segunda-feira, 31 de março de 2014

Humor nos tempos modernos.Ou:"Prostitutas brasileiras que estudaram inglês para a Copa ficam em ultimo lugar em exame internacional"(Joselito Muller)


ImagemMais uma péssima notícia para a educação no Brasil: as prostitutas de Belo Horizonte (MG) que tiveram aulas de inglês para a Copa do Mundo obtiveram a pior nota geral (0,5) no último Exame Internacional de Língua Inglesa, realizado pela ONU em parceria com ONGs e o Ministério da Educação (MEC).
Leydi Daiane Aparecida, que faz ponto na Savassi, bairro boêmio da capital mineira, estava desconsolada: “A prova tava (sic) muito difícil. Só aprendi duas palavras no curso: ‘fuck’ e ‘blowjob’”. Mesma opinião têm Aninha da Esquina e Katyelly Boca de Veludo: “Foi uma injustiça. A prova veio em inglês!”, indignaram-se.
Outra aluna reprovada, que se apresenta com o “nome de guerra”de Hilda Buracão (“é uma homenagem àquela personagem da novela, Hilda Furacão”), estava mais otimista. “Não achei tão difícil, não. Aprendi bastante no curso pra Copa. Quer ver?” E deu um exemplo: “In the ass it is more expensive”, disse, toda orgulhosa.
Em nota, o MEC questionou o critério da avaliação e prometeu estimular o ensino da língua de Shakespeare para as “profissionais do sexo” . “Queremos que a Copa do Mundo seja um sucesso. O turista estrangeiro tem que sair com a melhor impressão do Brasil”, afirmou a nota.

Serra há 50 anos, na Rádio Nacional, convocando a resistência ao golpe. Ouça (RA)


Serra, então presidente da UNE, reunido com João Goular
Serra, então presidente da UNE, reunido com João Goulart
Pois é… Alguns vigaristas que decidiram ser donos da história inventaram um José Serra “de direita” que nunca existiu — atribuindo, claro, a essa designação uma carga negativa. Como todo mundo sabe, sempre votei nele — mas não por seu passado de esquerda (e, em muitos aspectos, também o seu presente). Votei e votarei a quantos cargos se candidatar porque o considero competente e alinhado com alguns valores para mim essenciais na vida pública, ainda que não rezemos pela mesma cartilha. Eu me considero um liberal-conservador, coisa que ele não é.
Abaixo, há duas gravações da madrugada do dia 31 de março para 1º de abril de 1964, quando o golpe militar realmente aconteceu. Serra era presidente da UNE e concede uma entrevista à Rádio Nacional. A rotação da fala está um tanto alterada, e muitos não reconhecerão a sua voz. É ele.
Alguns “esquerdistas” do toddynho e do sucrilho que ficam pendurados nas redes sociais difamando reputações a serviço da Al Qaeda Eletrônica poderiam aprender um pouquinho do que é coragem — que considero um valor em si, independentemente da causa, assim como a covardia é uma mácula em si. Alguns palhaços autointitulados “blogueiros sujos”, financiados por estatais, que servem ao poder de turno, serviram também à ditadura e o têm, ora vejam, como adversário! 
Na primeira gravação, Serra convoca a resistência ao golpe — embora ele já tivesse claro, como já afirmou em entrevistas e depoimentos, que pouco restava a fazer. Afirma: “Que nós partamos nesse instante para uma ofensiva e não fiquemos na defensiva porque a defensiva será a vitória de fato dessas forças reacionárias que hoje investem contra o povo brasileiro”. Ouçam.
 No segundo áudio, faz a enfática defesa das chamadas “reformas de base”, que haviam sido anunciadas por João Goulart no famoso comício da Central do Brasil. Diz o então presidente da UNE:“O que se fez no comício do dia 13 foi a assinatura de decretos populares, que representavam um passo decisivo no monopólio estatal do petróleo, um passo decisivo no sentido de se trazerem mais divisas para o país, de menos divisas saírem para fora, de menos ser o povo brasileiro espoliado. É isto o que se assinou no comício do dia 13. O que se assinou foi um decreto que possibilita a desapropriação das terras nas margens das rodovias, evitando a especulação latifundiária. O que se assinou foi um decreto que regulamenta os aluguéis, pondo fim à exploração que se faz com os imóveis no Brasil.”
RetomoÉ claro que o discurso tem de ser ouvido e compreendido à luz das dissensões daquele tempo. O resto da história, em seus aspectos mais gerais, é conhecido. Serra teve de deixar o país para não ser preso, exilou-se no Chile, foi colhido pelo golpe militar naquele país em 1973, foi preso, deixou o Estádio Nacional e rumou para os Estados Unidos. Retornou ao Brasil em 1977.
Nunca pediu “reparação oficial” nem exercitou o discurso do rancor contra o passado. Como homem público, preferiu olhar para o futuro. Ainda bem!

31 de Março – 1: Viva a democracia! Nada devemos à esquerda armada além de violência, mortes, sequestros, assaltos e indenizações milionárias. O regime de liberdades é obra dos que fizeram a luta pacífica(RA)


