imaginar que preços regulados podem funcionar como preços de mercado.  Os únicos preços que fornecem informações úteis e proveitosas são aqueles que surgem das trocas livres e voluntárias feitas no livre mercado, e não aqueles que o governo impõe ao utilizar uma planilha de Excel.  É uma perigosa ilusão acreditar que as mesmas informações fornecidas pelos preços surgidos livremente no mercado serão também magicamente fornecidas pelos preços estabelecidos pelo governo. 
O sucesso de uma política econômica ou de uma regulação de mercado não pode ser avaliado de acordo com desejos e intenções, mas sim de acordo com resultados.  O problema com a abordagem do Excel não é a intenção dos burocratas e reguladores, mas sim o fato de que tais ferramentas simplesmente não podem substituir o processo de mercado.
Para concluir com as palavras do professor de Soto:
Esta é a demonstração em termos científicos do motivo de o socialismo ser teoricamente impossível.  É impossível o órgão planejador socialista coletar, apreender e colocar em prática todas as informações de que necessita para imprimir um conteúdo coordenador aos seus decretos.  Esta é uma análise puramente objetiva e científica.  Não é necessário pensar que o problema do socialismo está no fato de que "aqueles que estão no comando são maus".  Nem mesmo anjos, santos ou seres humanos genuinamente bondosos, com as melhores intenções e com os melhores conhecimentos, poderiam organizar uma sociedade de acordo com o esquema coercivo socialista.  Ela seria convertida em um inferno, já que, dada a natureza do ser humano, é impossível alcançar o objetivo ou o ideal socialista.