segunda-feira, 30 de junho de 2014

“Não sou pessimista. O PT é que é péssimo para o Brasil” (FMB)

“Brasileiro é o povo mais otimista do mundo, diz pesquisa do Instituto Gallup World Poll.” Amatéria está no Portal da Copa, o site do governo federal (abre aspas) “sobre a Copa do Mundo”: “Com nota 8,8, numa escala de 0 a 10, o Brasil voltou a liderar o ranking, pelo oitavo ano consecutivo. ‘Ninguém vê o futuro com tanto otimismo quanto o brasileiro’, afirma o ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Marcelo Neri”. Ancelmo Gois também deu a notícia, reproduzida pelos blogs sujos do PT: “não há povo no mundo que acredite mais no futuro do que o brasileiro”. É verdade. (Nem vou questionar os métodos da pesquisa dessa vez.) É por isso que o PT está há 12 anos no poder, prometendo um futuro que nunca chega. “A principal causa do fracasso nacional”, dizia Diogo Mainardi, “é o otimismo psicótico dos brasileiros.”
Na convenção nacional petista, Dilma repetiu como promessas os compromissos que assumira em sua posse e que não conseguiu executar. Fez isso, como destacou Josias de Souza, “sem pronunciar nenhuma frase que pudesse ser entendida como uma autocrítica. Ao contrário. Em algumas passagens de sua fala, Dilma culpou terceiros pelos malogros do seu governo”. Por exemplo: “o compromisso de melhorar os serviços públicos, antes ‘decisivo, irrevogável e indispensável’, virou [quase quatro anos depois] um objetivo impalpável a ser obtido num futuro incerto, no bojo de um ambicioso ‘Plano de Transformação Nacional’. Desde que governadores e prefeitos deixem de ser um estorvo para as boas intenções do governo federal.” Encobrir os próprios fracassos* com a afetação de boas intenções é a receita básica da esquerda revolucionária, tanto mais eficiente quanto mais loucamente otimista (lê-se: otário) é o povo.
O que o radialista americano Rush Limbaugh fala do método de Obama se aplica perfeitamente a Dilma: “Você sai e anuncia que você tem essas novas metas monumentais, esses novos planos monumentais, você vai agilizá-los, vai melhorá-los, e é isso. Se eles acontecem ou não, é irrelevante. O crédito a Obama aumenta com o anúncio de sua intenção de melhorar.” Ou ainda: “Esta é a chave para tudo o que a esquerda faz: boas intenções… Não importa se é um fracasso de política interna ou externa; boas intenções são como a esquerda disfarça e camufla todos os seus fracassos.” No Brasil, o elogio do otimismo pela imprensa chapa-branca e a rotulação dos adversários como “pessimistas” pelo partido vêm fortalecer a esperança (a “esperança contra o ódio”, como inverte Lula) de que o PT fará em mais quatro anos aquilo que não fez em doze.
Para ajustar o vocabulário ao desejo de mudança manifestado por 74% do eleitorado, Dilma pronunciou 47 vezes palavras ou expressões com o significado de recomeço ou de ajuste, entre elas “transformação” (17 vezes, incluindo variantes), “reforma” (12), “novo ciclo” (7), “mudança” (5), “melhorar” (5), “novo salto” (1). Aécio Neves havia dito no programa Roda Viva: “O governo é tão ruim que até o PT quer mudar”, mas a mudança petista, na verdade, é pura propaganda eleitoral para otimistas bocós. O que o PT realmente quer mudar, pelo decreto 8.243, é a ordem constitucional do país, trocando a representação eleitoral pelo governo direto de organizações e movimentos criados pelo partido e chamados cinicamente de “sociedade civil”.
A proposta de “gerar novos espaços de participação popular na gestão pública” – e por “popular” entenda-se não do povo, mas desses movimentos – já estava explícita na declaração final do XIX encontro do Foro de São Paulo, realizado em 2013, de modo que o governo Dilma, submetendo a soberania nacional ao poder continental da entidade esquerdista, apenas a colocou em prática para garantir a gestão pública de seus partidários mesmo em caso de derrota nas urnas. Este sim é o “novo salto” – o salto qualitativo que marca a passagem de qualquer regime para uma ditadura socialista de fato. A lista negra de jornalistas, anunciada pelo vice-presidente do PT, Alberto Cantalice, é o prenúncio do paredón que virá (talvez à moda Celso Daniel) se não houver iniciativas criativas e corajosas contra os “avanços” dessa gente, que também se reúne com PCC (Luiz Moura) e Black Blocs (Gilberto Carvalho). Se ainda há tontos para rir da hipótese de fuzilamento, devem ser os mesmos que riam de quem denunciava a existência do Foro e de seu plano ora decretado de implantar o comunismo no Brasil.
A literatura contra o otimismo
Machado de Assis e Lima Barreto até que tentaram, mas não fizeram o povo menos suscetível aos arautos do futuro melhor. O positivismo, um dos responsáveis por exacerbar o otimismo geral, já teria sido menos danoso ao país se o trecho de “Recordações do Escrivão Isaías Caminha” (1909), de Lima Barreto, em que Isaías analisa o discurso de Raimundo Teixeira Mendes (1855-1927) e seus esboços da ordem futura, tivesse recebido a merecida atenção: “A quantas necessidades presentes daquele auditório não iria dar remédio a promessa daquela sociedade a vir?! Os homens têm amor à utopia quando condensada em fórmulas de felicidade; e aqueles militares, funcionários, estudantes, encontravam naquelas afirmações, repetidas com tanta segurança e cuja verdade não procuravam examinar, um alimento para a fome de felicidade da espécie e um consolo para os seus maus dias presentes.” Se Machado de Assis, como lembravaMainardi, “nunca se deixou contaminar pelo otimismo panglossiano dos brasileiros, evitando aquela euforia irracional que, ao longo de nossa história, sempre resultou em alguma forma de abuso”, o personagem de Barreto também teve seu saudável ceticismo.
De todo modo, soterradas pelo acúmulo de chavões idiotizantes, as mentes brasileiras perdem há pelo menos 105 anos – e mais ainda nas últimas décadas graças a ocupação de espaços culturais e de ensino pela militância – o poder de reação que a liberdade de decisão humana lhes faculta. Assim como o sucesso do positivismo entre os militares se deveu sobretudo ao Catecismo Positivista (1852) de Auguste Comte que circulava nas escolas (e que, de acordo com Isaías, Teixeira Mendes explicava na Igreja do Apostolado, no Rio), o sucesso do marxismo entre os estudantes universitários se deveu à sua divulgação em manuais de propaganda, que trazia fórmulas prontas de fácil absorção para pessoas incapazes de trabalho intelectual sério. Foi daí que ambos – as duas alas principais do movimento revolucionário – se propagaram pela sociedade até virarem o “positivismo inconsciente“, de que fala Olavo de Carvalho, e o “marxismo atmosférico“, segundo Nelson Rodrigues, que tornaram o Brasil este eldorado para qualquer projeto de mudança social a ser realizado mediante a concentração de poder.
O otimismo psicótico brasileiro talvez seja incurável e decerto o PT vai otimizá-lo em favor deste seu projeto comunista, no qual quase 60 mil assassinatos por ano no país (137 por dia), o 55º lugar dos estudantes no ranking de leitura do Pisa, o desastre dos hospitais públicos e o Pibinho são só detalhes disfarçados e camuflados com a afetação de boas intenções. Mas se ”campanha é um trabalho de explicar”, como disse Dilma na convenção, resta a oposição parafrasear o (ex?-)comunista José Saramago e explicar ao povo o óbvio ululante:
“Não sou pessimista. O PT é que é péssimo para o Brasil.”