Jornal do Brasil ditadura
Oficialmente, o movimento militar que derrubou João Goulart faz hoje 50 anos — o assunto, como sabem, está em todo canto. A quartelada, com amplo apoio civil, se consumou, de verdade, no dia 1º de abril, mas se quis evitar a coincidência com o chamado Dia da Mentira. Hoje, com a tal Comissão da Verdade federal em funcionamento — e algumas outras estaduais ou até corporativas (em universidades, por exemplo) —, prospera a farsa sobre aqueles tempos. A extrema esquerda armada perdeu a batalha porque era minoritária e porque não dispunha de força bélica para enfrentar os militares. Os extremistas, no entanto, venceram a guerra de propaganda, desta feita sem precisar dar um tiro: seus epígonos, isto é, seus seguidores intelectuais, ocuparam a imprensa, o meio universitário, os centros culturais, as escolas, fatias importantes do Executivo, do Legislativo e do Judiciário para inventar o confronto que nunca existiu.
E qual é o confronto que nunca existiu? Aquele que oporia, de um lado, os defensores da liberdade e, de outro, os que a recusavam. Se, durante o regime militar, vivemos sob a mentira de que o golpe foi desfechado para defender a democracia, hoje, 50 anos depois, vive-se a outra face do engodo, que, no caso, é igualmente trapaceira, mas com o sinal trocado. Comecemos do óbvio: em 1964, João Goulart e os que com ele se alinharam não tinham a democracia como um valor universal e inegociável; tampouco era essa a convicção dos militares e dos organismos civis que lhes deram apoio. O regime de liberdades individuais e públicas morreu de inanição; morreu porque faltou quem estivesse disposto a alimentá-lo. Ao contrário: assistiu-se a uma espécie de corrida rumo ao golpe. Golpista, na prática — e escandalosamente incompetente —, era Jango. Golpistas eram aqueles que o depuseram. Ainda que pudesse haver bem-intencionados em ambos os lados, não foram esses a ditar o rumo dos acontecimentos.
Outras farsas influentes se combinam para fabricar um confronto entre vítimas e algozes que é não menos trapaceiro. Não é verdade, por exemplo, que os atentados terroristas e a luta armada tiveram início depois da decretação do famigerado AI-5, o Ato Institucional que implementou a ditadura de fato no país. Ao contrário até: a muita gente essa medida de força, que deu ao estado poderes absolutos, pareceu até razoável porque a extrema esquerda decidiu intensificar a rotina de ataques terroristas. O AI-5 só foi decretado no dia 13 de dezembro de 1968. A VPR, a Vanguarda Popular Revolucionária, explodiu uma bomba no Consulado Americano, no Conjunto Nacional, em São Paulo, no dia 19 de março daquele ano. Em abril, novas explosões no Estadão e na Bolsa de Valores de São Paulo. Essas são apenas algumas de uma sequência. No dia 18 de julho, o presidente Costa e Silva ainda recebeu uma comissão de estudantes para negociar. Inútil.
O que pretendiam os movimentos de extrema-esquerda? É certo que queriam derrotar o regime militar inaugurado em 1964; mas que fique claro: o seu horizonte não era a democracia. Ao contrário. Como costumo lembrar, não há um só texto produzido pelas esquerdas então que defendessem esse regime. Ao contrário: a convicção dos grupos armados era que os fundamentos da democracia eram apenas um engodo para impedir a libertação do povo. Os extremistas de esquerda também queriam uma ditadura — no caso, comunista.
Cumpre indagar e responder: o regime democrático que temos hoje é um caudatário, um devedor, dos extremistas que recorreram à guerrilha e ao terrorismo? A resposta mais clara, óbvia e evidente é “Não”! Devemos a democracia aos que organizaram a luta pacífica contra a ditadura militar. Qual foi a contribuição da Ação Libertadora Nacional, a ALN, do terrorista Carlos Marighella, à civilidade política? Nenhuma! A eles devemos sequestros e cadáveres. Qual foi a contribuição da VPR, a Vanguarda Popular Revolucionária, do terrorista Carlos Lamarca, à tolerância política? Nenhuma! A eles devemos violência e mortes. Qual foi a contribuição da terrorista VAR-Palmares, de Dilma Rousseff, à pluralidade política? Nenhuma. A eles devemos assaltos, bombas e sequestros.
Mas devemos, sim, a democracia a Paulo Brossard, a Marcos Freire, a Itamar Franco, a Franco Montoro, a Fernando Henrique Cardoso, a Mário Covas, a José Serra, a Alencar Furtado, entre outros. Devemos a democracia até a ex-servidores do regime que resolveram dissentir, como Severo Gomes e Teotônio Vilela. Outros ainda, dentro do aparelho de estado, tiveram papel relevante para trincar o bloco hegemônico que comandava o país, como Petrônio Portella, Aureliano Chaves e Marco Maciel.
História
O ambiente está viciado. Mistificadores e prosélitos, mais ocupados com a guerra ideológica do que com a realidade, atropelam os fatos. Pretendem inventar uma narrativa que justifique tanto as ações doidivanas do passado como certas safadezas do presente (ainda voltarei a este ponto). O que fazer? Se você não quer se deixar levar pela mera discurseira inconsequente, sugiro que leia este livro.
 Ditadura à brasileira
O historiador Marco Antonio Villa escreveu “Ditadura à Brasileira” (LeYa), que tem um emblemático subtítulo: “1964-1985: A democracia golpeada à esquerda e à direita”. Villa vai ao ponto. Cada ano do período constitui um capítulo do livro e evidencia a escalada da radicalização, num confronto em que quase ninguém podia reivindicar o papel do mocinho. Não se trata de “uma outra leitura do golpe”, favorável ao movimento. O que Villa faz, com rigor e competência, é alinhavar, de maneira seca, objetiva, a sequência de eventos, com os seus devidos protagonistas, que levaram à deposição de João Goulart, à instauração da ditadura, à abertura do regime e, finalmente, à democracia.
É claro que o autor tem um ponto de vista — e, no caso, é um ponto de vista que protege o leitor: Villa é um democrata, e isso faz com que veja com olhos críticos — e, pois, independentes — as várias agressões havidas no período aos valores da democracia , tanto à direita como à esquerda. No seu livro não há bandidos e heróis. Há pessoas de carne e osso fazendo coisas: muitas em favor da civilidade política; boa parte delas, em favor da barbárie. O volume traz uma útil cronologia, bibliografia e índices onomástico e remissivo, o que o torna também um bom manual de consulta. É um bom instrumento para se defender de fraudes influentes.
Encerro este post
Nada devemos, rigorosamente nada!, às esquerdas armadas. A coragem é, em si, um valor. Quando ela é tão suicida como homicida, já não é coragem, mas estupidez, e costuma arrastar outros tantos em sua aventura.
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A caricatura do “reaça” como espantalho para fugir do debate (RC)


