segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Lindeza de estupidez (por Olavo de Carvalho)

Uma das constantes mais nítidas e inegáveis da história do movimento revolucionário é que suas facções, quando entram em conflito, o primeiro  recurso a que apelam é acusar-se mutuamente de aliadas e instrumentos do capitalismo, da maldita burguesia.

Comentários enviados às páginas jornalísticas da internet são às vezes um bom indício da opinião dominante em certos meios, principalmente se entendemos que os leitores habituais de um jornal, ou da sua versão eletrônica, têm quase sempre a cabeça feita pelo mesmo jornal.

Folha de S. Paulo, que é de algum modo o house organ da USP, condensa maravilhosamente, por isso mesmo, o conjunto de chavões, lendas e mitos da esquerda chique, que, para as classes alta e média da capital paulista, constituem o fundamento inabalável da sua visão do mundo.
Eis aqui dois exemplos casuais, mas altamente significativos, enviados ao jornal por ocasião do artigo em que João Pereira Coutinho celebrava o livro de Silvia Bittencourt, A Cozinha Venenosa, ao que parece uma pesquisa interessantíssima sobre um jornal menor da Baviera que alertou, pioneiramente e em vão, contra o perigo da ascensão do Partido Nazista:

1) “Hitler foi um joguete útil que a direita européia pensou poder controlar e usar à vontade contra o bolchevismo russo e a esquerda alemã. Saiu de controle e deu no que deu. Agora, renegar isso é miopia ou má fé.”

2) “Na verdade, a direita em geral, por medo do comunismo, apostou em Hitler, desprezando a socialdemocracia que, na ocasião, era a única saída possível para conter os dois extremos.”

Uma inversão tão exata e meticulosa da realidade histórica não se impregna na mente de uma coletividade sem uma campanha de falsificação pertinaz e onipresente, renovada ao longo de muitas gerações. O que se entende e se repassa no Brasil como “história do nazismo”, tanto nas escolas quanto na mídia, é ainda uma repetição fiel, mecânica e servil da propaganda estalinista posta em circulação nos anos 30 do século XX e até hoje aceita, sem exame, pelo beautiful people paulistano, a contrapelo da ciência histórica mundial que já deu cabo dessa patacoada há muitas décadas.

Na verdade, a “direita européia” praticamente inteira – representada, por exemplo, por Churchill em Londres, pela Action Française em Paris, pelo chanceler Engelbert Dolfuss em Viena e pelo Papa Pio XII em Roma – opôs desde o início a mais vigorosa resistência à ascensão nazista e continuou a fazer isso depois de 1939, quando Stálin e Hitler, após uma longa colaboração secreta, se deram as mãos em público para invadir a Polônia.

Nem o Partido Nazista nem o fascismo italiano surgiram como facções conservadoras ou de direita, mas como dissidências internas do movimento revolucionário. A tônica de ambos era restaurar o caráter originariamente nacionalista dos vários socialismos, que, no entender deles, o Partido Comunista havia enlatado à força num internacionalismo enganoso, subsidiado pelo grande capital. Como nenhuma mentira pega sem um fundo de verdade, a visão nazifascista da história correspondia, nesses pontos, à realidade dos fatos:

(1) Os socialismos apareceram realmente associados aos movimentos de independência nacional que sacudiram a Europa desde o início do século XIX (leiam Benedetto Croce, Storia d’Europa nel Secolo Decimonono, reed. Adelphi, 1993).


(2) O “internacionalismo proletário” foi realmente uma invenção do Partido Comunista, nascida de uma resolução proposta por Lênin e Rosa Luxemburgo na Segunda Internacional, em 1907, que declarou todo patriotismo ou nacionalismo o inimigo número um da revolução (sem prejuízo de que, mais tarde, Stálin invertesse o discurso, passando a usar os ressentimentos nacionais “anticolonialistas” como motores do espírito revolucionário).

(3) O grande capital, especialmente americano, subsidiou o movimento comunista com uma generosidade ilimitada, incomparavelmente superior a qualquer ajuda que possa ter prestado a nazistas e fascistas, antes ou depois (v. Antony C. Sutton, The Best Enemy Money Can Buy, Liberty House Press, 1986; Wall Street and the Bolshevik Revolution, reed. Clairview Books, 2011; e sobretudo os três volumes da série Western Technology & Soviet Economic Development publicados pela Hoover Institution).


Uma das constantes mais nítidas e inegáveis da história do movimento revolucionário é que suas facções, quando entram em conflito, o primeiro  recurso a que apelam é acusar-se mutuamente de aliadas e instrumentos do capitalismo, da maldita burguesia. Os comunistas usaram esse rótulo abundantemente contra os anarquistas, os trotskistas, os socialdemocratas e, como não poderia deixar de ser, contra os nazistas e fascistas. Só que estes já o haviam usado contra os comunistas muito antes e, sabe-se hoje, até com mais razão. Depois, como o nazifascismo perdeu, foi a propaganda comunista que acabou prevalecendo na memória popular.


O segundo comentário é até mais louco do que o primeiro: a direita negou apoio à socialdemocracia e, assim, entregou o poder a Hitler.
 Não, porca miséria. Toda a historiografia mundial sabe que foi o contrário, mas a notícia ainda não se espalhou entre os cultíssimos leitores da Folha. Quem boicotou os socialdemocratas não foi a direita; foi o Partido Comunista, por ordem de Stálin, que via neles a direita quintessencial, o inimigo burguês por excelência, e nos nazistas o “navio quebra-gelo” (sic) apropriado para desmantelar as democracias em torno e, mesmo a contragosto, abrir caminho ao avanço das tropas comunistas, como de fato acabou acontecendo em todo o Leste Europeu.


A credibilidade infinitamente renovada que as lendas historiográficas do estalinismo continuam desfrutando no Brasil depois de oito décadas é um dos fenômenos mais lindos nos anais da estupidez universal.



Publicado no Diário do Comércio.
                                                                                                   

Cristãos sírios: o extermínio se aproxima.(escrito por RAYMOND IBRAHIM)