DEPOIS DA ELEIÇÃO O TSUNAMI (Maria Lucia Victor Barbosa)


Cartoon publicado no blog português Humografe
Por Maria Lucia Victor Barbosa (*)
A Copa do Mundo precedida por manifestações selvagens dos “black blocs” ou dos ditos movimentos sociais, de greves políticas oportunistas, de perturbações da ordem que martirizaram populações em diversos estados brasileiros, agora decorre em clima festivo nos estádios renomeados de arenas.
O desempenho da seleção brasileira tem sido sofrível e começou com um constrangedor gol contra, mesmo assim se a bola entra na rede o grito que reboa é de alegria intensa como se a alma, a vida, a redenção das pessoas pudessem estar contidas no chute providencial.
Lula, o pai da Copa, crê piamente que a euforia popular que o futebol propicia é invenção e dádiva sua às massas empolgadas. Aliás, o criador e a criatura sempre se atribuem o que é esforço, trabalho e mérito dos brasileiros. Na verdade, o governo corrupto, incompetente, burocrático, perdulário, patrimonialista mais atrapalha que ajuda, especialmente os que querem produzir.
De todo modo, a Copa existiu para ser o grande palanque de Lula e consequente apoteose de Rousseff a ser aclamada nas urnas por um povo feliz com a vitória da seleção. Algo, porém, maculou o cálculo de marketing visando a continuidade de poder do PT: o monumental coro do xingamento sofrido pela governanta na abertura dos jogos.
Hipocritamente Lula se mostrou indignado com o impropério. Logo ele um desbocado afeito a palavrões e à cafajestice que lhe rendem aplausos dos áulicos que o rodeiam ou dos auditórios devidamente selecionados para ovacioná-lo.  E para explicar a vaia o presidente de fato partiu novamente para cima da elite branca e da mídia. Ao que se saiba, Lula e sua família não são negros e sem trabalho ou esforço ascenderam à elite econômica e política do país. Melhor dizendo, chegaram à classe alta, pois o significado correto de elite é produto de qualidade, coisa que o ex-presidente está longe de ser.
De todo modo, o palanque da Copa não está funcionando para o PT. Uma coisa é futebol, outra é inflação, inadimplência, queda do emprego, retração da produção industrial, pibinhos que nos deixam na rabeira dos BRICS.
Ressalve-se que basta ser dona de casa para perceber a péssima situação da economia, fruto de um dos piores governos que o Brasil já teve. Basta ir ao supermercado. Rousseff, por sua vez, recebeu a herança maldita do criador e é esta situação que transborda das vaias, das infidelidades partidárias, das pesquisas de opinião que mostram a governanta ladeira abaixo. Diante de tal situação parece que pela primeira vez o medo venceu a esperança do PT permanecer no poder.
O medo pode paralisar ou impelir a reações fortes. Lula não quer assumir o lugar da criatura na campanha, pois sabe o descalabro que será 2015 do ponto de vista da economia com as inevitáveis decorrências sociais. Prefere colar na governanta e com sua verborragia e suas mentiras elegê-la. Sendo ela vitoriosa precisará de anteparos para governar. Se for outro o eleito, os mesmos anteparos se converterão em obstáculos para tentar inviabilizá-lo.
Desse modo, enquanto o povo contente grita gol, as garras totalitárias do PT se estendem sobre a nação. O Marco Civil está em curso, significando que sutilmente foi baixada a censura sobre os meios de comunicação, sobre a liberdade de pensamento. Já existe até uma lista de jornalistas “malditos” que deverão ser expurgados pelo partido.
Sem o ministro Joaquim Barbosa, honrosa exceção de competência, coragem e honradez o STF retoma os conhecidos caminhos da impunidade e o primeiro ato é permitir que mensaleiros trabalhem, passando assim por cima de critérios e privilegiando companheiros em detrimento dos demais presos. Em breve pode ser que especialmente os quatro mensaleiros do PT estejam leves, livres e soltos.
Tem mais e pior, a relembrar velhos tempos, quando existia a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Aguarda para votação no Congresso o decreto 8.243, apelidado de “bolivariano”. Por esse decreto presidencial serão criados conselhos compostos por uma vaga sociedade civil e pelos ditos movimentos sociais, organizados, manobrados e custeados pelo governo petista. Os conselhos ou soviets deliberarão em todos os órgãos públicos. A tal participação popular, na verdade ideológica, inclusive, se sobreporá ao Congresso, ficando assim resolvidos todos os problemas de governabilidade em um possível novo mandato da criatura, ou seja, do criador. Afinal, é ele quem manda.
Aproveite, pois, o povo, alegrias e festas da Copa porque depois da eleição virá o tsunami.

O luxo de alguns e a desigualdade de riqueza e de renda (Ludwig von Mises)