Há quem, incapaz de debater ou argumentar de verdade, esconde-se atrás do humor (ou tentativa de) e cria espantalhos para atacar os oponentes de ideologia. É o caso de Gregório Duvivier, o Greg. Em sua coluna de hoje na Folha, o comediante faz uma caricatura do “reaça” que, confesso, não despertou risos em mim, que sou uma pessoa com bastante senso de humor. É porque foi fraquinho mesmo o texto.
Mas a tentativa de fazer comédia com essa caricatura do “jovem reaça” acabou colocando em evidência a visão real que a esquerda caviar tem do jovem branco, heterossexual, cristão de classe média. É tempo demais vivendo em bolhas da elite “progressista”, no Leblon, no meio global, e a pessoa perde o contato com a realidade, adota uma visão totalmente distorcida do cidadão comum. Vamos ao ping-pong, ele em vermelho, eu em azul:
Aproveitando essa onda reaça que tá super-mega tendência, a gente está lançando toda uma coleção pra você, jovem reacionário, que quer gastar o dinheiro que herdou honestamente na sociedade meritocrática – apesar dos impostos, é claro.
Em primeiro lugar, de onde ele tirou que são todos herdeiros? Claro, não há mal algum em herdar bens, pois é um direito de quem cria riqueza escolher para quem deixar, e ninguém trabalha duro para deixar para o estado (duvido que o próprio Greg queira deixar sua fortuna em formação para os burocratas e políticos). E quem gosta de pagar altos impostos, ainda mais a fundo perdido? Duvido, novamente, que o Greg goste.
Mas mesmo assim, não é uma incrível falta de contato com a realidade? Os maiores herdeiros que conheço são da esquerda caviar, como o próprio Greg, como Verissimo, Chico Buarque e tantos outros. A direita que ele ataca com seu sarcasmo é basicamente formada pela classe média trabalhadora, espremida por tantos impostos e esmolas estatais.
Pode guardar a camiseta fedida do Che Guevara e raspar essa barba de Fidel. A moda guerrilheira é muito 2002. Quem tá com tudo neste outono é o jovem reaça. A moda é cíclica, gatinhos! Nesta estação, vamos aproveitar o aniversário da revolução democrática e tirar do armário a fardinha verde-oliva do vovô. E o melhor: não precisa nem limpar as manchas de sangue. Super orna.
A moda guerrilheira com camisas do porco assassino Che Guevara infelizmente nunca desaparece. Mas fardinha verde-oliva, caso o Greg não saiba, é a cara de outro porco assassino: Fidel Castro. Infelizmente, também é adorado ainda por uma legião de idiotas úteis, muitos deles herdeiros e da elite que Greg frequenta. Duvida? Pergunte à Letícia Spiller, ao Wagner Moura, etc.
O último grito do outono fascistão é defender os valores tradicionais e ressuscitar velhos chavões: direitos humanos para humanos direitos, bandido bom é bandido morto, Deus não fez Adão e Ivo.
Então defender valores tradicionais, como a importância da família (algo que o Clodovil, por exemplo, fazia), e demandar punição severa para criminosos é coisa de “fascistão” agora? É essa a visão que Greg tem da direita? A pessoa não pode, também, achar que homem e mulher é uma combinação mais natural e normal, ainda que aceite os casos de homossexualidade como parte da vida? É preciso enaltecer o gay, como se a pessoa fosse melhor só por gostar de gente do mesmo sexo?
Nossa coleção – que será lançada amanhã, no prédio do DOI-Codi- foi feita pensando em você, cidadão de bem, branco, católico, heterossexual, rico, com as pernas no lugar, funcionando direitinho. Você é o homem da minha coleção. Olha só esse soco inglês: é a sua cara. Vestiu bem, homem da minha coleção. Combina com sua correntinha.
O mais engraçado – e o humor do Greg é melhor quando involuntário – é o preconceito da esquerda caviar que finge não ter nenhum preconceito. O cidadão de bem, para essa gente, não existe, pois somos todos “iguais”, e o relativismo moral é sua marca registrada. O branco, católico, heterossexual, aquele que não goza de privilégio algum, que não tem nenhuma bolsa ou subsídio por não ser das “minorias”, esse é o vilão do Greg, o fascista violento.
Já o soco inglês Greg deveria vender para os black blocs, para a turma mascarada contra o “sistema”, defendida pela esquerda caviar. Se bem que eles preferem coquetéis Molotov e rojões assassinos mesmo…
O homem da minha coleção anda armado e se algum viado der em cima dele ele diz que atira na testa. O homem da minha coleção transa com travesti mas se arrepende logo em seguida e enche a bicha de porrada. O homem da minha coleção casou na igreja com a mulher da minha coleção num casamento celebrado pelo padre da minha coleção, homofóbico, racista e com um sotaque ininteligível apesar de nunca ter saído do Brasil.
A visão que Greg tem da direita é incrível. O estereótipo do “machão” que não passa de um gay enrustido, que transa com travecos escondido, ou um padre homofóbico e racista. Casal de classe média, fiel, cansado de tantos impostos, que frequenta a igreja aos domingos, isso não existe para nosso humorista Greg.
A mulher da minha coleção critica periguetes porque elas não se dão valor – chama isso de feminismo. Saia curta, nem pensar. “Depois reclama quando é estuprada…” A mulher da minha coleção acha que mulher gorda devia evitar sair de casa. “Ninguém é obrigado a ver gente obesa.”
Criticar piriguetes é coisa de “reaça” agora, viram só? Achar que meninas de 12 ou 13 anos não deveriam rebolar até o chão seminuas em bailes funks é coisa de “reaça” agora, viram só? Greg deveria estar tão desesperado para criar seu espantalho, no afã de fazer humor, que apelou até para a mentira de que essas mulheres “reaças” culpam a própria vítima pelo estupro. Quem? Onde?
Sobre as gordas, seria bom o Greg lembrar que a paranoia pelo corpo perfeito vem da própria esquerda caviar, das suas colegas globais, da turma do “detox”, dos “fascistas do bem” que vão, por meio do estado, cuidar de todos nós em prol da “saúde perfeita”. Quem condena “junk food” como se fosse coisa do capeta? Pois é…
A mulher da minha coleção finge que não sabe que é traída pelo homem da minha coleção e se vinga estourando o limite do cartão de crédito do homem da minha coleção que por sua vez finge que não sabe e se vinga saindo com outras mulheres da minha coleção.
Claro, o típico casal classe média é assim: traição o tempo todo. Os atores globais da esquerda caviar é que são diferentes, sempre fieis, com casamentos duradouros. Quem o leitor acha que preenche melhor o perfil desse espantalho criado pelo Greg: uma moça da esquerda caviar, rica e encantada com Che, ou a típica mulher da classe média brasileira?
Nosso it boy, claro, é o coronel Paulo Malhães, torturador chiquerésimo que deu depoimento à Comissão da Verdade usando um puta óculos escuros Prada de aro dourado, onde assumiu ter perdido a conta de quantos cadáveres ocultou. Divo. Viva a revolução – democrática. 
Tinha que terminar com chave de ouro, lógico. Dar nome aos bois. Quem é o ícone dos “reaças”? O maluco com cara de Saddam Hussein que confessou ter torturado pessoas sem resquício de culpa. Notem bem: não é Ronald Reagan um potencial ídolo da direita democrática, mas um assassino obscuro da época do regime militar.
Eu sei que tudo isso era para ser apenas humor (pena que fracassou). Poderia ter ficado engraçado. Mas não sejamos ingênuos: o pessoal da festiva, incapaz de reagir com argumentos em debates sérios com a nova direita que surge no país, após tanto tempo de hegemonia da esquerda, apela para o humor como arma de ataque. Tenta criar espantalhos, fazer uma caricatura do “inimigo”, pois dessa forma não precisa mais lidar com os oponentes reais, de carne e osso, dessa direita.
Tenta, enfim, ridicularizar toda a direita como se fosse dessa forma descrita acima, um bando de malucos, hipócritas, traidores, reacionários e potenciais assassinos. O mais hilário, claro, é que devem fazer isso diante de um espelho, pois acabam descrevendo com muito mais fidelidade a própria turminha autoritária e hipócrita da esquerda caviar, gamada num uniforme verde-oliva e num cartão de crédito…

Aos pais, cuidado com os professores doutrinadores....