Enquanto muitos ficaram atentos à recente carta enviada por Vladimir Putin ao povo americano, outra carta de um líder russo direcionada diretamente ao presidente dos Estados Unidos passou despercebida.
No dia 10 de setembro, o Patriarca Kirill da Igreja Ortodoxa Russa redigiu uma carta [1] endereçada à “Sua Excelência Sr. Barack Obama, Presidente dos Estados Unidos”. Se alguém quiser interpretar esse comunicado como um produto da política ou da sinceridade, ele destaca com precisão a situação dos cristãos da Síria, especialmente em um contexto mais amplo de uma luta civilizacional maior.
Replicarei partes da carta abaixo intercalando com observações minhas que farão papel contextualizador:
Vossa Excelência, Caro Sr. Presidente
Os trágicos eventos na Síria trouxeram à tona ansiedade e causaram dor na Igreja Ortodoxa Russa. Recebemos informações sobre a situação lá não do noticiário, mas de testemunhos vivos que vieram de figuras religiosas, crentes ordinários e demais compatriotas meus vivendo naquele país.
Esse é um ponto importante: as “fontes de notícia” consideradas pela igreja russa são “testemunhos vivos que vieram de figuras religiosas, crentes ordinários e demais compatriotas meus vivendo naquele país”. O fato é que fora da tendenciosa “grande mídia” americana, as evidências acerca de o que está acontecendo – nomeadamente militantes islâmicos cometendo atrocidades, incluindo possivelmente os ataques químicos em questão – são sobrepujantes. Numerosas testemunhas oculares, vídeos, fotos – todas essas coisas que raramente chegam à grande mídia americana – deixam isso bastante claro.
Pergunte a um sírio médio acerca do turbilhão que envolve seu país – e eu já fiz isso, assim como também fizeram numerosos representantes ortodoxos russos em comunhão com a antiga comunidade cristã síria, como observou Kirill – e poucos têm qualquer ilusão da natureza desse conflito: um Assad autoritário, embora secular, versus radicais islâmicos e jihadistas.
Naturalmente a maior parte dos sírios escolheu Assad.
Apenas na América e em uma pequena parte da Europa Ocidental o mito dos “guerreiros da liberdade” tentando “libertar” a Síria ainda vende.
Patriarca Kirill:
A Síria hoje se tornou a arena de um conflito armado. Empenhado nesse conflito estão mercenários estrangeiros e militantes ligados a centros terroristas internacionais. A guerra se tornou o calvário diário de milhões de civis.
Para se certificar disso, um dos mais óbvios indicadores de que não há “guerra civil” em nome da “liberdade” é fato de que a maioria – mais de 95% [2] – dos que estão lutando contra Assad sequer são sírios, mas sim jihadistas ligados à Al-Qaeda – indo da Chechênia às Filipinas – que tentam formar um emirado islâmico na Síria assim como fizeram nos anos 1980 e 90 no Afeganistão. Naquela época, jihadistas estrangeiros como o saudita Osama bin Laden e o egípcio Ayman Zawahiri – de novo, também apoiados pelos EUA – viajaram ao Afeganistão, “liberaram-no” da URSS e como retorno nos deram o 11 de setembro 10 anos depois [3].
Tomo como exemplo um vídeo de militantes estrangeiros em uma cidade síria conquistada cantando louvores à Osama bin Laden: “Eles me chamaram de terrorista e eu disse ‘essa será minha honra’, esse chamado divino... Derrotamos a América ... o Trade [Center] se tornou um punhado de escombros ... Saudações do Talebã e do seu líder mullah Omar ... A vitória é nossa e Alá com toda sua força está conosco, as massas infiéis se uniram para nos derrotar, mas elas não nos derrotarão”.
Patriarca Kirill:
Estamos profundamente alarmados por saber dos planos do Exército dos Estados Unidos para atacar o território sírio. Indubitavelmente isso trará sofrimentos ainda maiores ao povo sírio, acima de tudo à população civil. Uma intervenção militar externa pode resultar em forças radicais ascendendo ao poder na Síria que não são capazes – tampouco dispõem da vontade – de estabelecer um acordo interconfessional na sociedade síria.
Uma intervenção militar americana iria indubitavelmente proporcionar ainda mais abusos, primeira e especialmente da parte dos jihadistas da Al-Qaeda – que de fato estão abertamente prometendo assassinar cristãos após a intervenção americana e derrubar Assad [4]; Obama acaba de vetar uma lei proibitiva que bania organizações terroristas [5] para que ele possa armar e, em última instância, ajudá-las a conseguir o que querem.
Patriarca Kirill:
Nossa preocupação especial é com o destino da população cristã da Síria, que nesse caso ficará sob a ameaça de total extermínio ou expulsão. Isso já aconteceu nas regiões do país dominadas pelos militantes. Uma tentativa feita pelos grupos armados da oposição síria para tomar a cidade de Ma’loula cujos residentes são predominantemente cristãos se tornou uma nova confirmação das nossas preocupações. Os militantes bombardearam a cidade onde os monastérios cristãos estão localizados – esses locais são de especial veneração pelos fiéis ao redor do mundo.
Tudo isso é absolutamente verdadeiro, especialmente a “ameaça de extermínio ou expulsão”, que é o caso onde quer que e sempre que os islâmicos apoiados pelos EUA chegam ao poder:
- Afeganistão: sob proteção americana, o governo Karzai supostamente ‘moderado’ ainda defende a lei da apostasia perseguindo aqueles que procuram se converter ao cristianismo – o que faz deles tão intolerantes quanto os Talebã. Além disso, sob o auspício de Washington, eles destruíram a última igreja cristã da nação. [6]
- Iraque: Após os EUA terem “libertado” a nação das mãos de Saddam Hussein, o “tirano-que-usa-armas-químicas” – isso te lembra algo? – os cristãos ainda temem a extinção [7] e mais da metade deles está saindo das suas terras natais.
- Líbia: Desde que os terroristas protegidos pelos EUA chegaram ao poder – dando aos americanos o ataque ao consulado em Benghazi no aniversário do 11 de setembro – a pequena comunidade cristã tem sido perseguida[8], as igrejas bombardeadas[9] e as freiras ameaçadas[10] – algo sem precedentes quando “tirano” Gaddafi estava no poder.
- Egito: Após chegar ao poder, a Irmandade Muçulmana, que é aliada da administração Obama, impõe códigos de blasfêmia draconianos contra os cristãos [11] e atualmente destruíram inúmeras igrejas e em algumas regiões já forçam os cristãos a pagar a jizya [12].
- Síria: As atrocidades contra cristãos levadas a cabo pelos jihadistas aliados dos EUA não têm limites – como é o caso de um recente estupro coletivo e assassinato de uma garota cristã de 15 anos pelos “guerreiros da liberdade” [13] que recebem suporte dos EUA. E agora em Ma’loula os cristãos estão sendo forçados a escolher entre se converter ao islã ou morrer – ou mesmo sofrer outras atrocidades [14].
Patriarca Kirill:
Os hierarcas cristãos de Aleppo, Metropolitanos Paul e John Ibrahim, são mantidos reféns pelos militantes desde o dia 22 de abril. Nada se sabe sobre seus respectivos paradeiros, apesar de personalidades religiosas terem apelado aos líderes de seus estados para que se ajude a libertá-los.
Com efeito, eis outro exemplo da natureza das pessoas que o governo americano está apoiando. Paul e John Ibrahim estavam viajando na Síria fazendo “trabalhos humanitários” [15] quando o motorista foi morto e eles foram sequestrados. Será que John McCain poderia telefonar para seus aliados sequestradores da Al-Qaeda [16] e pedir que se solte os dois? De qualquer forma, não há fim para o tanto de cristãos, como o Pe. Murad [17], que foram sequestrados e/ou assassinados pelos jihadistas na Síria.
Patriarca Kirill:
Estou profundamente convencido que os países que pertencem à civilização cristã carregam uma responsabilidade especial pelo destino dos cristãos do Oriente Médio.
Aqui o bom patriarca fala uma linguagem que outrora fazia referência aos americanos e europeus – isto é, o povo “dos países que fazem parte da civilização cristã” –, contudo isso é algo cada vez mais inadequado àqueles cujas “preocupações humanitárias” se estendem a qualquer um, menos àqueles cristãos fora de moda e a alguns protestantes americanos que não estão cientes da existência de cristãos fora dos EUA.
Como todas as igrejas orientais, a Igreja Ortodoxa Russa tem centenas de anos de experiência com a opressão islâmica e a violência – começando com “Tatar yoke” e seguindo até os dias de hoje – e portanto, não apenas simpatiza com o apelo dos cristãos do Oriente Próximo, muitos dos quais são ortodoxos, mas, como afirmou recentemente Putin em uma recente conferência russa que lidou com o apelo dos cristãos oprimidos pelo islã [18], “a Rússia tem uma tremenda experiência em alcançar e manter a paz e os acordos interconfessionais e está pronta para compartilhar essa experiência”.
Patriarca Kirill:
A Igreja Ortodoxa Russa sabe o preço do sofrimento humano e das perdas sofridas pelo nosso povo no século XX após termos sobrevivido a duas guerras mundiais devastadoras que ceifaram milhões de vidas e arruinaram muitas outras. Também tomamos as dores e sofremos pelas perdas que o povo americano sofreu nos ataques terroristas de 2001. (N.T.: Coincidência ou não, o Patriarca não fala do comunismo, eis um dos motivos da necessidade de ler o debate entre Olavo e Dugin.)
Infelizmente, algumas pessoas relembram as lições da história para o próprio bem; outras esquecem, para o próprio lamento.

Para vencer a esquerda é preciso envelhecer.


A política é cada vez mais um terreno para profissionais.