art4076img1.jpgUm dos aspectos mais criticados em nossa ordem social é a desigualdade da distribuição da riqueza e da renda.  Há ricos e pobres; há os muito ricos e os muito pobres.  Para esses lamuriantes, a solução é simples: a igual distribuição de toda riqueza. 
A primeira e mais trivial objeção a esta proposta é que ela não será de muita serventia, pois os pobres superam, em muito, o número de ricos, de tal modo que cada indivíduo nada poderia esperar dessa distribuição, a não ser um aumento insignificante de seu padrão de vida.  Este argumento, sem dúvida, é correto, mas incompleto.  
Os que defendem a igualdade de distribuição de renda desconsideram um ponto extremamente importante: o total disponível para a distribuição não é algo estático; a riqueza total não é independente da maneira pela qual é dividida.  Dizendo de outra maneira, a riqueza total de uma sociedade será diretamente afetada caso ela sofra uma redistribuição compulsória.
A igualdade de renda como um postulado ético
O desejo de que "todos os homens devem ter rendimentos iguais" é um postulado que nada tem de científico; seu aspecto é meramente ético.  E, como tal, só pode ser avaliado subjetivamente.  Tudo o que a ciência econômica pode fazer é mostrar o quanto tal objetivo iria custar para a humanidade, e de quais outros objetivos deveríamos abrir mão em nosso esforço para tentar alcançar este. 
A maioria das pessoas que exige a maior igualdade possível de rendas não percebe que o objetivo que elas desejam só pode ser alcançado pelo sacrifício de outros objetivos.  Elas imaginam que a soma de todas as rendas permanecerá inalterada e que tudo o que elas precisam fazer é apenas distribuir a renda de maneira mais uniforme do que a distribuição feita pela ordem social baseada na propriedade privada.  Os ricos abdicarão de toda a quantia auferida que estiver acima da renda média da sociedade, e os pobres receberão tanto quanto necessário para compensar a diferença e elevar sua renda até a média.  Mas a renda média, imaginam eles, permanecerá inalterada. 
É preciso entender claramente que tal ideia baseia-se em um grave erro.  Não importa qual seja a maneira que se conjeture a equalização da renda — tal medida levará, sempre e necessariamente, a uma redução extremamente considerável da riqueza total disponível e, consequentemente, da renda média de cada indivíduo.  
Quando se compreende isto, a questão assume uma complexidade bem distinta: temos agora de decidir se somos a favor de uma distribuição equânime de renda a uma renda média mais baixa, ou se somos a favor da desigualdade de renda a uma renda média mais alta.
A decisão irá depender essencialmente, é claro, de quão alta será a redução estimada na renda média causada pela alteração na distribuição social da renda.  Se concluirmos que a renda média será mais baixa do que aquela que é hoje recebida pelos mais pobres, nossa atitude provavelmente será bem distinta da atitude da maioria dos socialistas sentimentais.  Se aceitarmos o que já foi demonstrado sobre o quão baixa tende a ser a produtividade sob o socialismo, e especialmente a alegação de que o cálculo econômico sob o socialismo é impossível, então este argumento do socialismo ético também desmorona.
É incorreto dizer que alguns são pobres simplesmente porque outros são ricos.  Se uma sociedade capitalista fosse substituída por uma sociedade baseada na igualdade de renda, todos os cidadãos se tornariam mais pobres.  Por mais paradoxal que isso possa soar, os pobres só recebem o que recebem porque os ricos existem.  Não fossem os ricos, os pobres estariam em situação muito pior.
O homem moderno sempre teve perante si a possibilidade de enriquecer por meio do trabalho e do empreendedorismo.  Nas sociedades econômicas mais rígidas do passado, isto era mais difícil.  As pessoas eram ricas ou pobres desde o nascimento, e assim permaneciam por toda a sua vida, a menos que tivessem a chance de mudar de posição em decorrência de algum fato inesperado, o qual não poderia ser causado ou evitado pelo seu próprio trabalho ou iniciativa.  Consequentemente, tínhamos os ricos caminhando nas alturas e os pobres, nas profundezas.  Mas não é assim em uma sociedade capitalista. 
Os ricos podem mais facilmente se tornar pobres e os pobres podem mais facilmente enriquecer.  E dado que cada indivíduo não mais nasce, por assim dizer, com seu destino ou com o destino de sua família já selado, ele tenta ascender ao mais alto que for capaz.  Ele jamais poderá ser suficientemente rico, pois em uma sociedade capitalista nenhuma riqueza é eterna.  No passado, o senhor feudal era intocável.  Quando suas terras se tornavam menos férteis, ele tinha de reduzir seu consumo; porém, desde que ele não se endividasse, ele mantinha sua propriedade. 
O capitalista que empresta seu capital e o empreendedor que produz têm de ser aprovados no teste do mercado.  Aquele que investir insensatamente, ou produzir a custos altos, estará arruinado.  Isolar-se do mercado não mais é uma possibilidade.  Mesmo as fortunas fundiárias não podem escapar da influência do mercado; a agricultura, também, tem de produzir capitalisticamente.  Hoje, um homem deve obter seu dinheiro em troca do trabalho.  Caso contrário, ele empobrece.
Aqueles que desejam eliminar esta necessidade de trabalhar e de empreender precisam entender bem claramente que o que eles estão propondo é o solapamento dos pilares do nosso bem-estar.  Que hoje a terra seja capaz de alimentar muito mais seres humanos do que jamais conseguiu em toda a sua história, e que eles hoje vivam em condições muito melhores que as de seus ancestrais, é um fato que se deve inteiramente ao instinto aquisitivo do ser humano.  Se o empenho da indústria moderna fosse substituído pelo estilo de vida contemplativo do passado, incontáveis milhões de pessoas estariam condenadas à morte por inanição.
Na sociedade socialista, a arrogância e a preguiça dos funcionários do governo assumirão o lugar da ávida e perspicaz atividade das indústrias modernas.  O funcionário público irá substituir o empreendedor vigoroso e dinâmico.  Se a civilização vai ganhar com isso é algo que deixaremos para os autonomeados juízes do mundo e de suas instituições julgarem quando estiverem famintos.  Seria o burocrata realmente o tipo humano ideal, e deveríamos nós almejar a preencher o mundo com este tipo de gente a qualquer custo? 
Muitos socialistas descrevem com grande entusiasmo as vantagens de uma sociedade formada por funcionários públicos em detrimento de uma sociedade formada por indivíduos em busca do lucro.  Para eles, em uma sociedade deste último tipo (a Sociedade Aquisitiva), cada indivíduo busca apenas a sua própria vantagem, ao passo que na sociedade daqueles dedicados à sua profissão (a Sociedade Funcional), cada indivíduo realiza suas tarefas visando ao bem de todos.  Esta avaliação mais elevada da burocracia é apenas mais uma nova forma de desdém pelo trabalho diligente e meticuloso do empreendedor e do assalariado.
Se rejeitarmos o argumento em prol do trabalho funcional e o argumento em prol da igualdade de riqueza e renda, o qual se baseia na afirmação de que alguns desfrutam sua fortuna e lazer à custa da crescente exploração do trabalho e da pobreza alheios, então os únicos fundamentos que restam para estes postulados éticos é o ressentimento e a inveja.  Ninguém deve poder ficar ocioso se eu tiver de trabalhar; ninguém deve ser rico enquanto eu for pobre.  E assim se constata, reiteradas vezes, que o ressentimento e a inveja estão por trás de todas as ideias socialistas.
A desigualdade de riquezas e de renda
O nosso nível atual de riqueza não é um fenômeno natural ou tecnológico, independente de todas as condições sociais; é, em sua totalidade, o resultado de nossas instituições sociais.  Simplesmente pelo fato de a desigualdade da riqueza ser possível em nossa ordem social, simplesmente pelo fato de estimular a que todos produzam o máximo que possam, é que a humanidade hoje conta com toda a riqueza anual de que dispõe para consumo.  
Fosse tal incentivo destruído, a produtividade seria de tal forma reduzida, que a porção dada a cada indivíduo, por uma distribuição igual, seria bem menor do que aquilo que hoje recebe mesmo o mais pobre. 
A desigualdade da distribuição da renda, contudo, tem ainda uma segunda função tão importante quanto a primeira: torna possível o luxo dos ricos. 
Muitas bobagens se têm dito e escrito sobre o luxo.  Contra o consumo dos bens de luxo tem sido posta a objeção de que é injusto que alguns gozem da enorme abundância, enquanto outros estão na penúria.  Este argumento parece ter algum mérito.  Mas apenas aparenta tê-lo.  Pois, se demonstrarmos que o consumo de bens de luxo executa uma função útil no sistema de cooperação social, este argumento será, então, invalidado.  É isto, portanto, o que procuraremos demonstrar. 
A defesa do consumo de luxo não deve, naturalmente, ser feita com o argumento que se ouve algumas vezes, a saber: que esse tipo de consumo distribui dinheiro entre as pessoas.  Se os ricos não se permitissem usufruir do luxo, assim se diz, o pobre não teria renda.  Isto é uma bobagem, pois se não houvesse o consumo de bens de luxo, o capital e o trabalho neles empregados teriam sido aplicados à produção de outros bens: artigos de consumo de massa, artigos necessários, e não "supérfluos". 
Para formar um conceito correto do significado social do consumo de luxo é necessário, acima de tudo, compreender que o conceito de luxo é inteiramente relativo.  Luxo consiste em um modo de vida de alguém que se coloca em total contraste com o da grande massa de seus contemporâneos.  O conceito de luxo é, por conseguinte, essencialmente histórico.  
Muitas das coisas que nos parecem constituir necessidades hoje em dia foram, alguma vez, consideradas coisas de luxo.  Quando, na Idade Média, uma senhora da aristocracia bizantina, casada com um doge veneziano, fazia uso de um objeto de ouro que poderia ser chamado de precursor do garfo em vez de utilizar seus próprios dedos para alimentar-se, os venezianos o considerariam um luxo ímpio, e considerariam muito justo se essa senhora fosse acometida de uma terrível doença.  Isto devia ser, assim supunham, uma punição bem merecida, vinda de Deus, por esta extravagância antinatural.  
Em meados do século XIX, considerava-se um luxo ter um banheiro dentro de casa, mesmo na Inglaterra.  Hoje, a casa de todo trabalhador inglês, do melhor tipo, contém um.  Ao final do século XIX, não havia automóveis; no início do século XX, a posse de um desses veículos era sinal de um modo de vida particularmente luxuoso.  Hoje, até um operário possui o seu.  Este é o curso da história econômica.  O luxo de hoje é a necessidade de amanhã.  Cada avanço, primeiro, surge como um luxo de poucos ricos, para, daí a pouco, tornar-se uma necessidade por todos julgada indispensável.  O consumo de luxo dá à indústria o estímulo para descobrir e introduzir novas coisas.  É um dos fatores dinâmicos da nossa economia.  A ele devemos as progressivas inovações, por meio das quais o padrão de vida de todos os estratos da população se tem elevado gradativamente. 
A maioria de nós não tem qualquer simpatia pelo rico ocioso, que passa sua vida gozando os prazeres, sem ter trabalho algum.  Mas até este cumpre uma função na vida do organismo social.  Dá um exemplo de luxo que faz despertar, na multidão, a consciência de novas necessidades, e dá à indústria um incentivo para satisfazê-las.  
Havia um tempo em que somente os ricos podiam se dar ao luxo de visitar países estrangeiros.  Schiller nunca viu as montanhas suíças que tornou célebres em William Tell, embora fizessem fronteira com sua terra natal, situada na Suábia.  Goethe não conheceu Paris, nem Viena, nem Londres.  Hoje, milhares de pessoas viajam por toda parte e, em breve, milhões farão o mesmo. 

Originalmente escrito no início da década de 1920
Ludwig von Mises  foi o reconhecido líder da Escola Austríaca de pensamento econômico, um prodigioso originador na teoria econômica e um autor prolífico.  Os escritos e palestras de Mises abarcavam teoria econômica, história, epistemologia, governo e filosofia política.  Suas contribuições à teoria econômica incluem elucidações importantes sobre a teoria quantitativa de moeda, a teoria dos ciclos econômicos, a integração da teoria monetária à teoria econômica geral, e uma demonstração de que o socialismo necessariamente é insustentável, pois é incapaz de resolver o problema do cálculo econômico.  Mises foi o primeiro estudioso a reconhecer que a economia faz parte de uma ciência maior dentro da ação humana, uma ciência que Mises chamou de "praxeologia".