FLAVIO-Q(MENTIRAM-geral)
Veja o texto da orelha do livro, escrito por Rodrigo Constantino:
Quem nunca teve um professor socialista na vida, que desde cedo difundiu mentiras tentando influenciar sua visão de mundo? Eu me lembro perfeitamente do meu, de história, chamado Guilherme. Foi o primeiro grande mentiroso que tentou me enganar com a ladainha marxista.
Flavio Quintela, neste pequeno grande livro, começa com sua própria experiência escolar para discorrer sobre as várias mentiras que escutou ao longo da vida: o conceito de “mais valia”, fazendo ricos se sentirem exploradores; a ideia de que não existem mais direita e esquerda, mentira que atende apenas aos interesses esquerdistas; a falácia de que o PSDB seria um partido de direita (aquela que nem existe mais, não custa lembrar); o ataque às intenções da direita, como se todos os conservadores fossem “fascistas”, “xenófobos” ou “homofóbicos”; a inversão de que o legado da civilização ocidental é a opressão do homem branco, em vez de a ampla liberdade conquistada com forte influência dos valores judaico-cristãos; a noção de que o nacional-socialismo de Hitler tem mais a ver com a direita conservadora do que com a esquerda revolucionária; a visão de que todo bandido é uma vítima da sociedade; etc.
Enfim, é mentira “a dar com o pau”. Como lutar contra tantos falsários? Ora, fazendo isso que o Flavio está fazendo. Afinal, como o autor reconhece, o indivíduo faz diferença. E se os honestos se calarem, os mentirosos terão o caminho livre para disseminar mais e mais mentiras. Isso não podemos permitir!
E também o prefácio, escrito por Paulo Eduardo Martins:
Na Era da Mediocridade, onde se vê a consagração dos idiotas e a supremacia dos cretinos, a busca pela verdade por aqueles que se recusam a fazer parte do time supracitado requer não apenas autonomia intelectual, percepção e sensibilidade, essas coisas todas que fazem a pessoa enxergar os fatos como eles são. Requer além de tudo coragem para dizê-la.
Coragem é um pressuposto para fazer de alguém um lutador, e na tal Era da Mediocridade dizer a verdade é entrar numa luta. O que deveria ser motivo de aplauso é encarado pela mentalidade predominante como uma afronta, um escárnio.
Acostumados a pregar sem encontrar contestação, ficam atordoados quando se deparam com a argumentação da nova intelectualidade que começa a surgir no país, resultado direto do trabalho do professor Olavo de Carvalho.  É um grupo ainda pequeno, mas bem treinado e que bate forte com a mão direita.
A reação do establishment esquerdista é duríssima e conta com um repertório de golpes que não observa nenhum tipo de regra e persegue simplesmente o seu objetivo: destruir completamente aquele que ousou desmontar a sua fraude intelectual. É isso: o cenário cultural brasileiro foi transformado em um ringue.
Flavio Quintela é um desses jovens que resolveram entrar no ringue e lutar. Apresenta-se ao público muito bem preparado com o seu Mentiram (e muito) para mim, obra em que, como o leitor verá em seguida, ataca diversas das mentiras fundamentais cravadas na mente do brasileiro, ao longo de décadas, pelo festejado trio formado por medíocres, idiotas e cretinos.
Em um dos capítulos, Quintela trata de acabar com a mentira fundamental que serve de pilar de sustentação para todas as outras, aquela que diz que “a verdade não existe”. De forma rápida e direta, a relativização da verdade é esmigalhada, e assim o autor convida o leitor a ocupar um local da platéia em que ele consegue ver a luta do melhor ângulo possível. Nesse ambiente, torna-se um VIP.
A verdade não está na cabeça de cada um e o PSDB é um canhoteiro com classe.  É assim! Flavio golpeia e desmonta as principais falácias estabelecidas com tamanha precisão e impiedade que chega a cometer um breve deslize: as divisões do livro são chamadas de capítulos, quando seria mais adequado chamá-las de rounds.
De nocaute em nocaute, Mentiram (e muito) para mim é daquelas obras que estabelecem um marco; um antes e depois na vida de quem se dispõe a sair de sua cômoda convivência com as mentiras estabelecidas para confrontá-las com a verdade, sem medo de descobrir qual é o seu próprio papel nessa história.  É um trabalho capaz de fazer o sujeito tirar o sorvete da testa ou até parar de babar na gravata. Pegue o lenço e boa leitura.
E por último, veja a lista de capítulos da obra:
CAPÍTULO I – COMEÇAM A MENTIR DESDE MUITO CEDO PARA NÓS: A MAIS-VALIA
CAPÍTULO II – A MENTIRA MAIS VORAZ: A DE QUE A PRÓPRIA VERDADE NÃO EXISTE
CAPÍTULO III – MENTIRAM DE NOVO: A FESTA DA DEMOCRACIA BRASILEIRA
CAPÍTULO IV – MENTINDO SOBRE IDEOLOGIA: NÃO EXISTE MAIS DIREITA OU ESQUERDA

CAPÍTULO V – MENTIRINHA: O PSDB É UM PARTIDO DE DIREITA
CAPÍTULO VI – AMPLAS MENTIRAS: A MALDADE DA DIREITA
CAPÍTULO VII – MENTINDO SOBRE HITLER: O NAZISMO É DE EXTREMA DIREITA
CAPÍTULO VIII – MENTIRA DE LOBO MAU: NEM TODA ESQUERDA QUER O COMUNISMO
CAPÍTULO IX – CÍNICOS MENTIROSOS: O COMUNISMO AINDA NÃO EXISTIU NA TERRA
CAPÍTULO X – A MENTIRA DO BONZINHO: O ESQUERDISTA SE PREOCUPA COM OS POBRES E OPRIMIDOS
CAPÍTULO XI – MENTIRA QUE NINGUÉM MAIS AGUENTA: BANDIDO É VÍTIMA DA SOCIEDADE
CAPÍTULO XII – NEM O DIABO ACREDITA NESTA MENTIRA: SOU UM CRISTÃO SOCIALISTA
CAPÍTULO XIII – A MENTIRA MAIS CONTADA DE TODAS: O GOLPE MILITAR DE 1964
CAPÍTULO XIV – AUTOENGANO OU MENTIRA PROPOSITAL: A MÍDIA É DIREITISTA
CAPÍTULO XV – ALGO QUE EXALA MENTIRA: O SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO
CAPÍTULO XVI – MENTIRA EM LETRAS GÓTICAS SOBRE PELE DE CARNEIRO: DIPLOMA
CAPÍTULO XVII – MENTIRAS QUE ATRAVESSAM GERAÇÕES: DÍVIDA HISTÓRICA
CAPÍTULO XVIII – MENTIRA TRIPLA: O BOLSA-FAMÍLIA FOI CRIADO PELO PT, É BOM E TIRA AS PESSOAS DA MISÉRIA
CAPÍTULO XIX – MENTIRA BOBA? NEM TANTO: DEUS É BRASILEIRO
CAPÍTULO XX – VERDADES

sexta-feira, 28 de março de 2014

A vergonhosa postura do governo brasileiro na crise venezuelana (RC)