Em 27 de julho de 2004, alguns dos grandes estrategistas da esquerda americana foram mobilizados para plantar uma semente: a eleição do primeiro presidente negro dos EUA. O palco era a convenção nacional do Partido Democrata em Boston e a cena política americana nunca mais foi a mesma depois desse dia.
O breve discurso daquele desconhecido político de Illinois, que acabou se tornando a estrela da festa, não tinha uma única palavra fora do lugar. Cada frase do texto escrito por ele com a ajuda da dupla David Axelrod e Robert Gibbs, seus principais assessores políticos até hoje, transformaram um professor universitário, ativista de movimentos de esquerda, senador estadual e candidato ao senado federal, em alguém que a imprensa passou a tratar instantaneamente como um novo Martin Luther King Jr.
As frases utilizadas eram basicamente uma compilação cuidadosa dos seus discursos de campanha ao senado federal naquele ano, testados nos meses anteriores nas mais diversas plateias e ambientes. Há poucas dúvidas de que, não fosse este discurso na DNC em Boston, não haveria um presidente Obama quatro anos depois. Em apenas 17 minutos, aquele obscuro político de Chicago assumia para o país a face da renovação da política americana, iniciando a corrida para tomar a vaga de Hillary Clinton e se tornar o 44º presidente americano.
Neste histórico dia de 2004, Obama defendeu tudo que hoje, como presidente, nega: o sonho americano, a economia de livre mercado e a sociedade pós-racial. Com o país hipnotizado em frente à TV, ele disse a frase que marcaria sua carreira política para sempre: “there’s not a black America and white America and Latino America and Asian America; there’s the United States of America.”
Ao se apresentar pela primeira vez em cadeia nacional, Barack Obama criou as bases para a construção do mito. Ele abre o discurso dizendo a todos que vinha do mesmo estado que Abraham Lincoln, colando sua imagem no venerado presidente que aboliu à escravidão. Foi seu cartão de visita e sua principal mensagem naquele dia: eu sou o filho legítimo da luta pelos direitos civis dos anos 60, eu sou a prova de que vencemos o racismo, eu sou o novo Lincoln. Não sou um político, sou um símbolo.
Na eleição presidencial anterior, em 2000, o Partido Democrata já havia feito um teste. O carismático deputado Harold Ford, Jr., com apenas 30 anos na época e também de ascendência negra, foi o keynote speaker da convenção do partido. Seu discurso foi muito bem recebido pela plateia, mas como Ford não venceu a eleição daquele ano ao senado, seu nome perdeu força para vôos mais altos. Sua aparição, mesmo assim, serviu como um valioso balão de ensaio.
Em 2001, a série de TV mais popular dos EUA, “24 horas”, teve como protagonista um presidente negro. O personagem David Palmer, como Obama, era também um senador do Partido Democrata que chegava à presidência, vendido ao telespectador como um político próximo da perfeição. Até seu maior escândalo, a revelação pública de um assassinato cometido por seu filho, era moralmente justificável, já que tinha sido motivado pelo estupro da sua filha por um branco.
Tudo na trama reforçava a imagem de David Palmer como um presidente com uma estatura moral fora do comum, um homem-santo e incorruptível, pós-racial e acima do bem e do mal, e mesmo quando se rendia ao varejo da política era sempre em nome de um bem maior. Foram quase 200 episódios em oito temporadas, de 2001 a 2010, e não há qualquer dúvida de que David Palmer também ajudou a preparar, mesmo que inadvertidamente, o terreno para o surgimento de Barack Obama.
O endosso mais relevante e decisivo para popularizar Obama de vez foi, claro, de Oprah Winfrey. A mais importante e influente apresentadora da TV americana abraçou sem cerimônia o candidato no seu programa e fora dele, participando de comícios em todo país e mergulhando de corpo e alma na sua campanha eleitoral, quebrando decisivamente eventuais resistências ao seu nome nas famílias americanas. O apoio apaixonado e militante de Oprah foi talvez o fator isolado mais importante para a consolidação do nome de Barack Obama como um candidato viável à presidência da república.
Barack Obama é entendido por muitos desavisados como uma obra do acaso ou produto da crise econômica de 2008 e não fruto deste árduo, corajoso, criativo, competente, regiamente financiado, ousado e perseverante trabalho de estratégia política da esquerda americana, aquela herdeira da geração dos revolucionários de 1968.
Assim que os votos foram contados em 2004 e George W. Bush reeleito, alguns analistas davam a esquerda americana como morta, mas ela estava, como sempre esteve, trabalhando e com olhos já voltados para 2008. Hoje os engenheiros de obra pronta acreditam que viabilizar a candidatura de um negro com sobrenome Hussein em meio à reeleição de Bush era quase inevitável, um “momento histórico”, pela incapacidade de entender que esse tal “momento histórico” foi fruto de uma estratégia muito bem planejada e executada.
Hoje é o Partido Republicano que está dividido e nas cordas, apanhando de forma sistemática e diária na imprensa. Na última semana, o senador texano Ted Cruz, ligado ao Tea Party, ficou durante 21 horas seguidas defendendo a retirada de fundos orçamentários para a implementação do sistema de saúde socialista nos EUA, que certamente completará a promessa de Barack Obama de “transformar para sempre os EUA” causando danos irreparáveis à economia do país. O senador republicano tomou conta do noticiário, francamente desfavorável a ele como era de se esperar, mas encantou parte do eleitorado por sua ousadia e firmeza de caráter contra o impopular Obamacare. Só que isso já não é mais suficiente.
Ted Cruz, 43 anos, é uma figura ímpar. De origem hispânica, foi um advogado brilhante com credenciais acadêmicas inquestionáveis. Formado em Harvard, tornou-se depois uma estrela radiante em Princeton, um debatedor admirado e respeitado, além de um orador hábil e persuasivo. Há quem diga que o ódio que desperta no establishment político de Washington é exatamente por ser “um deles”, um intelectual da Ivy League que, ao contrário do que se espera dos membros da elite acadêmica do país, é um expoente do conservadorismo, sem concessões ao pragmatismo das velhas ratazanas da capital.
Imaginar um Ted Cruz candidato a presidente americano hoje é algo tão improvável e bizarro como Barack Obama em 2004, mas se Cruz contasse com a máquina eleitoral democrata, que inclui a imprensa, as universidades, as celebridades e Hollywood, seria imbatível em 2016.
Hoje não basta mais um desconhecido, mesmo que brilhante, para se fazer um candidato vencedor à presidência dos EUA e, sem contar com os recursos que Obama contou, Ted Cruz não tem chance alguma, a despeito de suas inegáveis qualidades pessoais e sua determinação ideológica admirável.
Aquele Barack Obama apresentado ao mundo na convenção democrata de 2004 foi escolhido depois de anos de doutrinação política que contou com mentores como Frank Marshall Davis e Bill Ayers, além de muita experiência no ativismo político e na política do seu estado. Sua carreira, cuidadosamente planejada nos mínimos detalhes, é uma prova de como é complexo o marketing político atual, que agora mergulha também no Big Data e na revolução tecnológica das redes sociais.
A máquina que elegeu Obama em 2008 e reelegeu em 2012 começa a especular, timidamente ainda, o nome do advogado e ambientalista Van Jones para 2016, outro negro com aparência de galã de Hollywood, figura fácil nos talk shows da TV americana e ativista político com todas as credenciais ideológicas marxistas exigidas para suceder o atual presidente. Se os patrocinadores da campanha de Barack Obama abraçarem o nome de Van Jones, Hillary Clinton não dará nem para o começo e será novamente atropelada nas primárias. O tempo dirá.
No Brasil, os profissionais estão trabalhando dia e noite para reeleger Dilma Rousseff. No final de junho deste ano, em meio às manifestações que tomaram conta do país, Franklin Martins foi reincorporado por Lula ao time dos principais de estrategistas do PT para liderar o front de batalha da comunicação, junto com João Santana e Rui Falcão.
Em poucas semanas, os resultados falam por si. A imprensa passou a defender abertamente a importação dos cubanos de jaleco e demonizar os médicos brasileiros como “coxinhas” reacionários e corporativistas. As organizações Globo, que hoje exibem às seis da tarde na TV uma novela que é uma espécie de telecurso segundo grau de doutrinação comunista, pediu formalmente desculpas pelo seu apoio à revolução de 1964 e seu noticiário está mais favorável do que nunca ao petismo.
O mais impressionante dos trabalhos recentes dos estrategistas de comunicação de Dilma Rousseff foi a invenção desse factóide chamado “espionagem americana”, a partir de fragmentos de informação vazados pelo neo-russo Edward Snowden e o ativista antiamericano, dublê de jornalista do The Guardian, Glenn Greenwald. A pantomima, por mais ridícula que possa parecer a qualquer bípede minimamente letrado, já virou tema de discurso da Dilma na ONU para captação de imagens para o programa eleitoral e revitalização da militância, um pouco combalida pelo mensalão mas que com a reedição do velho antiamericanismo já está de novo pintada para a guerra. Militante não precisa de argumentos racionais, inimigos externos, bodes expiatórios e palavras de ordem bastam para partirem pra rua, como os populistas sabem desde sempre.
Os prováveis competidores de Dilma na eleição do ano que vem, Marina Silva, Eduardo Campos e Aécio Neves, foram praticamente banidos do noticiário, não merecendo mais do que citações pontuais e normalmente neutras ou negativas. Marina Silva e Eduardo Campos, satélites do petismo, não representam alternativas no campo ideológico, e o provinciano Aécio Neves, com suas inserções publicitárias constrangedoras e surpreendentemente amadoras até para os padrões tucanos, não mostra cacife eleitoral para sequer chegar ao segundo turno. O PSDB continua sendo a oposição que o PT pediria a Deus se acreditasse Nele.
No dia em que Aécio Neves começar a incomodar, se é que esse dia chegará, faço uma previsão: o noticiário brasileiro será invadido subitamente pelo “mensalão mineiro”, não se falará de outra coisa, e Aécio irá para a defensiva e sua candidatura perderá o gás. Se nada surpreendente acontecer até o ano que vem, a reeleição de Dilma é líquida e certa.
Se o resultado eleitoral de 2014 é mais que provável, a reeleição de George W. Bush, no campo ideológico oposto, era também certa em 2004 e nem por isso a esquerda americana deixou de trabalhar e plantar a semente para a eleição do seu candidato em 2008. Na falta de chances reais de vitória em 2004, os estrategistas do partido democrata aproveitaram o momento para ao menos apresentar ao eleitorado um candidato ideológico e carismático para a próxima eleição e deu certo. Mas quem está fazendo trabalho semelhante no Brasil de hoje?
A própria esquerda, claro, com Marina Silva e Eduardo Campos, dois políticos que investem na acumulação de cacife eleitoral para 2018, com Dilma fora da cédula e um Lula que, sem especular sobre seu estado saúde, pode não ser mais ativo no processo até lá.
A eleição de 2014 no Brasil deveria ser aproveitada pelas forças políticas fora do petismo e da esquerda, se é que existem, para iniciar o mesmo movimento feito por Obama em 2004, Marina em 2010 ou que Campos fará ano que vem. É a hora de mirar em 2018, já que cinco anos são mais do que suficientes para a viabilização de uma estratégia eleitoral consistente e que realmente consiga emplacar o próximo presidente.
É claro que o campo de batalha não é só esse. A ocupação de espaços e a luta em todas frentes, especialmente a cultural, é uma luta ainda mais importante e que Olavo de Carvalho sempre nos lembra, mas a apresentação de um nome para o eleitorado nacional ano que vem pode ser uma boa oportunidade para uma candidatura vencedora em 2018. Para isso alguém deveria estar disposto a trabalhar diligentemente cinco anos para viabilizar a candidatura ou ao menos abrir uma alternativa política fora da esquerda. Quem tem estômago e resiliência para perseverar durante tanto tempo num projeto político no Brasil?
Enquanto a esquerda pensa na próxima geração, seus adversários pensam no máximo na próxima eleição, e por isso estão perdendo todas. A cada eleição perdida, a tarefa de tirar o petismo do poder vai ficando mais difícil. O PT já está no terceiro mandato presidencial consecutivo, tem quase 80% do Congresso na base aliada e recentemente mostrou sua força avassaladora até no judiciário. O aparelhamento da máquina pública levará décadas para ser desfeito.
A política é cada vez mais um terreno para profissionais. Numa entrevista poucos meses antes de morrer, pediram à Nelson Rodrigues uma mensagem ao jovens e ele respondeu: “por favor, envelheçam”. Meu conselho aos adversários do petismo: sigam o que disse o anjo pornográfico e ganhem alguns cabelos brancos. Não há mais lugar para amadores.