Paz de boutique: o pacifismo como uma fuga da realidade (Pondé/RC)


Os europeus acreditaram que a paz seria eterna…
O mundo, sendo o que é, assusta mesmo. A história das civilizações é também a história da barbárie que os homens são capazes de cometer. Quem encara essa realidade de frente jamais pode embarcar em alguma forma de otimismo redentor e ingênuo. Os mais fracos, porém, costumam abraçar bandeiras cor-de-rosa como o pacifismo, no desejo louco de crer que o mundo é um grande parque de diversões.
Combater esta visão boboca – e muito perigosa, pois amplamente disseminada nos países ricos – tem sido um dos objetivos prioritários do filósofo Luiz Felipe Pondé. O sucesso capitalista teria criado todo tipo de luxo para as elites, e o pacifismo nada mais é do que um desses luxos. Só quem não convive com a dura realidade pode se permitir certas crenças.
Pondé lembra que antes da Primeira Grande Guerra muitos ocidentais caíram nessa falácia, acreditando que a paz era inexorável tanto quanto o progresso era linear e garantido. A Europa acordou da pior forma possível. Sua coluna de hoje foi mais um tiro certeiro para despertar esses  herdeiros dos “progressistas” da perigosa sonolência:
Uma das razões que me levam a criticar tanto as esquerdas é sua vocação para a mentira e a idealização (uma forma romântica de mentira) no trato com o mundo. Nesse universo de “mentiras chiques” da esquerda, fica difícil discutir, porque logo vem alguém e fala de “nós contra eles” e reduz o debate a uma assembleia de sindicato.
[...]
Vejo o mundo capitalista avançado como um parque temático de gente viciada em luxos, do iPhone aos direitos humanos. Dos movimentos sociais dos “sem isso ou sem aquilo” ao politicamente correto e sua canalhice institucional. O capitalismo não será destruído pelo que falta, mas pelo que sobra.
[...]
Um dos ideais modernos era a de um mundo globalizado pautado por direitos humanos (coisa cara como bolsa Prada), capitalismo “consciente” (outra coisa que leva riquinhas ao orgasmo), separação entre religião e Estado, igualdade dos sexos, das religiões e da raças diante da lei, e, claro, o que sustenta toda essa festa, enriquecimento crescente.
Mesmo quem não compartilha da visão mais pessimista dos conservadores pode fazer bom uso dela, como uma espécie de alerta constante que preserva a cautela. O mundo não é um parque de diversões. Ele está repleto de ameaças que os frequentadores do Central Park jamais saberiam lidar, pois acham que tudo se resolve com uma boa conversa, um chá das cinco, uma bela retórica de alguém como Obama, ou passeatas nas seguras ruas das cidades ocidentais com camisas brancas.
Doce ilusão! Como diz Pondé, “Antes que os bonzinhos de butique gritem, não se trata de festejar nada disso, mas de despertar dos delírios de ricos acostumados a um mundo virtual que não existe”. Quanto mais gente estiver consciente da realidade, melhor. Se os ocidentais preferirem dormir nas nuvens de algodão-doce criadas pelas fantasias esquerdistas, aí sua derrota será mesmo inevitável.

Ex-BBB aparece em foto segurando armas e patrulha histérica faz… histeria! (RC)


Fonte: UOL
É dose pra leão os ex-membros do Big Brother Brasil ainda serem vistos como “celebridades” no Brasil. Só por aqui mesmo esse programa durou até a décima-quarta edição e, ao que tudo indica, vem muito mais por aí. Mas se o programa em si é um horror, cada vez de mais baixo nível para atrair audiência, pior ainda é a reação de alguns ao que os ex-BBBs fazem.
Uma delas, vencedora do último, resolveuposar em foto segurando duas armas:
A foto tem circulado pela internet e causado grande repercussão. Alguns comentários alertaram que ela poderia estar cometendo um delito ao exibir as armas. De acordo com o advogado criminalista Marcelo Souza, a ex-BBB pode ser enquadrada no artigo de apologia ao crime por uso indevido.
“Dependendo dos trejeitos da imagem, a pessoa pode ser configurada no crime de apologia, de acordo com o artigo 286 do Código Penal Brasileiro. O porte ilegal de armas também é crime, segundo o artigo 12 da lei 10826/03 do Estatuto do Desarmamento.”
Em entrevista ao UOL, Vanessa declarou que o intuito da imagem não foi agredir ninguém. 
“Todo mundo é adulto o suficiente para entender que aquilo é apenas uma brincadeira. As pessoas deveriam se preocupar mais quando um cachorro fica acorrentado mais de 24h o que é um crime e muita gente não sabe. É muita hipocrisia! Quando o idoso entra no ônibus e não tem um lugar para sentar, isso é um crime! As pessoas não olham o próprio umbigo”, esbravejou.
Ela, que não tem porte de armas, afirma que os revólveres são de brinquedo e que pertencem a dois amigos. “Estávamos apenas brincando, tirando fotos e todo mundo faz isso. Tem campanhas de grande grifes em que aparecem pessoas segurando armas. Acho que a gente tem de se preocupar em prender ladrão, quem maltrata criança e animal ao invés de se preocupar com essas besteiras.”
O advogado adverte que existem decisões jurisprudenciais, de tribunais diferentes, que dizem que armas de brinquedo configuram crime. “Isso é muito parecido com o caso do jogador Adriano, em 2010, quando ele apareceu segurando uma metralhadora. A pessoa pode ser enquadrada, da mesma forma, no crime de apologia ou incitação, que está no artigo 285 do Código Penal. Ninguém sabe que é de brinquedo, então você está incitando as pessoas”, esclarece.
Em primeiro lugar: viver em um país onde até armas de brinquedo configuram crime já é algo que espanta mais do que o sucesso contínuo do BBB. Em segundo lugar, não tem nada a ver com o caso do jogador Adriano, pois ali ele não só segurava armas verdadeiras e ilegais, que não são permitidas nem para quem tem porte, como fez isso ao lado de bandidos.
A ex-BBB Vanessa não está “incitando” nada. Ela poderia, ao contrário, estar simulando uma mulher independente que possui armas como autodefesa. Apenas para a patrulha do desarmamento qualquer arma é automaticamente o vilão, pois essa turma acredita que a arma é que mata, não o ser humano por trás dela.
É muito barulho por nada, muita histeria por causa de uma arma. Nos Estados Unidos, país com índices bem menores de violência, a coisa mais comum do mundo é o cidadão ter uma arma em casa. Vários posam para fotos com a sua. Basta uma rápida busca no Google com “mulher” e “arma” para ver a enorme quantidade de fotos. Eis uma delas, da atriz Angelina Jolie bancando Lara Croft:
Tem que ter um gosto muito suspeito para não achar essa imagem um tanto sexy. Se a ex-BBB tivesse posado para uma foto fazendo sexo com sua parceira, aliás, talvez não causasse tanta comoção. Era capaz de a turma “progressista” achar o máximo e usar em escolas infantis para combater o preconceito.
Ou se ela estivesse fumando um cigarro ilegal de maconha, não haveria ataque algum. Quem sabe se ela estivesse enfiando uma cruz em suas partes íntimas em frente a crianças em um evento cristão, ela conseguisse até a capa dos jornais como uma “protestante” legítima. Mas segurando duas armas?! Não pode! Um horror! Criminosa!
É tudo tão ridículo que passamos a achar a eterna duração do BBB o menor dos males que assolam nosso país…







sexta-feira, 27 de junho de 2014

Como o porte irrestrito de armas garantiu a liberdade dos suíços (Carlos Stagnaro)