Entendo o leitor que escolhe ficar alienado, falar de futebol ou novela. São tantos escândalos políticos e tantos problemas econômicos que parece impossível acompanhá-los na íntegra. Sem falar que fica aquela sensação de impotência, de que é porcaria demais e que isso não vai mudar. Mas a negligência dos bons é o maior aliado dos safados.
Já falei desse assunto aqui antes, mas volto a ele, pois é grave: a postura do governo brasileiro, inclusive afetando a imagem do Itamaraty, no que se refere à crise venezuelana, é vergonhosa! O silêncio é ensurdecedor, e sequer há a pretensão de neutralidade; o governo toma partido mesmo, e do lado errado.
O resultado está aí: ONGs venezuelanas acusam nosso país de cumplicidade, conivência, descaso com os abusos dos direitos humanos no país, só porque seu governo é “camarada” de ideologia:
Representantes da ONG venezuelana Foro Penal, que atua na defesa das vítimas da repressão no país, disseram nesta quinta-feira terem ficado surpreendidos pela posição do ministro das Relações Exteriores do Brasil, Luiz Alberto Figueiredo, no encontro entre chanceleres e ONGs locais, na última quarta-feira. De acordo com os diretores da Foro Penal, Alfredo Romero e Gonzalo Himiob, o ministro brasileiro minimizou o que está acontecendo na Venezuela em matéria de violação dos direitos humanos, adotando uma atitude “indiferente” em relação às gravíssimas denúncias de prisões arbitrárias e torturas, entre outros abusos.
Dá desgosto ser brasileiro num momento desses. O representante da ONG acrescentou: “O que o ministro brasileiro disse seria como afirmar a uma pessoa que foi estuprada que isso não é tão grave, que acontece em todos os países, que é normal”. O Itamaraty fica cada vez mais chamuscado, sujo de vermelho, sob o governo do PT. É uma lástima, pois sabemos que existem muitos diplomatas sérios ali.
Marcos Troyjo, em sua coluna de hoje na Folha, afirma que nossa política externa é “sem perfil”. Ele diz:
A flexibilidade moral do Brasil não se explica apenas pelo interesse estratégico em fortalecer os BRICS. É, antes, resultado da predileção por cenário em que EUA e Europa têm menor importância relativa.
Tal leitura convém à preferência ideológica dos atuais “influenciadores” da política externa brasileira. Daí não surpreende todo irrealista apego às relações Sul-Sul e nossa maleabilidade ante Cuba, Venezuela, Honduras e UNASUL.  
O tempo dirá se essa combinação de malabarismo ético com distanciamento do Ocidente serve ao objetivo de tornar o Brasil mais próspero e respeitado no mundo.
Como bom diplomata, Troyjo pega leve, deixando no ar a dúvida. Mas eu, que não sou diplomata, posso dizer: não precisamos esperar para saber o resultado dessa postura ideológica no Itamaraty. Será catastrófica! Já está sendo! O malabarismo ético, a flexibilidade moral, a amizade com ditadores, tudo isso conspira, e muito, contra um país mais próspero e respeitado no mundo.

Para especialista, bolha imobiliária fura em 2015 – Brasil Econômico

arte importante dos números divulgados ontem pelo Banco Central (BC) – e também pela Caixa Econômica Federal (CEF) – ,o crédito direcionado ao setor imobiliário está na origem do que o economista Adolfo Sachsida define como uma bolha no setor. Para ele, a explosão dos incentivos para a compra de imóveis foi o que elevou os preços de toda a cadeia do setor, um ciclo que se encerrará em 2015, com o aumento dos juros nos Estados Unidos.
Quando o governo direciona e expande o crédito para determinado setor da economia, os custos de todo o segmento aumentam. Ao final, vai gerando mais crédito para cobrir o aumento dos custos. Quem quer comprar é obrigado a se endividar cada vez mais para ter o mesmo bem. Projetos como o Minha Casa, Minha Vida, as obras civis do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e os estádios da Copa pressionaram os custos com mão de obra e materiais, sempre em cima de dívida. É bolha, na minha opinião”, resume Sachsida.
O economista, também técnico do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), foi autor do estudo “Existe bolha no mercado imobiliário brasileiro”, feito em parceria com o colega Mário Jorge Mendonça, em 2012. “Até 2011, o custo do financiamento imobiliário era em torno de 11% ao ano. Atualmente, está em 7,3% mais a Taxa de Referência (TR) para imóveis até R$ 500 mil e um ponto percentual mais caro a partir daí. Com a volta a normalidade dos juros nos Estados Unidos, em 2015, isso não vai durar”, acredita Sachsida. Para o especialista, a mudança lá fora fará a TR -atrelada ao juro interbancário e atualmente em torno de 0% – subir. “Aí as pessoas vão descobrir que o juro imobiliário varia no decorrer do contrato. Será uma surpresa desagradável que deve levar à inadimplência”, conjectura.
No cenário traçado por Sachsida, os reflexos – ou a explosão da bolha – ocorrerá seis meses após a subida dos juros nos Estados Unidos. “Sendo um ano de ajustes fiscais, 2015 reserva desemprego. É mais um alfinete para estourar a bolha”.
Em comunicação recente, o BC atestou a solvência do mercado financeiro em caso de crise no setor imobiliário “Responderam à pergunta errada, olharam todo o sistema sendo que a CEF concentra o financiamento de imóveis. A pergunta bilionária da vez é o que ocorrerá com ela nesse cenário”, disse Sachsida, que comentou o lucro de R$ 6,7 bilhões da CEF ano passado. “Se o desemprego subir, isso muda. As pirâmides também dão lucro”.

quinta-feira, 27 de março de 2014

Cai aprovação de Dilma e sobe o Ibovespa: chance maior de derrota da presidente é motivo de festa para investidores!(RC)


Uma nova pesquisa mostra que a popularidade do governo Dilma caiu para 36%, uma queda expressiva e a primeira queda desde as manifestações de junho de 2013. O percentual daqueles que consideram o governo ruim subiu de 20% para 27% desde novembro.
Fonte: GLOBO
Os ativos brasileiros já vinham se recuperando, em parte por conta justamente de rumores de que a aprovação do governo seria menor e que pesquisas eleitorais mostrariam piora das intenções de voto na atual presidente.
Nem mesmo o recente rebaixamento da nota de crédito pela Standard & Poor’s, em boa parte antecipada pelos mercados, foi capaz de azedar o clima mais otimista nos últimos dias. Essa pesquisa de hoje foi como lenha na fogueira, e o Ibovespa apresenta forte alta agora, acima de 2%:
Fonte: Bloomberg
Fonte: Bloomberg
Além da festa das ações brasileiras, o câmbio também acusou o golpe de sorte e o real se valoriza bem hoje:
Fonte: Bloomberg
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Somando o impacto dos dois ativos, fica melhor ver o resultado pelo EWZ, o “spider” que espelha o Ibovespa em dólar na Bolsa de NY, o que importa mais para os investidores estrangeiros:
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Como fica claro, basta uma queda na aprovação de Dilma para dar início a uma corrida dos investidores para ativos brasileiros. O resultado é uma alta superior a 4% em dólar em um único dia (até agora). Aqueles que vivem de análises mais detalhadas sobre o futuro da nossa economia sabem muito bem que a manutenção do atual modelo representa uma catástrofe à frente.
Basta uma probabilidade maior de isso não ocorrer, de Dilma perder as eleições, que todos os investidores festejam como se não houvesse amanhã – ou melhor, como se houvesse amanhã!
Rodrigo Constantino

JM SBT - DESABAFO: A DITADURA DO PT - "Seu animal (eu, vc, nós?)não se faz uma ditadura somente com tanques na rua...."