Publicado na Reaçonaria.
Alexandre Borges é diretor do Instituto Liberal.

Estudante se nega a fazer trabalho sobre Marx.(por R.Constantino)

O estudante João Victor Gasparino cansou da doutrinação marxista nas universidades e se rebelou, recusando-se a escrever um trabalho sobre o autor comunista. Escreveu para o professor dele uma carta-manifesto, que segue abaixo:
Caro professor,
Como o senhor deve saber, eu repudio o filósofo Karl Marx e tudo o que ele representa e representou na história da humanidade, sendo um profundo exercício de resistência estomacal falar ou ouvir sobre ele por mais de meia hora. Aproveito através deste trabalho, não para seguir as questões que o senhor estipulou para a turma, mas para expor de forma livre minha crítica ao marxismo, e suas ramificações e influências mundo afora. Quero começar falando sobre a pressão psicológica que é, para uma pessoa defensora dos ideais liberais e democráticos, ter que falar sobre o teórico em questão de uma forma imparcial, sem fazer justiça com as próprias palavras.
Me é uma pressão terrível, escrever sobre Marx e sua ideologia nefasta, enquanto em nosso país o marxismo cultural, de Antonio Gramsci, encontra seu estágio mais avançado no mundo ocidental, vendo a cada dia, um governo comunista e autoritário rasgar a Constituição e destruir a democracia, sendo que foram estes os meios que chegaram ao poder, e até hoje se declararem como defensores supremos dos mesmos ideais, no Brasil. Outros reflexos disso, a criminalidade descontrolada, a epidemia das drogas cujo consumo só cresce (São aliados das FARCs), a crise de valores morais, destruição do belo como alicerce da arte (funk e outras coisas), desrespeito aos mais velhos, etc.
Tudo isso sintomas da revolução gramscista em curso no Brasil. A revolução leninista está para o estupro, assim como a gramscista está para a sedução, ou seja, se no passado o comunismo chegou ao poder através de uma revolução armada, hoje ele buscar chegar por dentro da sociedade, moldando os cidadãos para pensarem como socialistas, e assim tomar o poder. Fazem isso através da educação, o velho e ‘’bom’’ Paulo Freire, que chamam de ‘’educação libertadora’’ ou ‘’pedagogia do oprimido’’, aplicando ao ensino, desde o infantil, a questão da luta de classes, sendo assim os brasileiros sofrem lavagem cerebral marxista desde os primeiros anos de vida. Em nosso país, os meios culturais, acadêmicos, midiáticos e artísticos são monopolizados pela esquerda a meio século, na universidade é quase uma luta pela sobrevivência ser de direita.
Agora gostaria de falar sobre as consequências físicas da ideologia marxista no mundo, as nações que sofreram sob regimes comunistas, todos eles genocidas, que apenas trouxeram miséria e morte para os seus povos. O professor já sabe do ocorrido em países como URSS, China, Coréia do Norte, Romênia e Cuba, dentre outros, mas gostaria de falar sobre um caso específico, o Camboja, que tive o prazer de visitar em 2010. Esta pequena nação do Sudeste Asiático talvez tenha testemunhado o maior terror que os psicopatas comunistas já foram capazes de infligir sobre a humanidade, primeiro esvaziaram os centros urbanos e transferiram toda a população para as zonas rurais.
As estatísticas apontam para uma porcentagem de entre 21% a 25% da população morta por fome, doenças, cansaço, maus-tratos, desidratação e assassinadas compulsoriamente em campos de concentração no interior. Crianças também não escaparam, separadas dos pais, foram treinadas para serem ‘’vigias da Revolução’’, denunciando os próprios familiares, quando estes cometiam ‘’crimes contra a Revolução’’. Quais eram os crimes? Desde roubar uma saca de arroz para não morrer de fome, ou um pouco de água potável, até o fato de ser alfabetizado, ou usar óculos, suposto sinal de uma instrução elevada. Os castigos e formas de extermínio, mais uma vez preciso de uma resistência estomacal, incluíam lançar bebês recém-nascidos para o alto, e apanhá-los no ar, utilizando a baioneta do rifle, sim, isso mesmo, a baioneta contra um recém-nascido indefeso.
Bem, com isto, acho que meu manifesto é suficiente, para expor meu repúdio ao simples citar de Marx e tudo o que ele representa. Diante de um mundo, e particularmente o Brasil, em que comunistas são ovacionados como os verdadeiros defensores dos pobres e da liberdade, me sinto obrigado a me manifestar dessa maneira, pois ele está aí ainda, assombrando este mundo sofrido.
Para concluir gostaria de citar o decálogo de Lenin:
1. Corrompa a juventude e dê-lhe liberdade sexual;
2. Infiltre e depois controle todos os veículos de comunicação em massa;
3. Divida a população em grupos antagônicos, incitando-os a discussões sobre assuntos sociais;
4. Destrua a confiança do povo em seus líderes;
5. Fale sempre sobre Democracia e em Estado de Direito mas, tão logo haja oportunidade, assuma o Poder sem nenhum escrúpulo
6. Colabore para o esbanjamento do dinheiro público; coloque em descrédito a imagem do País, especialmente no Exterior e provoque o pânico e o desassossego na população;
7. Promova greves, mesmo ilegais, nas indústrias vitais do País;
8. Promova distúrbios e contribua para que as autoridades constituídas não as coíbam;
9. Contribua para a derrocada dos valores morais, da honestidade e da crença nas promessas dos governantes, nossos parlamentares infiltrados nos partidos democráticos devem acusar os não-comunistas, obrigando-os, sem pena de expô-los ao ridículo, a votar somente no que for de interesse da causa;
10. Procure catalogar todos aqueles que possuam armas de fogo, para que elas sejam confiscadas no momento oportuno, tornando impossível qualquer resistência à causa.
Obrigado, caro professor, pela compreensão.
João Victor Gasparino da Silva.
Nota: João Victor Gasparino da Silva é estudante do curso de Relações Internacionais da Universidade do Vale do Itajaí (Univali)
O decálogo de Lênin, ainda que soe verdadeiro para quem conhece o leninismo, é falso até onde sei. O que não tira o mérito do manifesto. Sim, o aluno deveria fazer o trabalho, SE a avaliação fosse imparcial. Eis o problema: estamos cansados de conhecer casos em que o professor prejudicou o aluno não por erros ou má qualidade do texto, e sim pelo viés ideológico distinto. Quantos não conhecem pessoas que tiveram que elogiar ou parecer neutros em relação a essa corja comunista só para não repetir de ano? Pois é…

Refutando com Bohm-Bawerk a teoria da exploração (por R.Constantino)