swiss2.jpgQuando se trata da Segunda Guerra Mundial, a maioria das pessoas tende a pensar apenas em dois lados: o Eixo e os Aliados.  Em termos modernos, foi um conflito de civilizações, por assim dizer, em que os defensores do bem e do mal lutarem até a morte.  É claro que a realidade nunca é tão simples, como diria qualquer individualista.
A "grande história" é conhecida de todos.  Porém, poucos sabem do papel da Suíça durante o conflito.  Aquele pequeno país teve êxito em preservar sua tradicional liberdade até mesmo quando Hitler estava prestes a ganhar a guerra e estabelecer uma Nova Ordem Mundial.  Os cidadãos suíços sempre estiveram unidos em oposição à ditadura nazista.  Da mesma forma, eles jamais assinaram qualquer tipo de pacto ou aliança com a Grã-Bretanha, os EUA e a União Soviética.  Eles mantiveram a política de 'neutralidade armada', e a dissuasão era sua mais poderosa arma — para não mencionar as armas que todo cidadão possuía privadamente, as quais eram uma grande ameaça para qualquer exército invasor, fosse ele alemão, soviético ou qualquer outro.
Recentemente, conversei sobre o comportamento da Suíça durante a Segunda Guerra Mundial — e tentei aprender algo útil para o nosso futuro — com Stephen P. Halbrook, autor do livro Target Switzerland — Swiss Armed Neutrality in World War II (Alvo: Suíça — A Neutralidade Armada Suíça na Segunda Guerra Mundial).  
O senhor Halbrook é também autor de vários livros e artigos sobre o direito de ter e portar armas: dentre eles, o famoso That Every Man Be Armed — The Evolution of a Constitutional Right.
STAGNARO: Muitas pessoas acreditam que a Suíça foi bastante "colaboracionista" com a Alemanha nazista durante a Segunda Guerra Mundial.  Seu livro, entretanto, mostra que as coisas na verdade foram bem diferentes.  Como poderiam os suíços defender sua independência sem fazer concessões ao regime de Hitler?
HALBROOK: Cada homem na Suíça possuía um rifle em sua casa.  Participar de caçadas e praticar tiro ao alvo era o esporte nacional.  Dê uma olhada no mapa e você verá a pequena e democrática Suíça cercada por forças do Eixo que se estendiam por toda a Europa, indo do Norte da África até a Rússia.  Essa nação de pessoas armadas, situada nos Alpes, conseguiu se manter neutra e dissuadir uma invasão nazista.
Winston Churchill, o líder inglês desse período de guerra, escreveu que os Aliados estavam empenhados em conquistar a Alemanha em 1944: "De todos os países neutros, a Suíça possui o direito à maior das honrarias... O país tem sido um estado democrático, sempre em prol da liberdade e praticando sua autodefesa entre suas montanhas.  E em pensamento, não obstante sua raça, predominantemente ao nosso lado."
Em contraste, no ano anterior, Adolf Hitler havia declarado que "todo o entulho representado pelas pequenas nações que ainda existem na Europa deve ser liquidado o mais rápido possível", e que, se necessário, ele passaria a ser conhecido como o "Açougueiro da Suíça".
Porém Hitler sabia que os suíços eram cidadãos amplamente portadores de armas, e que por isso muitos nazistas seriam massacrados no processo.  Residindo em Berna, o espião americano Allen Dulles, chefe do Office of Strategic Services (OSS, agência de inteligência do governo dos EUA, predecessora da CIA, estabelecida durante a Segunda Guerra Mundial), explicou que "No auge de sua mobilização, a Suíça possuía 850.000 homens fortemente armados prontos para a guerra ou apenas esperando em reserva, um quinto da população total..... Que a Suíça não tenha tido de lutar foi graças à sua disposição a resistir e ao seu amplo investimento em homens e equipamentos para sua própria defesa.  O custo para a Alemanha de uma invasão à Suíça certamente teria sido extremamente alto."
Incidentalmente, alguns italianos sectários, partidários dos Aliados, frequentemente cruzavam a fronteira norte da Itália até Ticino, o cantão suíço onde se fala italiano, para combinar com a OSS entregas aéreas de suprimentos e de equipamentos de ajuda para suas tropas localizadas nas montanhas.
STAGNARO: Os generais alemães estudaram vários planos de invasão à Suíça.  Todos eles se mostravam extremamente preocupados com a força do exército suíço, bem como com a capacidade dos suíços em fazê-los pagar um preço muito alto por essa invasão.  Vamos exercitar um pouco a imaginação: caso os alemães realmente tivessem tentado invadir a Suíça, qual seria o provável destino deles?
HALBROOK: Quando Hitler chegou ao poder em 1933, a propaganda nazista retratava a Suíça como um dos vários países a serem anexados como parte da "Grande Alemanha".  Ao contrário dos outros países neutros da Europa, que haviam gastado muito dinheiro com seu estado assistencialista, os suíços imediatamente começaram a se preparar militarmente para repelir um eventual ataque alemão.  Em 1940, a Suíça era uma potencial rota de invasão para o sul da França, ao passo que a Bélgica e a Holanda eram as rotas de invasão para o norte da França.  Os alemães evitaram a Suíça, onde todos os homens estavam armados e o espírito de resistência era predominante.  
Logo após a queda da França, as forças alemãs arquitetaram vários novos planos de invasão à Suíça — os nazistas ocupariam as áreas suíças que falavam alemão e francês, e a Itália fascista ocuparia a área que falava italiano.  Esses planos reconheciam que os suíços eram atiradores exímios e, exatamente por isso, recomendavam a utilização de forças consideráveis e numerosas para o ataque.  Embora Hitler odiasse a Suíça — que ele dizia ser uma "pústula" na face da Europa — por ela ter se recusado a aderir à Nova Ordem, ele teve sua atenção desviada para a Batalha da Grã-Bretanha (batalha aérea entre a força aérea britânica e a alemã nos céus da Inglaterra) e depois para a Operação Barbarossa, a batalha com a União Soviética em 1941.
Entretanto, apenas alguns dias antes do ataque à Rússia, Hitler e Mussolini se encontraram no Passo do Brennero.  De acordo com os registros, "O Führer caracterizou a Suíça como a entidade nacional mais desprezível da Europa, formada por pessoas ignóbeis.  Os suíços eram os inimigos mortais da nova Alemanha".  Já o Duce disse que a Suíça era "um anacronismo".  Planos de ataque contra a Suíça continuaram a ser concebidos.
Quando o governo fascista entrou em colapso e a parte sul da Itália começou a ser libertada, a Alemanha prontamente ocupou o norte da Itália — o que aumentou enormemente o risco para a Suíça.  A Alemanha queria utilizar as rotas que passavam pelos Alpes suíços para poder enviar soldados e armas, e os suíços se recusaram a cooperar.  Porém, a Suíça forneceu abrigo e proteção para dissidentes e refugiados italianos.
Uma invasão nazista à Suíça durante qualquer um dos períodos acima acarretaria no seguinte: as forças suíças situadas na fronteira teriam lutado até a morte, mas seriam eliminadas.  Entretanto, as pontes e estradas da região estavam carregadas de explosivos e seriam destruídas, o mesmo acontecendo com os túneis Gotthard eSimplon, situados nas rotas alpinas para a Itália.
As forças suíças estavam concentradas em um Réduit localizado nos Alpes.  Os Panzers e toda a Luftwaffe não podiam operar nessas montanhas íngremes, o que significa que a invasão teria de ser por terra.  Nesse caso, toda a infantaria da Wehrmacht teria sido submetida a um impiedoso fogo cerrado disparado por artilharias suíças escondidas nas montanhas.  Seria suicídio.  As forças suíças poderiam resistir interminavelmente nos Alpes.
Qualquer ocupação alemã de partes da Suíça custaria muito sangue.  Ao contrário dos outros países que a Alemanha já havia ocupado (mais notavelmente a França), cada cidadão suíço possuía um rifle em sua casa.  O governo e o exército suíço decretaram que nenhuma rendição deveria ocorrer, e que qualquer relato de rendição deveria ser considerado propaganda do inimigo.  Os suíços seriam capazes de fazer uma guerra de autodefesa sem precedentes na história europeia.  Embora muitos suíços fossem morrer, os invasores teriam de enfrentar um franco-atirador suíço escondido atrás de cada árvore e de cada rocha.