A maldição da linguagem racial (DEMÉTRIO MAGNOLI)


Carolus Linnaeus (Lineu), o pai fundador da taxonomia biológica, sugeriu uma divisão da espécie humana em quatro raças: europeanus (brancos),asiaticus (amarelos), americanus (vermelhos) e africanus (negros). Naturalmente, explicou Linnaeus, a raça europeia era formada por indivíduos inteligentes, inventivos e gentis, enquanto os asiáticos experimentavam inatas dificuldades de concentração, os nativos americanos deixavam-se dominar pela teimosia e pela irritação e os africanos dobravam-se à lassidão e à preguiça. Isso foi em meados do século XVIII, na antevéspera do surgimento do “racismo científico”. Como admitir que uma linguagem paralela seja utilizada por Ricardo Noblat, um jornalista culto e respeitado, na segunda década do século XXI?
O presidente do STF, Joaquim Barbosa, moveu representação contra Noblat, acusando-o dos crimes de injúria, difamação e preconceito racial. Três frases numa coluna do jornalista publicada no GLOBO (18 de agosto de 2013) formam um alvo legítimo da representação criminal: “Para entender melhor Joaquim acrescente-se a cor — sua cor. Há negros que padecem do complexo de inferioridade. Outros assumem uma postura radicalmente oposta para enfrentar a discriminação.” Noblat resolveu “explicar” Joaquim Barbosa a partir de presumidos traços gerais do caráter dos “negros”: é Lineu, no século errado...
As três frases deploráveis — e preconceituosas, sim! — oferecem aos “negros” as alternativas de sofrerem de “complexo de inferioridade” ou de arrogância, que seria a “postura radicalmente oposta”. Contudo, no conjunto do raciocínio, há algo pior: a cassação da personalidade de Joaquim Barbosa, a anulação de sua individualidade. Joaquim não existe como indivíduo, mas como representação simbólica de uma “raça”; ele é o que é pois “sua cor” esculpe sua alma — eis a mensagem de Noblat. Podemos aceitar assertivas sobre caráter e atitudes baseadas na “raça” dos indivíduos? Essa é a questão que Joaquim Barbosa decidiu repassar para tribunais criminais.
O problema de fundo da representação é que o Estado brasileiro oficializou as “raças”, por meio de políticas raciais adotadas pelo Executivo, votadas pelo Congresso e avalizadas pelo Judiciário — inclusive, pessoal e diretamente, por Joaquim Barbosa. De acordo com as políticas raciais em vigor, fundaram-se “direitos raciais” ligados ao ingresso no ensino superior, na pós-graduação e em carreiras do funcionalismo público. Os indivíduos beneficiários das cotas privilegiadas são descritos como “representantes” de uma “raça” — do presente e, também, do passado histórico dos “negros”. Foi o próprio Estado que introduziu a “raça” (e, com ela, a linguagem racial!) no ordenamento político brasileiro. Os juízes que darão um veredicto sobre a ação contra Noblat provavelmente circundarão o problema de princípio — mas isto não o suprime.
Na democracia, a linguagem tem importância maior que a força. A linguagem racial introduziu-se entre nós a partir do alto. Pais são compelidos a definir a “raça” de seus filhos nas fichas de matrícula na escola. Jovens estudantes devem declarar uma “raça” nos umbrais de acesso às universidades. Na política, a cor e a “raça” converteram-se em referências corriqueiras. Lula da Silva invocou a cor da pele de Joaquim Barbosa como motivação para sua indicação ao Supremo (algo mencionado, aliás, em outra linha da coluna de Noblat). “Brancos” e “negros”, essas entidades da imaginação racial, transformaram-se em objetos discursivos oficializados. Joaquim Barbosa tem sua parcela de responsabilidade nisso, junto com seus colegas do STF.
Cotas raciais não existem para promover justiça social, mas para convencer as pessoas a usarem rótulos de identidade racial. Anos atrás, um amigo dileto confessou-me que, para produzir artigos contrários às políticas de raça, tinha de superar uma profunda contrariedade íntima. Perdemos cada vez que escrevemos as palavras “branco” e “negro”, explicou-me com sabedoria, pois contribuímos involuntariamente na difusão da linguagem racial. Raças não existem — mas passam a existir na consciência dos indivíduos quando se cristalizam na linguagem cotidiana. Caminhamos bastante na estrada maldita da naturalização das raças, como atesta a coluna de Noblat.
Na sua defesa, Noblat talvez argumente que apenas jogou de acordo com as regras implícitas nas políticas de raça julgadas constitucionais por um STF pronto a ignorar as palavras da Lei sobre a igualdade entre os cidadãos. Seu advogado poderia dizer que o jornalista não inventou a moda de julgar as pessoas pela cor da pele — que isso, agora, é prática corrente das autoridades públicas e das universidades. Mas ele continuará errado: a resistência à racialização da sociedade brasileira exige, antes de tudo, que se rejeite a linguagem racial. Temos a obrigação de ser subversivos, de praticar a desobediência civil, de colocar os termos “raça”, “brancos” e “negros” entre as devidas aspas.
A “pedagogia da raça” entranhou-se nas políticas de Estado. Dez anos atrás, um parecer do Conselho Nacional de Educação, que instruiu o “Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana”, alertou os professores sobre “equívocos quanto a uma identidade humana universal”. Segundo o MEC, os princípios da Declaração Universal dos Direitos Humanos constituem, portanto, “equívocos”: humanidade é uma abstração; a realidade encontra-se nas “raças”. As três frases de Noblat, que abolem a individualidade de Joaquim Barbosa, situam-se no campo de força daquele parecer. A resposta antirracial a elas pode ser formulada em duas frases simples — mas, hoje, subversivas:
1) Joaquim Barbosa é igual a todos os demais seres humanos, pois existe, sim, “uma identidade humana universal”;
2) Joaquim Barbosa é um indivíduo singular, diferente de todos os demais seres humanos, que são diferentes entre si.

terça-feira, 25 de março de 2014

Éramos uma ilusão em 64 (Arnaldo Jabor/oglobo)


A ideologia “revolucionária” era um ensopadinho feito de JK, Marx, Getúlio, Iseb e sonho