Postei aqui a carta-manifesto que um aluno escreveu para seu professor ao se negar a fazer um trabalho sobre Marx. Alguns criticaram sua postura, pois ele deveria, afinal, fazer o trabalho, ainda que refutando Marx. O problema, como sabemos, é que muitos “professores” (doutrinadores é a palavra certa) simplesmente não aceitam isso.
Estamos cansados de conhecer casos em que alunos se deram mal por terem desafiado o viés ideológico do professor. Se ele detonasse Marx, ainda que com vastos argumentos teóricos e lógicos, a chance grande é de que o professor daria um jeito de prejudicá-lo. O ensino está tomado por marxistas!
Uma vez que o aluno escolheu não rebater Marx, eu o faço aqui, para ajudá-lo. Pode mandar para esse “professor” esse texto, e aí sim!, peça para que ele apresente ARGUMENTOS em defesa de Marx, sem apelo à autoridade. Qualquer coisa pode marcar um debate na faculdade entre mim e ele, sem problema. Quero só ver…
A teoria da exploração
“O sistema econômico marxista, tão elogiado por hostes de pretensos intelectuais, não passa de um emaranhado confuso de afirmações arbitrárias e conflitantes.” (Ludwig Von Mises)
Poucas teorias exerceram tanta influência como a teoria socialista de juro, ou mais conhecida como “teoria da exploração”. De forma resumida, ela diz que todos os bens de valor são produtos do trabalho humano, mas que o trabalhador não recebe o produto integral do que produziu, pois os capitalistas tomam para si parte do produto dos trabalhadores.
O juro do capital consistiria, pois, numa parte do produto de trabalho alheio que se obtém através da exploração da condição de oprimidos dos trabalhadores. Os dois grandes expoentes dessa teoria foram Rodbertus e Marx, e um dos primeiros economistas a apresentar uma sólida refutação dela foi o austríaco Eugen Von Böhm-Bawerk.
Mises definiu a sua obra como “a mais poderosa arma intelectual que se tem para a grande batalha da vida ocidental contra o princípio destrutivo do barbarismo soviético”. Segue um resumo dos principais pontos abordados por ele, com especial foco na teoria marxista.
Um dos primeiros pontos onde se pode atacar essa teoria é no que diz respeito à afirmação de que todos os bens, do ponto de vista econômico, são apenas produtos de trabalho. Se fosse verdade que um produto vale somente aquilo que custou de trabalho para produzi-lo, as pessoas não iriam atribuir um valor diferente a um magnífico barril de vinho de uma região nobre vis-à-vis o vinho de outra região pior. Uma fruta achada não teria valor algum também.
Outro ponto importante é que a teoria comumente ignora a diferença entre valor presente e valor futuro, como se fosse indiferente consumir um bem agora ou daqui a dez anos. O trabalhador deveria receber, segundo os seguidores de Rodbertus, o valor total do produto. Mas eles esquecem que o produto pode levar tempo para ser produzido, e o salário de agora tem que refletir esse custo de espera, sendo, portanto, menor que o valor futuro do bem.
Böhm-Bawerk diz sobre isso: “O que os socialistas desejam é, usando das palavras certas, que os trabalhadores recebam através do contrato de trabalho mais do que trabalharam, mais do que receberiam se fossem empresários, mais do que produzem para o empresário com quem firmaram contrato de trabalho”.
Partindo mais especificamente para a teoria marxista, acredita-se que o valor de toda mercadoria depende unicamente da quantidade de trabalho empregada em sua produção. Marx dá mais ênfase a esse princípio do que Rodbertus. Marx vai direto ao ponto em sua obra O Capital: “Como valores, todas as mercadorias são apenas medidas de tempo de trabalho cristalizado”.
No limite, uma fábrica de gelo construída no Alaska teria o mesmo valor que uma fábrica de gelo construída no mesmo tempo e pela mesma quantidade de trabalho no deserto do Saara. A teoria marxista de valor ignora totalmente o fator de subjetividade e utilidade do lado da demanda. Ela não leva em conta que o fato de trabalho árduo ter sido empreendido não é garantia de que o resultado terá valor pela ótica do consumidor.
Ou, ao contrário, ignora que muitas vezes pouco esforço ou trabalho pode gerar algo de muito valor para os outros, como no caso de uma idéia brilhante. Isso sem falar da diferença de produtividade entre as pessoas, pois é difícil imaginar quem diria que uma hora de trabalho de um grande artista é equivalente a uma hora de trabalho de um simples pintor de parede. Se fosse preciso a mesma quantidade de tempo para caçar um gambá fétido e um cervo, alguém diria que eles valem a mesma coisa?
Böhm-Bawerk demonstra os erros de metodologia de Marx em sua teoria. Na busca do fator “comum” que explicaria o valor de troca, Marx elimina todos os casos que não correspondem àquilo que ele pretende “provar”. O objetivo, desde o começo, é só colocar na peneira aquelas coisas trocáveis que têm a característica que ele finalmente deseja extrair como sendo a “característica comum”, deixando de fora todas as outras que não têm.
Böhm-Bawerk diz que ele faz isso como alguém que, “desejando ardentemente tirar da urna uma bola branca, por precaução coloca na urna apenas bolas brancas”. Excluir então os bens trocáveis que não sejam bens de trabalho seria um pecado mortal metodológico. Procedendo desta forma, ele poderia ter usado praticamente qualquer característica, concluindo talvez que o peso é o fator comum que explica o valor de troca. Böhm-Bawerk conclui: “Expresso minha admiração sincera pela habilidade com que Marx apresentou de maneira aceitável um processo tão errado, o que, sem dúvida, não o exime de ter sido inteiramente falso”.
Para Marx, a “mais-valia” seria uma conseqüência do fato de o capitalista fazer o trabalhador trabalhar para ele sem pagar uma parte do trabalho. Na primeira parte do dia, o trabalhador estaria trabalhando para sua subsistência, e a partir disso haveria um “superávit de trabalho”, onde ele seria explorado, trabalhando sem receber por isso.
Marx diz então: “Toda a mais-valia, seja qual for a forma em que vá se cristalizar mais tarde – lucro, juro, renda etc. – é, substancialmente, materialização de trabalho não pago”. Por esta estranha ótica marxista, um capitalista dono de uma barraca de pipoca que contrata um assistente é um explorador, enquanto um diretor assalariado contratado pelos acionistas de uma grande multinacional é um explorado.
Böhm-Bawerk não duvidava de que Marx estivesse sinceramente convencido de sua tese. Mas os motivos de sua convicção seriam, segundo o austríaco, diferentes daqueles apresentados em seus sistemas. Marx, diz ele, “acreditava na sua tese como um fanático acredita num dogma”. Jamais teria alimentado dúvida honesta pelo sistema, questionando de verdade a sua lógica e buscando contradições que derrubassem a teoria. Böhm-Bawerk diz: “Seu princípio tinha, para ele próprio, a solidez de um axioma”.
Afinal, um pouco mais de bom senso e escrutínio não deixaria pedra sobre pedra da teoria marxista de valor. Em primeiro lugar, todos os bens “raros” são excluídos do princípio do trabalho. Nem mesmo um marxista tentaria defender que um quadro de Picasso vale somente o tempo de trabalho. Em segundo lugar, todos os bens que não se produzem por trabalho comum, mas qualificado, são considerados exceção também.