STAGNARO: O senhor faz uma defesa forte e convincente da organização militar suíça: a Suíça conseguiu resistir a todo o exército da Alemanha graças aos seus cidadãos armados.  O senhor acredita que esse sistema ainda é bom, não obstante todas as dramáticas mudanças que temos vivenciado nas últimas décadas, tanto no tipo do inimigo (por exemplo, agora é o terrorismo) quanto na maneira como se iniciam guerras atualmente?
HALBROOK: Pouco antes da Primeira Guerra Mundial, o Kaiser alemão estava na Suíça a convite do governo suíço para observar algumas manobras militares.  Impressionado com o que viu, o Kaiser perguntou a um membro das milícias suíças: "Vocês são 500.000 homens e atiram muito bem.  Porém, e se a Alemanha resolver atacá-los com um milhão de soldados? O que vocês vão fazer?"  E o suíço respondeu: "Vamos atirar duas vezes e voltar pra casa."
swiss girl.jpgAinda hoje, todo homem suíço, ao completar 20 anos de idade, é obrigado a fazer um treinamento militar e, após a conclusão, ganha um Fuzil de Assalto 90 (modelo 1990, 5.6 mm, com funcionamento automático e semi-automático) para manter em casa.  Muitas mulheres também participam de práticas de tiro esportivo, bem como adolescentes e idosos.  As pessoas rotineiramente carregam armas consigo em transportes públicos, nas cidades e em hotéis — especialmente quando algum torneio de tiro está para ocorrer.  Essa prática de andar armado é tão comum, que estrangeiros desavisados podem pensar que está ocorrendo alguma revolução no país.  Para ver um relato de um corriqueiro torneio de tiro que ocorreu no cantão suíço de Ticino, veja aqui.
As milícias armadas suíças consistem primordialmente de uma infantaria formada pela própria população armada, mas também inclui artilharia moderna — parte da qual está escondida em fortificações localizadas nos Alpes — e caças.  Quanto ao terrorismo, dependendo das circunstâncias, uma população armada e vigilante pode ser essencial para impedir um massacre.  Se atos terroristas ocorrerem em solo suíço, os cidadãos irão resistir o tanto quanto possível.
STAGNARO: A maioria dos defensores do direito irrestrito de ter e portar armas garante que o desarmamento e o controle de armas são o caminho mais curto para a tirania.  De fato, Hitler desarmou seus inimigos (começando pelos judeus alemães) antes que eles pudessem organizar alguma resistência.  O senhor acredita que haja um elo entre a tradição suíça de ser um povo armado e a tradição de liberdade daquele país?
HALBROOK: Maquiavel foi quem resumiu melhor: os suíços são "armatissimi e liberissimi".  Desde 1291, quando a Confederação Suíça foi criada, camponeses e vaqueiros suíços se armaram para resistir à agressão de alguns dos grandes exércitos da Europa.  Cada homem tinha a obrigação de arranjar sua própria arma para se defender contra qualquer invasão.
Quando Hitler chegou ao poder, seus capangas incendiaram o Reichstag e colocaram a culpa nos comunistas — foi a desculpa perfeita para suspender todos os direitos constitucionais e desarmar toda a oposição política.  Utilizando as rígidas leis de controle de armas aprovadas pela progressista República de Weimar, os nazistas começaram a desarmar os judeus.  E então veio a Reichskristallnacht (A Noite dos Cristais) em 1938, na qual os nazistas saíram destruindo lojas e casas sob a justificativa de que os judeus eram perigosos e tinham de ser desarmados.  O chefe de Gestapo, Heinrich Himmler, ameaçou mandar para o campo de concentração por 20 anos qualquer judeu que fosse flagrado com alguma arma.
Quando os nazistas ocuparam a França e outros países, eles acharam, nas delegacias de polícia, as listas de registros contendo os nomes de todas as pessoas que possuíam armas de fogo.  Os proprietários que não entregassem suas armas de fogo em 24 horas seriam mortos, o mesmo acontecendo àqueles que não delatassem seus amigos e parentes.  Por algum motivo obscuro, os historiadores não demonstram interesse algum em ressaltar o cruel destino de judeus e demais cidadãos nos países ocupados que eram proprietários de armas de fogo.
Ainda mais importante: algumas dessas pessoas que possuíam armas de fogo conseguiram enganar os nazistas e utilizaram suas armas para salvar suas famílias, refugiados e demais pessoas, chegando até a montar uma resistência armada.  O Levante do Gueto de Varsóvia, em 1943, foi iniciado com apenas meia dúzia de revólveres e pistolas ilegais.
Na Suíça, existe apenas uma lei de "controle de armas": todo homem deve saber atirar perfeitamente a 300 metros de distância.  Caso invadissem a Suíça, os nazistas não precisariam se preocupar em sair procurando registros com os nomes dos proprietários de armas — eles poderiam simplesmente presumir que cada homem possuía uma arma.  Quando a guerra já parecia inevitável, em 1938, no Campeonato Mundial de Tiro realizado em Lucerna, na Suíça, o Presidente da Confederação suíça, Philipp Etter, declarou:
Provavelmente não há outro país que, como a Suíça, dá ao soldado sua arma, para que ele a leve para sua casa. . . . Com esse rifle, ele torna-se capaz de, a qualquer momento que seu país o chamar, defender seu lar, sua família, seu lugar de origem.  A arma é para ele uma garantia e um símbolo de honra e liberdade.  O suíço não se desfaz de seu rifle.
Os nazistas ouviram essa mensagem em vários foros e meios de comunicação.  Eles sabiam que não poderiam executar cada suíço que possuísse uma arma — ao contrário, eles sabiam que inúmeros soldados alemães seriam mortos pelos atiradores suíços.  O poderoso exército alemão poderia transformar a Suíça em uma terra devastada, mas o sangue alemão que seria derramado nesse processo seria inaceitavelmente alto, e o país se tornaria ingovernável.
STAGNARO: Os pais fundadores dos EUA sempre alertavam que um exército permanente e profissional poderia ser uma ameaça às liberdades, pois tal formação induz a uma forte tentação imperialista.  Na sua visão, há alguma correlação entre essa peculiar organização militar da Suíça e sua neutralidade?
swiss_4.jpgHALBROOK: Os pais fundadores americanos reconheceram que exércitos efetivos eram perigosos para a liberdade porque tais exércitos oprimiam a população domesticamente e se aventuravam em agressivas guerras imperialistas.  É por isso que os Estados Unidos originalmente seguiram o modelo suíço de republicanismo, de ter uma milícia armada e da neutralidade.  Os fundadores da América queriam evitar "alianças complexas" na Europa, e os EUA entraram nas duas guerras mundiais relutantemente.
Um exército miliciano é formado virtualmente por todos os homens saudáveis e fisicamente capazes de um país, o que desafia qualquer invasor a incorrer em uma tática de guerrilhaque pode nunca ter fim.  Já um exército efetivo consiste de soldados profissionais formados por uma pequena fatia da população do país.  Vários exércitos efetivos da Europa se esfacelaram antes do violento ataque da blitzkrieg de Hitler — as elites governamentais se renderam e ordenaram a seus soldados que baixassem as armas.  Um ataque à Suíça não contaria com nenhuma rendição de sua elite; ao contrário, haveria uma resistência armada contra-atacando cada passo do invasor.
A organização do exército suíço como uma milícia significa que, embora ela possa proteger o país, ela não pode invadir outro país.  Essa tem sido a experiência desde tempos medievais.  Cidadãos comuns da suíça, obviamente armados, derrotaram os poderosos exércitos de cavaleiros invasores em inúmeras batalhas — eles deixaram Carlos, o Audaz em uma vala com sua cabeça esmagada por uma alabarda em Nancy, em 1477 — porém, foram derrotados quando se aventuraram em terras estrangeiras, como na Batalha de Marignano, em 1515.