O golpe de 64 aconteceu porque nós não existíamos. Éramos uma ilusão. A esquerda era uma ilusão no Brasil (já imagino as “cerdas bravas do javali” se eriçando em alguns cangotes). Pois não existíamos em 64. Mas, existia o quê? Existia uma revolução verbal. A ideologia “revolucionária” era um ensopadinho feito de JK, Marx, Getúlio, Iseb e sonho. Existia uma ideologia que nos dava a sensação de que o “povo do Brasil marchava conosco”, um wishful thinking de que éramos o “ sal da terra”.
Havia a crendice de que nossos inimigos estavam todos “fora” de nós e fora das estruturas políticas arcaicas (até hoje é difícil arrancar isso de dentro das cucas fóbicas ). Existia um “bacalhau português” em nosso discurso, um forte ranço ibérico em nossa postiça ideologia “franco-alemã”: o amor ao abstrato, ao uno totalizante. A população nem sabia que existíamos. Não havia nenhuma base material, econômica ou armada, “condições objetivas” para qualquer revolução. Por trás de nossas utopias, o Brasil escravista e patrimonialista dormia a sono solto. Nós éramos uma esquerda imaginária, delegando ao Estado a tarefa de fazer uma revolução contra o Estado. Como sempre em nossa história, até nas revoluções precisamos do governo.
Havia apenas um sindicalismo de pelegos e dependentes do presidente, que deu a grande festa de 13 de março (o comício da Central, com tochas da Petrobras). Eu estava lá, olhando para Thereza Goulart, linda de vestido azul e coque anos 1960, e vendo depois, com calafrio na espinha, as velas acesas em protesto em todas as janelas da chamada classe média “reacionária” do Flamengo até Ipanema. Essa era a verdadeira “sociedade civil” que acordava. Hoje, acho que o único que sacava a zorra toda era o próprio Jango, o mais brasileiro, mais sábio e que preferiu o exílio, já que não pôde segurar o trem, entre os gritos de Darcy Ribeiro falando do “Brasil, nossa Roma tropical!”. Havia uma espécie de “substituição de importações dentro da alma”: a crença de que éramos “especiais” e de que podíamos prescindir do mundo real, fazendo uma revolução pela vontade mágica. Mas, existia o quê, de concreto?
Existiam os outros. Os “outros” surgiram do nada. Surgiram categorias esquecidas pelos “ideólogos”. O óbvio de nossa cultura pipocou do “nada” em 64. Fantasmas seculares refloriram. Surgiu uma classe média reacionária e burra, que sempre esteve ali. Surgiu um exército ignorante e submisso às exigências externas e repressivas da Guerra Fria na América Latina.
A sensação que eu tive foi de acordar de um sonho para um pesadelo. Um pesadelo feito de milicos grossos, burrice popular e pragmatismo de gringos do “mercado”. (Foi inesquecível o surgimento de Castelo Branco, feio como um ET de boné verde na capa do “O Cruzeiro”). Um pesadelo feito de realidade.
E agora, outra “heresia” (mais cerdas eriçadas): eu acho que 64 foi “bom” para nos acordar. Foi uma porrada necessária. 64 abriu cabeças. Aprendemos muito. Ficamos conhecendo a ignorância do povo (que idealizávamos); descobrimos que a resistência reacionária de minhas tias era igual à dos usineiros e banqueiros. Descobrimos a burocracia endêmica, a “burguesia” nacional adesista a qualquer grana externa (que achávamos “progressista”). Descobrimos o óbvio do mundo.
Foi o início de uma possível maturidade. Despertamos para a bruta mão do money market, que precisava nos emprestar dinheiro, para que o Estado pós-getulista-verde-oliva avalizasse a instalação das multinacionais aqui. Ou vocês acham que iam nos emprestar US$ 150 bilhões para o Jango fazer a reforma agrária com o Darcy? Aprisionaram-nos para contrairmos a dívida como, 20 anos depois, nos libertaram para pagá-la. 64 ensinou que o buraco é muito mais embaixo. Em 64, vimos que a esquerda tinha “princípios” e “fins”, mas não tinha “meios”.
Em 64, descobrimos que o mundo anda sozinho e independe de conspirações individuais. Claro que a CIA armou coisas com direitistas daqui, mas foram apenas os parteiros de um “desejo material da produção” no momento capitalista do mundo. Nossos paranoicos acham que o “neoliberalismo” é uma trama da IBM e da Microsoft em Washington.
1964 foi um show de materialismo histórico, ali, na bucha. Mas ibérico não gosta de ver estas coisas. E logo tapamos os olhos e nos consideramos as “vítimas” da ditadura, lutando só pela “liberdade” formal. E não enxergávamos que faltava liberdade “real” em nossas instituições políticas de 400 anos. Com 64, poderíamos ter descoberto que um país sem sociedade organizada morre na praia. E deveríamos ter descoberto que não adianta nada analisar os “erros” de nossa esquerda “revolucionária”. O conceito de “esquerda” no Brasil tem de ser repensado ab ovo, pois é impossível trancar a complexidade de nossa formação nacional numa falange unificada. 1964 devia nos lembrar que uma esquerda aqui tem de ser dialogal, atenta aos vícios culturais do país, complexa e libertada da “ganga impura” do patrimonialismo tradicional do Sarney ou do novo patrimonialismo de Estado que o PT inventou.
Como os EUA lutaram contra o racismo, Vietnã, direitos civis, temos de lutar dentro da democracia. Nossa formação nos condena à democracia. O tempo não para, e as forças produtivas do mundo continuarão agindo sobre nossa resistência colonial que o PT preserva.
Quando entenderemos que a verdadeira revolução brasileira tem de ser endógena, democrática, porque as instituições seculares são a causa de nosso atraso e fracasso? As velhas palavras de ordem continuam comandando o governo atual. O medo à “globalização neoliberal” (ah... palavras mágicas da hora...) desloca o alvo do problema: o verdadeiro inimigo de uma nova esquerda deve ser a velha estrutura oligárquica e e burocrática do país, alojada no bunker do Estado. E aí vai o terceiro eriçamento das “cerdas bravas do javali”: o Estado não é a solução; o Estado é o problema. Só um banho de “liberalismo” pode ajudar a sanear esta “bosta mental sul-americana”, como disse Oswald de Andrade.


A História proibida (OLAVO DE CARVALHO)

Bittman afirmou que a KGB tinha na sua folha de pagamentos, em 1964, quase uma centena de jornalistas brasileiros. Alguém se interessou em investigar quem eram eles?