Somente essa exceção já abrange quase todos os casos reais de trabalho, onde cada vez mais a divisão especializada leva ao aprimoramento do trabalho qualificado. No fundo, essas exceções “deixam para a lei do valor do trabalho apenas aqueles bens para cuja reprodução não há qualquer limite, e que nada exigem para sua criação além de trabalho”. E mesmo nesse campo restrito existirão exceções!
Logo, a tal “lei” marxista que tenta explicar o valor de troca de todos os bens não passa, na prática, de uma pequena exceção de alguma outra explicação qualquer. Essa “lei”, não custa lembrar, é um dos mais importantes alicerces das teorias marxistas. Ainda assim, os marxistas ignoram as “exceções” da teoria e defendem sua universalidade, negando a resposta quando se trata de troca de mercadorias isoladas, justamente onde uma teoria de valor se faz necessária. Para tanto, abusam de inúmeras falácias conhecidas, já que quando os fatos contrariam a teoria, preferem mudar os fatos.
Não obstante as gritantes falhas do pensamento marxista e sua teoria de valor, nenhuma outra doutrina influenciou tanto o pensamento e as emoções de tantas pessoas. Uma multidão encara o lucro como exploração do trabalho, o juro como trabalho não pago pelo parasita rentier etc. Para Böhm-Bawerk, a teoria marxista sobre juros conta com erros graves como “presunção, leviandade, pressa, dialética falseada, contradição interna e cegueira diante dos fatos reais”.
A razão para que tanto absurdo tenha conquistado tanta gente está, segundo Böhm-Bawerk, no fato de acreditarmos com muita facilidade naquilo em que desejamos acreditar. Uma teoria que vende conforto e promete um caminho fácil para reduzir a miséria, fruto apenas dessa “exploração”, conquista muitos adeptos.
Segundo Böhm-Bawerk, “as massas não buscam a reflexão crítica: simplesmente, seguem suas próprias emoções”. Acreditam na teoria porque a teoria lhes agrada. O economista conclui: “Acreditariam nela mesmo que sua fundamentação fosse ainda pior do que é”.

Chega!!! Não dá, os hospedeiros não aguentam mais tantos parasitas! Ou.: o inchaço da máquina publica sob o governo PETRALHA.

editorial do Estadão hoje mostra como o PT voltou a inchar o quadro de pessoal do governo. Vejam:
Todo o severo ajuste no quadro do pessoal ativo do governo federal realizado durante os dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) foi desfeito nos dez anos do governo petista. No fim do ano passado, o número de funcionários públicos federais em atividade já era superior ao que havia no fim de 1994 e continuou a aumentar em 2013.
Mas o desempenho do governo não acompanhou a evolução de sua folha, como mostram as manifestações por melhores serviços de saúde, educação e segurança ocorridas há pouco, as dificuldades do governo do PT para ampliar ou melhorar os serviços públicos e os obstáculos administrativos e técnicos à execução dos grandes projetos de infraestrutura, entre outros fatos. O contribuinte paga cada vez mais para manter um funcionalismo que se mostra incapaz de devolver aos cidadãos, na forma de serviços, o que o Fisco lhes toma como tributo.
Em dezembro de 1994, o quadro de funcionários ativos do Executivo era formado por 964.032 servidores. Na busca de maior eficiência da máquina administrativa, ao mesmo tempo que procurava reduzir seu custo, como parte do ajuste fiscal indispensável ao êxito do plano de estabilização então em curso – o Plano Real, de julho de 1994 -, o governo tucano promoveu uma gradual redução da folha de pessoal. Em dezembro de 2002, no fim do segundo mandato de FHC, o quadro tinha sido reduzido para 809.075. Esses dados são do Boletim Estatístico de Pessoal publicado pela Secretaria de Gestão Pública do Ministério do Planejamento.
No governo do PT, no entanto, a tendência se inverteu. Em dezembro de 2010, por exemplo, no fim do segundo mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Executivo tinha em sua folha 970.605 funcionários ativos, ou 20% mais do que no início da administração petista. O número continuou a crescer no governo Dilma, tendo alcançado 997.661 servidores ativos em dezembro do ano passado. Isso significa que, nos dez anos da gestão do PT, o quadro de pessoal do Executivo cresceu 23,3%. Hoje deve ser ainda maior (o último dado divulgado pelo governo refere-se a dezembro de 2012), pois o Orçamento da União em execução previu a contratação de 61.682 novos servidores públicos federais, a maior parte dos quais para o Executivo.
Uma parte do aumento do quadro de servidores foi explicada pelo governo petista como necessária para a recomposição da estrutura de pessoal de áreas essenciais para a atividade pública e para fortalecer as atividades típicas do Estado. Embora tenha havido aumentos gerais para o funcionalismo, a política de pessoal do PT foi marcada durante vários anos por benefícios específicos para determinadas carreiras, o que acabou gerando distorções e fomentando reivindicações de servidores de outras carreiras com base no princípio da isonomia.
Os relatórios sobre gastos com pessoal utilizam valores correntes, isto é, não descontam a inflação que houve desde o início da série histórica até agora. Para ter uma ideia da evolução dos gastos com pessoal, cite-se, apenas a título de exemplo, que, entre 2004 e 2011, enquanto a inflação acumulada ficou em 52,7%, o custo médio do servidor do Executivo aumentou mais de 120%. Isso significa aumento real de cerca de 46% do vencimento médio do funcionário do governo.
O aumento dos gastos com pessoal ocorreu também nos quadros do Legislativo e do Judiciário, e em velocidade maior do que a observada no Executivo. Em 1995, os servidores do Legislativo e do Judiciário representavam 8,9% do total e absorviam 10% dos pagamentos totais. Em 2012, eram 11,6% do total e receberam 17,7% dos pagamentos totais. O aumento mais rápido de sua fatia no bolo total pago aos servidores indica que, na média, eles ganham mais do que os servidores do Executivo.
Outra distorção no quadro do pessoal do Executivo está na sua distribuição geográfica. Embora tenha deixado de ser a capital do País há mais de meio século, o Rio de Janeiro, onde vivem 8,4% dos brasileiros, concentra 19% do total de servidores. São Paulo, com 21,6% da população, tem apenas 7,7% dos servidores federais.
Agora o leitor entende porque minha querida “cidade maravilhosa” é a capital nacional do fenômeno esquerda caviar, sempre votando mal, defendendo a esquerda mais radical, apoiada por artistas e “intelectuais” e muitos, muitos funcionários públicos, enquanto São Paulo é o estado mais rico do país, carregando nas costas muitos outros, e há anos governado pelo PSDB.
O pais precisa de um programa de redução da máquina estatal. Seu escopo deve ser bem mais limitado. Os funcionários devem ter um plano de carreira decente, mas devem ser bem menos funcionários. Chega dessa cultura de concurso público no Brasil. Os hospedeiros não aguentam mais tantos parasitas!