O que foi dito acima é o segredo da neutralidade suíça.  Milícias armadas são boas para defender seus próprios países, mas não são propícias a atacar outros países — e isso previne guerras imperialistas.  Tanto a autodefesa na forma de milícias quanto a neutralidade que uma milícia estimula promovem os ideais da paz.
Por fim, uma última consideração.  A Segunda Emenda da Constituição americana declara que "Com uma milícia bem regulada, sendo necessária para a segurança de um país livre, o direito das pessoas de ter e portar armas não deve ser infringido."  Além de terem sido influenciados pelo exemplo suíço, os fundadores dos EUA também se inspiraram em Dei delitti e delle pene (1764), de Cesare Beccaria, que caracterizou como sendo uma "false idee di utilità" as leis que proíbem cidadãos pacíficos de portarem armas, proibição essa que estimula ataques de criminosos armados contra vítimas desarmadas.
Ou aprendemos com as lições da história, ou repetiremos todos os seus erros pernicioso





As “descobertas” de Piketty estão invertidas (George Reisman)


Turning_Piketty_capitalismo.jpgThomas Piketty, um professor neomarxista francês, escreveu um livro de quase 700 páginas, publicado pela Harvard University Press.  Seu título é Capital no Século XXI, em homenagem a Das Capital, obra de Karl Marx escrita no século XIX.  Foi recebido com aplausos delirantes da esquerda intelectual e já consta nas listas de mais vendidos do The New York Times e da Amazon.
Embora seu livro seja ostensivamente dedicado ao estudo do capital e de sua taxa de retorno,Piketty aborda o assunto sem aparentemente ter lido uma única página de Ludwig von Mises ou de Eugen von Böhm-Bawerk, os dois principais teóricos deste assunto. Não há uma única referência a qualquer um destes indivíduos em seu livro. Existem, no entanto, setenta referências a Karl Marx.
Em seu livro, Piketty argumenta que a poupança e a acumulação de capital feita pelos capitalistas geram apenas a redução dos salários dos trabalhadores.  Segundo Piketty, o capital acumulado não tem nenhuma ligação com o aumento da produção; o capital acumulado em nada contribui para o aumento da produção.  Tudo o que ele faz é, supostamente, aumentar a fatia da renda nacional que vai para os lucros ao mesmo tempo em que reduz, de maneira equivalente, a fatia que vai para os salários dos trabalhadores.  
Logo, dado que o capital acumulado não gera nenhuma produção adicional, o efeito de uma mudança nestas duas fatias é uma correspondente mudança em termos absolutos — ou seja, um aumento nos lucros reais dos capitalistas e uma diminuição nos salários reais dos trabalhadores.
Para evitar esta infindável e destrutiva acumulação de capital, bem como sua consequente "espiral de desigualdade", Piketty defende um imposto de renda progressivo, cuja alíquota pode chegar a 80% "sobre rendas acima de US$500.000 ou US$1 milhão por ano", acompanhado por um imposto progressivo que incide diretamente sobre o próprio capital acumulado, cuja alíquota pode chegar a 10% ao ano.
As alegações de Piketty sobre as fatias da renda nacional que vão para os salários dos trabalhadores e para os lucros dos capitalistas podem ser refutadas simplesmente ao imaginarmos as consequências de um aumento na poupança e nos investimentos dos capitalistas, e então observarmos as consequências disso, tanto nos salários pagos quanto na quantidade de lucro no sistema econômico.  Será possível observar que os salários pagos necessariamente aumentarão e a quantidade de lucro necessariamente diminuirá, resultados diametralmente opostos às alegações de Piketty.
Assim, suponha que, inicialmente, a quantidade total de lucro no sistema econômico seja de 200 unidades de dinheiro.  Suponha também que o capital acumulado no sistema econômico seja de 2.000 unidades de dinheiro.  Consequentemente, a taxa média inicial de lucro é de 10%.
E, finalmente, suponha que os capitalistas, que até agora vêm consumindo seus 200 de lucro, decidam poupar e investir metade deste lucro de 200.  Eles, portanto, passam a fazer agora um gasto adicional com bens capitais e com mão-de-obra no valor de 100.
Muito bem.  Qualquer fatia destes 100 que seja usada para pagamentos de salários irá necessariamente aumentaro total de salários pagos no sistema econômico.  Ao mesmo tempo, o gasto adicional de 100 com bens capitais e com mão-de-obra representa um acréscimo de 100 aos custos agregados do sistema produtivo, custos esses que, por uma mera questão de contabilidade, terão de ser deduzidos das receitas, desta forma reduzindo de maneira equivalente os lucros agregados.
Esse aumento nos custos pode ocorrer imediatamente ou ao longo de muitos anos, dependendo de em quê estes 100 serão gastos.  Em um extremo, se eles forem gastos inteiramente com itens que não representam investimentos — como, por exemplo, despesas administrativas —, eles aparecerão nos balancetes imediatamente como custos adicionais.  
Em outro extremo, se eles forem gastos inteiramente em investimentos em bens de capital — como, por exemplo, a construção de fábricas ou de instalações (ativos) cuja vida depreciável seja de quarenta anos —, eles levarão quarenta anos para ser computados integralmente como custos adicionais equivalentes de produção.
De uma maneira ou de outra, estes 100 aparecerão como custos adicionais equivalentes e, portanto, reduzirãode maneira equivalente a quantidade de lucro no sistema econômico.
Isso é regra contábil pura, algo que aparentemente o professor desconhece.
Assim, as tão reverenciadas "descobertas" de Piketty estão, na realidade, invertidas. A poupança e os investimentos dos capitalistas — que aumentam a proporção entre capital acumulado e renda — aumentam a fatia da renda nacional que vai para os salários dos trabalhadores e diminui a fatia que vai para os lucros.
No que mais, essa maior oferta de bens de capital — resultante de uma maior acumulação de capital, possibilitada por mais poupança e mais investimentos — faz aumentar a produtividade da mão-de-obra e aumentar o total de bens e serviços que podem ser produzidos, incluindo uma oferta ainda maior de bens de capital.
Por outro lado, a tributação desta poupança e deste capital acumulado — que é o que defende Piketty — irá gerar efeitos exatamente opostos: menos investimentos, menos salários, menos produção, mais escassez de bens e serviços, mais carestia.
O programa de Piketty é um programa de total destruição econômica, bem ao gosto de seu mentor do século XIX. O mundo e, acima de tudo, os assalariados do mundo necessitam é da abolição de impostos e de regulamentações que obstruem o acúmulo de capital e o aumento da produção.  
As bases sólidas para um aumento no padrão de vida geral e, mais especificamente, nos salários reais são a acumulação de capital e o aumento da produção, e não o igualitarismo e suas teorias e programas insensatos (quando não homicidas).  Tributação e confisco de renda geram apenas prolongamento da escassez, sendo positivos apenas para os burocratas que comandam esse confisco.

O lucro socialista (João César de Melo)