Carl Schmitt definia a política como aquele campo da atividade humana no qual, não sendo possível nenhuma arbitragem racional dos conflitos, só resta juntar os amigos e partir para o pau com os inimigos. Invertendo a célebre fórmula de Clausewitz, a política tornava-se assim uma continuação da guerra por outros meios. Nessa perspectiva, o que quer que se dissesse a respeito deveria ser julgado não por sua veracidade ou falsidade, mas pela dose de reforço que desse aos “amigos” e pelo mal que infligisse aos “inimigos”.
A quase totalidade da bibliografia nacional sobre o golpe de Estado de 1964 segue rigorosamente essa receita. A hipótese de discutir racionalmente os argumentos dos golpistas é afastada in limine como “extremismo de direita” ou como adesão retroativa ao movimento que, com forte apoio popular, derrubou João Goulart e inaugurou a era dos presidentes militares. A única função que resta para o historiador é, portanto, reforçar o elemento macabro na lista dos crimes de um dos lados e enaltecer os do outro lado como boas ações incompreendidas.
A universidade brasileira tem nisso uma das suas principais missões educacionais. Não espanta que para cumpri-la tenha tido de reduzir mais de cinqüenta por cento dos seus estudantes ao estado de analfabetismo funcional,[1] tornando-se assim uma organização criminosa empenhada na prática da fraude em grande escala.    
A ciência política começou quando Sócrates, Platão e Aristóteles inauguraram a distinção entre o discurso do agente político e o do observador científico. Essa distinção não poderia ser mais clara nem mais incontornável: o primeiro destina-se a fazer com que determinadas coisas aconteçam, o segundo a compreender o que acontece. O próprio agente político, quando fala entre amigos, tem de ser um pouco cientista para dar a eles uma visão realista do estado de coisas antes de lhes dizer o que devem fazer. Levada às suas últimas conseqüências, a regra schmittiana resulta em suprimir toda possibilidade de um conhecimento objetivo do estado de coisas e em meter os amigos numa enrascada dos diabos. Ninguém praticou isso com mais dedicação do que os comunistas, que por isso mesmo acabaram matando mais comunistas do que todas as ditaduras de direita reunidas e somadas. Até hoje ninguém contestou satisfatoriamente a minha assertiva de que nos anos 30-40 do século passado um marxista de estrita observância teria maior probabilidade estatística de sobreviver na Espanha de Franco ou no Portugal de Salazar do que em Moscou.
Quase toda a bibliografia nacional sobre o golpe de 1964 e sobre o regime militar que se lhe sucedeu só tem, portanto, o valor de um documento bruto sobre a visão que uma das facções em luta tinha (e tem) dos acontecimentos. Como estudo científico-objetivo, não vale nada. Que alguns poucos livros se oponham a essa uniformidade consensual não melhora em nada a situação, pois expressam antes a reação enfática de uma minoria indignada do que um sério desejo de compreender o que se passou. E a desproporção entre ataque e defesa se torna ainda mais significativa porque – notem – os governos militares, com todos os recursos que tinham à mão, não espalharam um volume de propaganda anti-Goulart – ou anticomunista -- que chegasse a um milésimo do que se escreveu e publicou contra eles depois que foram alijados do poder. Mesmo em plena ditadura, a produção de livros e jornais contrários ao regime, muitos abertamente pró-comunistas, já ultrapassava de longe o volume modesto da propaganda oficial, sem contar o fato de que esta se limitava a patriotadas genéricas e inócuas sem nenhum teor de ataque ou denúncia. O governo, enfim, cedeu à esquerda o monopólio do uso da linguagem, e o fez precisamente nos anos em que os setores mais hábeis do movimento comunista, em vez de se suicidar nas guerrilhas, liam Antonio Gramsci e se empenhavam em ocupar espaços na mídia e nas universidade para aí empreender a grande guerra cultural contra um adversário que a ignorava por completo.
É inteiramente normal que no dia seguinte à queda de um regime ele seja demonizado, mas é ainda mais normal que a passagem do tempo favoreça abordagens mais realistas e equilibradas. Este ano o golpe de 1964 completa meio século de história, e não só a indústria da vituperação continua cada vez mais próspera, alimentada agora por uma cornucópia de verbas estatais, mas o simples impulso de sugerir alguma moderação ou de pedir equanimidade na averiguação dos delitos de parte a parte é recebido como virtualmente criminoso e digno de punição. Muitos acusam nele, abertamente, a preparação de um outro golpe, o anúncio de uma nova ditadura, e, com base nesse hiperbolismo forçado até o último grau, legitimam o uso de meios ditatoriais para evitá-la.
Num país onde setenta mil cidadãos são assassinados por ano, a morte de quatrocentos terroristas meio século atrás é ainda alardeada como o mais terrível – e o mais recente – dos traumas históricos possíveis. Chega-se mesmo a exclamar que o Brasil só não encontrou o caminho da perfeita democracia porque os “crimes da ditadura” ainda não foram suficientemente investigados e denunciados.[2]
Nessas condições, não é de estranhar que aspectos fundamentais da história daquele período fossem varridos para baixo do tapete, sufocados e proibidos, como se nunca tivessem existido e como se mencioná-los fosse o maior dos crimes. Eis alguns exemplos:
1. Qual a dimensão real da ameaça comunista no Brasil dos anos 60? A norma geral é proclamar, a priori, que essa ameaça era inexistente ou irrisória.  Mas as mesmas pessoas que assim dizem são as primeiras a apontar o grande número de oficiais comunistas e pró-comunistas que o novo regime expulsou das Forças Armadas. São também as primeiras a cantar as glórias do esquema guerrilheiro que Fidel Castro havia espalhado por todo o continente americano. Conta-se entre lágrimas a história da Operação Condor, mas evita-se cuidadosamente mencionar que ela foi apenas uma reação tardia à fundação da OLAS, a Operação Latino-Americana de Solidariedade, comando-geral das guerrilhas no continente, que já havia matado milhares de pessoas quando os governos da região decidiram juntar esforços para combatê-la.
2. À profusão de investigações e denúncias sobre a ação da CIA no Brasil, entremeadas de mitos e lendas, corresponde, em simetria oposta, o total desinteresse ou a proibição tácita de averiguar a presença da KGB no país na mesma época. A abertura dos arquivos de Moscou, que tão profundamente modificou o panorama da sovietologia no mundo, foi recebida no Brasil como uma obscenidade da qual não se deveria falar.
3. A balela de que as guerrilhas surgiram em reação à derrubada do presidente Goulart continua sendo repetida com a maior sem-cerimônia, mesmo sabendo-se que desde 1961 já havia no Brasil guerrilhas subsidiadas e orientadas pelo governo cubano. Nesse ponto, aliás, o simples fato de que o presidente Goulart, recebendo em mãos as provas do que se passava, escondesse tudo e remetesse em segredo a Fidel Castro em vez de mandar investigar essa ostensiva intervenção estrangeira armada, já bastava para tornar sua derrubada inevitável e até obrigatória.[3] No entanto, até hoje o golpe é carimbado como um ato de força “contra um presidente legalmente eleito”, como se Goulart tivesse sido derrubado por ter sido eleito e não por ter cometido um crime de alta traição.
4. Qual foi exatamente a participação de exilados e de outros comunistas brasileiros na polícia política de Fidel Castro? Se o sr. José Dirceu foi oficial do serviço secreto militar cubano, é quase impossível que ele tenha sido uma exceção solitária. Quantos comunistas brasileiros foram co-responsáveis por matanças e torturas de cubanos?
5. Passaram-se doze anos desde que divulguei neste país o livro, publicado uma década e meia antes disso, em que o chefe do escritório da KGB no Brasil, Ladislav Bittman, confessava ter falsificado documentos para induzir a mídia local, com sucesso, a acreditar que o governo dos EUA havia planejado e orientado o golpe militar. Desde então nem um único jornalista ou historiador se interessou sequer em ler o livro, quanto mais em tentar uma entrevista com Bittman ou uma averiguação nos arquivos soviéticos. São, no total, vinte e sete anos de ocultação proposital.
6. No mesmo livro, Bittman afirmou que a KGB tinha na sua folha de pagamentos, em 1964, quase uma centena de jornalistas brasileiros. Alguém se interessou em investigar quem eram eles? Encobertos sob o silêncio obsequioso de seus colegas e dos empresários de mídia, aqueles dentre eles que não morreram estão decerto em plena atividade, mentindo, ocultando e falsificando.
Esses seis exemplos bastam para evidenciar que a história oficial do golpe de 1964 é criminosamente seletiva, recortada para servir de instrumento de propaganda e não para esclarecer alguma coisa. É a historiografia schmittiana em ação, ajudando os amigos e assassinando as reputações dos inimigos.