LULA NÃO É MITO. NEM UM GÊNIO POLÍTICO. É SOMENTE UM OPORTUNISTA (por Reynaldo-BH)

Todo populismo nasce de uma mitificação que supre o desejo de futuro de uma nação em um determinado momento. E os mitos são, em essência, falsos. O mito não precisa guardar coerência entre o discurso e a ação. Ao contrário, o mito vive da contradição. Vale-se dela para se fazer maior. O mito precisa ser incompreensível, pois assim justifica a narrativa. Os deuses gregos eram incompreensíveis para todos. Contraditórios e plenos de certezas fornecidas pelos que criavam as fantasias míticas. A filosofia – e entre esta a ciência política – não admite contradições. Há uma lógica no agir que demonstra a personagem analisada e explica a incompreensão. Mesmo na teologia, esta se nutre de razão. O filósofo é menor que a análise. Que a razão lógica. O que é Lula afinal? Um mito? Mesmo sendo este o desejo do lulopetismo, falta muito para que seja ao menos isto. E não é um ser político. Reduzir a política à esperteza simplória é diminuir a grandeza que dessa atividade que deveria ser nobre por natureza, por tratar-se de uns governando os demais. Se não é mito (é somente um ídolo de muitos, ou seja, um objeto de adoração) e não pode ser considerado um ser pensante fora de série, resta a rotulação de oportunista. Aquele que usa fatos e age de acordo com o melhor proveito próprio, mesmo que distorcendo a realidade. A mitificação exaltada do Lula “fazedor de reis” (ou postes), do gênio da raça que se comunica com os desvalidos como ninguém antes neste mundo ou o revolucionário que mudou a face do Brasil (resta saber com que feição) é somente o que resta aos lulopetistas para tentar justificar esta excrescência política. A insistência de se alegar sempre ter sido eleito – sim, é verdade, e por isso em nome da democracia merece respeito, algo que ele próprio não tem pela democracia – não resiste a uma análise sociológica minimamente séria. Collor também foi eleito. E foi colocado a pontapés para fora do Palácio do Planalto. Saddam tinha entre 96 e 99% dos votos no Iraque. Em Cuba, o partido único tem somente 100% dos votos (não por ser único, mas por não haver sequer abstenções). Hitler foi eleito premier e depois, por plebiscito, tornou-se presidente. O corrupto José Roberto Arruda, de Brasília, foi reeleito após ter renunciado por ter fraudado o painel de votação do Senado. E hoje, após o escândalo recente, já é – novamente – o melhor colocado nas pesquisas eleitorais para o governo do Distrito Federal. Com isso quero desprezar o voto popular? Ainda não enlouqueci de vez. Óbvio que é o que nos resta e o instrumento de expressão da cidadania pelo qual luto e lutarei sempre. O que afirmo é que o voto por si não dá atestado de decência a ninguém – trate-se de mito, ser político ou oportunista. O oportunista aproveita o que se apresenta para moldar a realidade aos interesses pessoais. Alguém pode dizer que Lula não fez isto a vida toda? Fiquemos no passado recente. * Quem foi o maior beneficiado com o mensalão, com a prática de compra de votos em um Congresso abominável? * Quem teve amante paga com nossos impostos? * Quem continua mandando (até mais!) na Presidência ao colocar um poste (como ele próprio se jactou ser capaz de eleger) na cadeira presidencial? * Quem criou um instituto em São Paulo com recursos de empresários? * Quem é lobista de empreiteiros – os mesmos que, antes, acusava como sendo o câncer do Brasil? * Quem se aliou a ladrões (na antiga definição que ele próprio lhes conferia) e com que objetivo? Se isto não é oportunismo, o que seria? A mesma práxis que acusava o Supremo de ser um antro de perseguidores do lulopetismo e hoje exalta o tribunal antes demonizado é usada em relação à imprensa. Lula só existe por que houve – sempre! – uma imprensa que o exaltava, combatia os ditos “governos anteriores”, apoiava as denúncias (algumas delas sem o menor fundamento), se encantava com o “operário, pobre e nordestino” (que diferença para hoje!), abria TODOS os espaços de mídia e se declarava ABERTAMENTE como petista. Saudavam o novo tempo. É um caso para a história. A mesma “mea culpa” feita pelo O Globo por apoiar a ditadura será um dia feita (será?) pelos que apoiam o oportunismo populista, que mente, inverte fatos e tenta ser mito. Tenta ser no aspecto da não coerência. Na fantasia mítica. Na falta de lógica. No ser eternamente incompreensível. E na aposta permanente de não ter que dar explicações a ninguém. Por isso fala somente a quem se recusa a questionar. E é surdo frente aos que ousam perguntar. Lula não é mito. Nem um gênio político. É somente um oportunista. A oportunidade, nós demos. Quem pode mais, pode menos. Se foi dada, é mais que hora de pedir de volta.

MENSALÃO: o chamado “mensalão mineiro” encerra, sim, acusação de crimes, que devem ser punidos — mas o do PT é muito mais grave: foi um ATENTADO à República e à democracia(por Ricardo Setti)