Por João César de Melo, publicado no Instituto Liberal
A quase totalidade das pessoas compartilha o desejo de viver com conforto e usufruir de algum luxo. As diferenças estão nas estratégias utilizadas.
O agente capitalista opta por construir sua vida a partir de seus próprios talentos e esforços, empreendendo negócios ou investindo numa profissão na qual enxerga a possibilidade de obter as recompensas que atenderão suas necessidades e seus desejos.
Para tanto, um empresário terá que administrar muito bem seu negócio para pagar salários, encargos, impostos e fornecedores e para oferecer bons produtos à sociedade, só então obterá o lucro que precisa para sustentar a família e a si mesmo, cujo nível de luxo dependerá única e exclusivamente de sua capacidade administrativa. Um empregado também terá que trabalhar cada vez mais e melhor para obter as recompensas que deseja.
Do outro lado, puxando a corda no sentido contrário, estão os socialistas. O socialista acredita que as recompensas dos esforços (o lucro) alheios devem ser distribuídas arbitrariamente entre todas as pessoas a partir de um conceito moral de “justiça social” – aquilo que não existe em nenhum lugar da natureza.
Sendo assim, o militante socialista investe na carreira de intermediário dessa distribuição, cobrando que uns devem trabalhar pelos outros, porém, escondendo seu real interesse: que todos trabalhem para ele e para seu partido. Ironicamente, é através da mais valia de Marx que melhor desmascaramos a demagogia socialista.
Segundo Marx, o valor de um produto e de um salário deve ser calculado em função do esforço nele empregado. Comparemos, então, os esforços empregados por um líder socialista e por um empresário para obterem seus confortos e luxos.
Em que medida o primeiro participa da produção das recompensas que usufrui?  Na medida de sua gerência sobre as relações sociais e trabalhistas? Se for, ele se iguala teoricamente a um empresário, este, que também é responsável por relações sociais e trabalhistas, já que sustenta famílias com os salários que paga. Podemos, então, enxergar que o líder socialista é um explorador, já que desfruta de recompensas desproporcionais aos seus esforços se o compararmos aos demais trabalhadores?
Outro ponto que escancara a demagogia e a cretinice do socialista profissional é sua rejeição à responsabilidade, não assumindo seus fracassos e não admitindo redução de seu lucro (salário e privilégios) a despeito de qualquer circunstância – considerando que eles sempre são mantidos, direta ou indiretamente, com dinheiro público. Pior: Comparando os confortos e luxos tanto de um líder capitalista quanto de um líder socialista veremos que são os mesmos, porém, como conforto e o luxo do primeiro sendo pagos por ele mesmo e o conforto e o luxo do segundo, sendo pagos pela sociedade – o primeiro trabalha para usufruir; o segundo manda os outros trabalharem para que ele usufrua.
O maior líder socialista brasileiro, Luís Inácio Lula da Silva, construiu sua fortuna acumulando pensões e “rendas extras” obtidas como recompensa pela “gerência de demandas sociais”.  Há vinte anos, Lula passa a maior parte de seu tempo em aviões, hotéis e restaurantes pagos pela sociedade, o que faz sua renda ser praticamente livre de gastos. Resultado: Ficou milionário. Acumulou dinheiro e patrimônio dignos apenas dos maiores empresários. Obteve lucros proporcionais ao esforço empregado só comparado ao de traficantes de drogas e de exploradores de prostituição.
O que ameaça os confortos e luxos de Lula? Nada. Seja qual for o resultado de seus mandos e desmandos na política brasileira, continuará recebendo todas as pensões do Estado. O que ameaça os confortos e luxos de um empresário? As instabilidades do mercado, as arbitrariedades do governo, uma dúzia de Black Blocs ou mesmo alguma bobagem administrativa que ele próprio faça.
O que representa o padrão de vida e o extrato bancário de um grande empresário sob a ótica da mais valia de Marx? Exploração da classe trabalhadora.
O que representa o padrão de vida e o extrato bancário de Lula sob a ótica da mais valia de Marx? Exploração da classe trabalhadora. Opa! Nesta hora, a lente socialista converte Lula num representante popular que obteve justas recompensas pelo quanto melhorou a vida da humanidade ao organizar greves e sabotagens, ao incitar o ódio entre raças e classes, ao incentivar a perseguição e intimidação a indivíduos independentes eao aparelhar o Estado, a imprensa, a cultura e até a Justiça em benefício de seu partido. Eis um líder socialista de sucesso!
Outros exemplos de obtenção justificável (sob o ponto de vista socialista) de altos lucros são os artistas e intelectuais que têm patrocínios e verbas garantidas (a despeito da qualidade de seus trabalhos) por defenderemo governoou as dezenas de milhares de líderes da militância socialista espalhados em cada canto do país, que também recebem suas recompensaspelo engajamento partidário.
Todos eles rejeitam responsabilidades. Todos eles desrespeitam o trabalho alheio. Todos eles sustentam seus confortos e luxos sobre os esforços da sociedade que sistematicamente sabotam.
Resumindo: Nenhum agente capitalista obtém lucros maiores e mais injustos do que os lucros obtidos pelos socialistas.

"Se chegarmos ao cerne dos embates político-ideológicos, teremos dois grupos claros: (I) o dos famintos pelo poder; e, (II) o dos amantes da liberdade"(Leonardo Correa)


Fome de poder

Por Leonardo Correa, publicado no Instituto Liberal
Se chegarmos ao cerne dos embates político-ideológicos, teremos dois grupos claros: (I) o dos famintos pelo poder; e, (II) o dos amantes da liberdade. No final das contas, ao que parece, essa é a divisão fundamental. Do primeiro grupo, surgem totalitaristas, ditadores e coletivistas de todos os matizes. Do segundo, liberais (clássicos), libertários e conservadores. Há, também, o meio do caminho, normalmente representado pelos socialdemocratas. Mas, aparentemente, estes últimos vêm se aproximando de liberais nos últimos tempos, desde que seus “welfare states” começaram a eclodir por toda a Europa. É uma esperança…
Qual seria a diferença central entre os defensores da liberdade e aqueles, que, a todo custo, pretendem reduzi-la? Defensores das liberdades, de um modo geral, querem um Estado mínimo, o império das leis, condições para a livre competição no mercado e meritocracia. Eles acreditam que esta filosofia seja capaz de expandir as oportunidades para todos, indistintamente.
Não se trata, portanto, de ser contra pobres. Não (!), é justamente o contrário. Em um ambiente livre – sem a influência excessiva de um Estado agigantado e dos famosos “amigos do rei” – o cidadão terá mais chances de alcançar seus objetivos, sejam eles quais forem. Alguns podem estar dispostos a gerar mais riquezas, outros imbuídos de alcançar uma vida mais tranquila. A escolha é uma das facetas da liberdade. Todavia, a liberdade para perseguir seus interesses gera consequências e responsabilidades.
No intuito de distorcer esse pensamento, os famintos pelo poder apresentam a seguinte lógica: os homens vão “explorar” uns aos outros, e, assim, o Estado deve intervir de modo a tornar as relações socialmente mais “justas”. Eles não explicam, contudo, em que consistiria essa “exploração”; nem, tampouco, como o Estado faria essa “justiça social”. Pior ainda. Por que razão o Estado e os governantes seriam tão magnânimos e mais eficientes do que a colaboração individual de cidadãos livres?
O primeiro ponto que eles escondem, avaramente, é que governantes são pessoas que passaram a vida toda buscando ter poder sobre os demais. Esse fato, ao menos, já os coloca em posição de dúvida. Por que essas pessoas, após alcançarem o poder, prefeririam buscar o bem-comum ao invés de perseguir seus próprios objetivos? Não há qualquer razão. A rigor, prevalece a regra básica: todos buscam, intrinsecamente, maximizar os seus interesses particulares. O segundo aspecto, consequência do primeiro, consiste em um embate: centralizar ou descentralizar?
A descentralização do poder é elemento fundamental para o exercício da liberdade. Por ocasião da Revolução Americana, os “Founding Fathers” entenderam isso muito bem, preservando a soberania dos estados membros. Daí surgiu um Federalismo real, muito diferente do que temos por aqui. Lá, cada Estado abriu mão de uma parcela de sua soberania em prol da União; cá – especialmente após a Constituição Federal de 1988 (esse texto não permite uma digressão histórica sobre o Brasil) – a União Federal relegou uma parcela diminuta de poder para os estados e municípios. Não é preciso conhecimento jurídico ou político para concluir que diversas questões seriam definidas de forma mais eficaz no âmbito estadual ou municipal.
Coletivistas, eminentemente centralizadores, precisam da concentração do poder para alcançar seus objetivos. Para tanto, não têm pudor em limitar as liberdades e manter as rédeas curtas. Como isso é feito? Por que os cidadãos aceitam as restrições em suas liberdades? Não é difícil responder.
Em grande parte isso é fruto da complacência e insegurança humanas. Cidadãos tendem a esperar por “salvadores da pátria” que vão solucionar os seus problemas. Além disso, é mais fácil colocar a culpa no coletivo do que assumir sua própria responsabilidade ou inércia. Totalitaristas, portanto, se alimentam da insegurança dos indivíduos e do “medo de perder”.
Após conquistar certas coisas, o indivíduo é tomado por um verdadeiro pavor de perder. Esse quadro faz com que ele se esqueça dos fundamentos que lhe permitiram alcançar seus objetivos. Assim, ele não se incomoda com a supressão de liberdades, desde que suas “posses” sejam aparentemente preservadas. O raciocínio é ilusório. Nada vai garantir a manutenção das conquistas, muito menos um Estado superpoderoso. Aliás, é muito provável que esse ente usurpe os “cofrinhos” dos indivíduos. Então, sem as liberdades de outrora, como reconstruir o seu “castelo”?
Defender a liberdade, portanto, é resultado do desapego, da autoconfiança e da consciência de que as soluções não vêm “de cima para baixo”. A colaboração individual é o elemento fundamental para uma sociedade próspera. Todavia, ela não é criada por decreto, mas, sim, de forma espontânea em um ambiente livre com baixos índices de regulamentação.
O sonho de um totalitarista é uma caneta poderosa com uma pilha de papel para ele legislar sobre tudo, conduzindo a sociedade por sua pena. O sonho dos amigos da liberdade, ao seu turno, consiste em diversas canetas e papéis distribuídos por todos em prol da criação e colaboração, bastando, apenas, um conjunto de regras comum aos cidadãos, com instituições sérias e firmes. Sejam protagonistas de seus próprios destinos, ao invés de coadjuvantes dos famintos pelo poder.