Ministros do STF julgando o mensalão: "o chamado mensalão mineiro abrange denúncia de crime, mas o mensalão propriamente dito, além de crime, foi um atentado contra a democracia, de gravidade só comparável à de um golpe de Estado" (Foto: Nelson Jr. / STF) Publicado originalmente a 13 de setembro de 2012, às 18h30. Republicado agora por ser oportuníssimo O texto que se segue é do leitor e amigo do blog Ruy Jorge, respeitado advogado na capital do país, de quem tenho a honra de ser amigo desde quando, jovens, frequentamos o Curso de Direito da Universidade de Brasília — em cujo vestibular, diga-se de passagem, ele passou em primeiro lugar. Também sou daqueles que defendem a plena punição de todos aqueles que cometeram crimes, independentemente de pertencerem a qualquer grupamento político. Acho, entretanto, que é necessário separar coisas distintas. O apodo “mensalão mineiro” ou “mensalão tucano” não passa de uma criação petista visando a equiparar situações distintas, embora – repito – ambas passíveis de sanção penal. Embora as acusações abranjam, em ambos os casos, desvio de dinheiro público, são elas diferentes. No mal apelidado mensalão mineiro trata-se, verdadeiramente, de crime eleitoral – nem por eleitoral menos crime. Já o mensalão de verdade – o que está sendo julgado no STF – foi algo muito mais grave, pois, além do desvio de dinheiro público – comum a ambos – o que houve foi um grave atentado à democracia, com a compra apoio político de parlamentares e de partidos inteiros, numa tentativa de perpetuação do PT no poder. No caso do deputado Eduardo Azeredo [na ocasião dos fatos, 1998, candidato à reeleição como governador de Minas], não houve nenhuma referência a qualquer tentativa de compra de apoio político ao governo, em nenhuma casa parlamentar. O ex-governador e hoje deputado tucano Eduardo Azeredo é o principal réu do chamado "mensalão mineiro", no qual também figura o ex- ministro do Turismo de Lula Walfrido Mares Guia (Fotos: Agência Brasil :: Rafael Neddermeyer & Sergio Lima / Folha Imagem) E a compra de apoio parlamentar é o que qualifica e torna incomparavelmente mais grave o crime do lulalato. O apodo “mensalão mineiro” ou “mensalão tucano” não passa de uma manobra dos petistas – que construíram a tese do caixa dois e do crime eleitoral – para equiparar crimes totalmente diferentes. Uma tentativa de incutir na mente do povo a ideia de que ambos não passaram da mesma coisa, e que, assim, o mensalão foi “apenas” um crimezinho eleitoral, tal como o outro. E a mídia – grande parte dela sem se dar conta das intenções ocultas – aderiu, gostosamente, à manobra e acabou por dar a ambos os crimes – crimes, note bem – a mesma conotação. Volto a repetir: qualquer crime deve ser punido – acho, até que os de natureza eleitoral deveriam ser tratados pela lei com rigor maior do que previsto na atual legislação, pois distorcem o resultado das eleições. Mas o caso do mensalão traduz atentado à democracia e à República de gravidade só comparável à de um verdadeiro golpe de Estado. Equiparar ambos, ainda de apenas dando o mesmo “apelido”, acaba por fazer o jogo dos inimigos da democracia e dos candidatos a tiranete… Nunca me conformei em ver setores da mídia abraçar, de forma tão cândida – alguns, outros não – uma meia-verdade, maliciosamente plantada, a qual vem acabando por ganhar a conotação de uma mentira inteira

A liberdade segundo Mises. (por R. Constantino)

Dia 29 de setembro de 1881 nascia Ludwig von Mises, um dos maiores expoentes da Escola Austríaca e defensores do liberalismo. Em sua homenagem, segue um texto que tenta resumir um pouco seus pensamentos políticos: A liberdade segundo Mises “O governo é o garantidor da liberdade e é compatível com a liberdade somente se seu alcance for adequadamente restrito à preservação do que é chamado de liberdade econômica.” (Mises) Em sua obra-prima Ação Humana, o economista austríaco Ludwig von Mises define seu conceito de liberdade, assim como as funções adequadas para o governo numa sociedade livre. Mises foi um dos grandes defensores do livre mercado, argumentando sempre com base nos resultados deste modelo. A civilização conseguiu sair da barbárie e atingir razoável grau de prosperidade graças ao sistema capitalista, com base na propriedade privada e divisão de trabalho. Preservar estes pilares foi o grande objetivo de Mises. Para ele, o conceito de liberdade faz sentido somente quando falamos de relações inter-humanas. A liberdade “natural” de um Robinson Crusoé isolado na ilha não fazia muito sentido para Mises, pois tal “liberdade” duraria apenas até ele encontrar um concorrente mais forte em seu caminho. Na fria biologia, o mais forte está com a razão. Neste sentido, Mises pensava que o homem primitivo não nasceu livre. Sua liberdade teve que ser conquistada. O homem é livre, segundo Mises, quando ele pode escolher os fins e os meios que serão usados para atingir tais fins. Entretanto, para preservar esta própria liberdade, os indivíduos devem estar protegidos contra a tirania dos mais fortes ou espertos. Uma instituição é necessária para evitar os comportamentos antissociais de alguns elementos. A paz só seria alcançada pelo estabelecimento de um sistema no qual o poder de usar a violência fosse monopolizado por um aparato social de coerção, regulado por determinadas regras. Este aparato é normalmente chamado de governo. Desde que o governo fique restrito ao uso da violência ou ameaça de violência para a supressão e prevenção de ações antissociais, então prevalece razoavelmente o que podemos chamar de liberdade. O poder de escolha dos indivíduos continua valendo. E mesmo sem um governo impondo as leis, o indivíduo não poderia ter ao mesmo tempo as vantagens derivadas da cooperação social e os prazeres de exercer livremente seus instintos animais de agressão. Não é possível ter e comer o bolo ao mesmo tempo. Usufruir da paz e dos incríveis benefícios da sociedade livre pressupõe abrir mão de certos prazeres. O benefício compensa, e muito! Mas, se o governo faz mais do que proteger as pessoas contra a violência ou a fraude por parte de indivíduos antissociais, ele reduz a esfera da liberdade individual. Desta forma, Mises define a liberdade como o estado em que cada indivíduo é livre para escolher, sem a restrição da violência do governo além da margem em que a lei da praxeologia restringiria de qualquer maneira. Os indivíduos são livres quando podem praticar suas trocas voluntárias, contando com o aparato do governo somente para impedir a agressão alheia. Mises acreditava que o alistamento obrigatório e a arrecadação de impostos não eram incompatíveis com esta visão de liberdade. Em um mundo repleto de agressores em potencial, o pacifismo integral e incondicional seria sinônimo da rendição aos opressores mais nefastos. Aqueles que desejam continuar livres devem estar dispostos a lutar pela liberdade contra os agressores. Mas, como as tentativas isoladas de reação por parte de cada indivíduo estariam fadadas ao fracasso, a única forma viável de organizar a resistência, para Mises, seria por meio do governo. A função essencial do governo é a defesa do sistema social livre contra criminosos internos e também inimigos externos. Mises achava que os opositores desta função do governo eram ingênuos e, sem saber, estavam ajudando aqueles que desejam a escravidão de todos. Para manter o aparato governamental, com cortes, polícia, prisões e forças armadas, Mises considerava inevitável e legítimo o uso dos impostos. Segundo ele, isso não seria incompatível com uma sociedade livre. Mas, caso o governo fosse além desta função, expandindo seu poder ad libitum, então a economia de mercado seria abolida e substituída pelo totalitarismo socialista. Para prevenir este risco, torna-se necessário limitar o poder do governo. É para esta finalidade que temos as constituições, as leis, os direitos dos cidadãos. E esse é o significado de todas as lutas que os homens têm realizado pela liberdade. Vigiar o vigia é fundamental para preservar a liberdade. Porém, nenhum desses mecanismos é realmente eficiente sem o arcabouço da opinião pública por trás. Mises depositava enorme importância no poder das idéias. E sabia que os inimigos da liberdade também, tanto que sempre buscaram reverter o sentido das palavras como tática para confundir. Reconhecendo o valor que o Ocidente dá ao conceito de liberdade, os advogados do totalitarismo deturparam seu sentido. A liberdade de imprensa, por exemplo, passa a ser a liberdade do governo decidir o que deve ou não ser publicado, o que é o oposto da verdadeira liberdade. Já a liberdade individual seria a oportunidade de fazer as coisas “certas”, sendo que estas coisas seriam definidas, naturalmente, por aqueles autoritários que se arrogam o direito de dizer o que é certo para os outros. Em suma, a onipotência do governo seria a liberdade para estas pessoas. E para Mises, seria inútil rebater a estas táticas com o argumento de direito “natural” de propriedade, se as outras pessoas considerarem como “natural” o direito a uma renda igualitária, por exemplo. Tais disputas, segundo Mises, não podem ser resolvidas de forma simples. Ele sempre preferiu o argumento utilitarista, mostrando quais resultados certas ações humanas implicam, sem fazer julgamento de valor. O que ele fez, com maestria, foi demonstrar que o socialismo levaria ao término do progresso da civilização, ou, melhor dizendo, dela mesma!